As suspeitas de corrupção no Ministério dos Transportes expõem as dificuldades de uma Presidência amparada numa base política grande e heterogênea demais, de cujos efeitos Dilma se ressente não só no jogo pesado do Congresso, mas no ritmo indesejado das realizações de seu governo.
Até as pedras desconfiavam de que servidores da pasta cobravam propina para contratar as obras. Mas tudo que o Planalto não precisava agora era de outro escândalo.
O "Paloccigate" mal cicatrizou. O clima na coalizão está conflagrado. Quem se animou diante da chance de lucrar com a troca na Casa Civil saiu frustrado: a reacomodação, para variar, privilegiou o PT.
Com a decisão de rifar imediatamente quatro funcionários da cúpula dos Transportes, o governo tenta não sangrar no noticiário -erro cometido no caso Palocci.
Mas a solução é definitiva para Dilma? Isso são outros quinhentos.
Primeiro, é improvável que o desenrolar do escândalo poupe o ministro Alfredo Nascimento, há pouco chamado de "inepto" e "desonesto" por um governador da base.
Segundo, o PR, partido que controla hoje o ministério, pode não ter o tamanho nem a capilaridade do PMDB, mas está, faz tempo, ao lado do PT. Foi parceiro de largada no mensalão. É a única sigla que hoje os petistas dão como certa na chapa à Prefeitura de São Paulo.
Desalojar o PR significará contrariar um aliado orgânico, abrir uma guerra fratricida pelo "arsenal" dos Transportes e aumentar a legião de descontentes em um Congresso que já coleciona ameaças suficientes -royalties do petróleo, piso salarial para policiais, metas de gasto público com saúde etc.
Eis o dilema de Dilma: ou aproveita o escândalo para lipoaspirar a coalizão, limpar de vez o ministério e assumir a microgerência das estradas federais e outras obras, ou recua, contemporiza com o PR e empurra o jogo com a barriga.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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