Cerca de 30 mil pessoas acompanharam o velório do ex-presidente Itamar Franco, em Juiz de Fora. Os ex-presidentes Sarney, Lula e Collor compareceram. Ilustres e anônimos destacaram a importância de Itamar para o sucesso do Plano Real. A presidente Dilma vai hoje à cremação
Ex-presidentes se reúnem em velório de Itamar
Lula, Collor e Sarney estiveram entre as 30 mil pessoas que se despediram do político cujo governo iniciou estabilidade
Fábio Brisolla
JUIZ DE FORA (MG) O velório de Itamar Franco reuniu o primeiro escalão da política brasileira. Diante do caixão de Itamar estiveram os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, José Sarney e Fernando Collor. Eles chegaram ao mesmo tempo, no início da tarde de ontem. Lula veio no primeiro carro e foi ovacionado pelo público concentrado em frente à Câmara dos Vereadores de Juiz de Fora, onde a cerimônia foi realizada. Depois, surgiu Collor, ao lado de Renan Calheiros, ambos vaiados. O vice-presidente Michel Temer representou a presidente Dilma Rousseff.
Até as 18h, segundo a Polícia Militar, cerca de 30 mil pessoas entraram na fila para dar o último adeus a Itamar. As duas filhas, Giorgiana e Fabiana, acompanharam a movimentação.
Temer ressaltou a importância do ex-presidente no processo que resultou na estabilidade da economia brasileira:
- Itamar Franco deixa um exemplo de dignidade, de coerência ao longo da vida, especialmente em matérias administrativa e política. Foi responsável por um dos atos mais importantes da História do país, que trouxe estabilidade em relação à inflação. Foi capaz e teve a coragem de lançar o Plano Real, que manteve o Brasil nos trilhos.
Enquanto Temer concedia entrevista diante da escadaria da Câmara, Collor e Sarney saíram sem dar entrevistas. Ao avistar os dois senadores, porém, o público reagiu com vaias e gritos de "Pega ladrão!". Minutos depois, Lula saiu pelo mesmo caminho. Foi aplaudido.
Visivelmente emocionado, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) falou com carinho de sua experiência ao lado de Itamar:
- Tratava-se de uma pessoa fantástica. Não há uma vírgula de algo que estivesse errado em seu governo e que ele não tenha tomado providências.
O senador relatou um episódio dos bastidores do governo. Após a saída de Collor, Itamar convocou uma reunião com líderes de todos os partidos e cogitou renunciar à Presidência caso fosse vontade da maioria.
- Ele disse que renunciaria ao cargo naquele momento se os líderes partidários julgassem que a melhor opção seria convocar nova eleição.
A presença de Collor foi vista com ironia por Simon.
- Não há no mundo dois pontos tão equidistantes como Itamar e Collor. Tirando o fato de eles falarem português, não há nada em comum entre eles.
Collor passou boa parte do velório, em silêncio, ao lado do senador Lindbergh Farias (PT - RJ), ex-líder estudantil que, na época, liderou movimento a favor do seu impeachment.
O senador Aécio Neves (PSDB - MG) não esteve no velório. Entretanto, na manhã de ontem, ele foi ao aeroporto da cidade para esperar o desembarque do avião que trouxe o corpo do ex-presidente.
- Fiz questão de receber, em solo mineiro, esse brasileiro que, como poucos, tanto honrou Minas Gerais. Itamar era singular. Uma ausência, uma lacuna que não será preenchida. Foi único no seu tempo. Sua retidão, sua dignidade pessoal, sua coragem em defender valores e princípios são um legado para as próximas gerações - afirmou Aécio.
O deputado Marco Maia (PT-RS), presidente da Câmara, comentou a presença de "ex-adversários ferrenhos" na homenagem a Itamar e reconheceu equívocos na oposição petista ao governo Itamar.
- Num momento de transição como aquele, era muito difícil para a esquerda imaginar que um pacote econômico pudesse produzir avanços como se notou depois com o advento do Plano Real.
O corpo do ex-presidente segue hoje para o Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro, em Belo Horizonte, e depois será cremado. A presidente Dilma vai à cerimônia.
FONTE: O GLOBO
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