O afastamento de assessores da cúpula do Ministério dos Transportes após denúncias de irregularidades abriu nova crise no governo, agora com o PR. A presidente Dilma determinou que os afastados, inclusive o diretor do Dnit, não reassumam. O ministro Alfredo Nascimento pode ser o próximo a cair
Sinal amarelo nos Transportes
Denúncias de corrupção na pasta ameaçam cargo do ministro Alfredo Nascimento
Fábio Fabrini, Roberto Maltchik e Cristiane Jungblut
Combalido com o afastamento de dois assessores de confiança do gabinete, envolvidos em suspeitas de superfaturamento bilionário em obras e cobrança de propina no Dnit, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, está com o cargo por um fio e, hoje, pode ter seu "dia D" num encontro com a presidente Dilma Rousseff. Segundo fontes do Planalto, a presidente decidiu mantê-lo, por ora, porque nenhuma prova cabal de seu envolvimento no suposto esquema ainda veio à tona. A demissão poderia aprofundar a crise com outro partido aliado, o PR, ao qual Nascimento é filiado.
- O que ainda sustenta o Nascimento é o PR . Ele só não caiu junto com os outros quatro porque não tem uma prova cabal contra ele - disse um ministro que acompanha o caso.
Nascimento tinha encontro agendado com Dilma amanhã, mas sua situação se agravou com a publicação de denúncias que a presidente já conhecia, e os dois devem conversar ainda hoje. No fim de semana, ele foi chamado, às pressas, a Brasília.
Dilma realmente se queixou de preços
No sábado, conversou com Dilma por telefone, quando ela determinou o afastamento de seu chefe de gabinete, Mauro Barbosa, o assessor do ministério Luiz Tito Bonvini, o diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, e o presidente da estatal Valec, José Francisco das Neves, o Juquinha, ligado ao deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), secretário geral do partido que renunciou ao mandado para não ser cassado no mensalão.
Um ministro ouvido pelo GLOBO informou que o afastamento é definitivo e que os quatro não devem retornar aos cargos. Esse interlocutor do Planalto disse que Dilma tem uma lista detalhada das obras, dos aditivos feitos e dos problemas nos preços que levaram o ministro a pedir um aditivo de cerca de R$10 bilhões para as obras do PAC. A lista foi mostrada por Dilma na reunião que teve com Nascimento. Fontes do Planalto confirmaram que Dilma se queixou dos preços na reunião, como mostrou a "Veja".
Além de desagradar ao PR , outra dificuldade de Dilma para demitir Nascimento é que o senador João Pedro (PT-AM), seu suplente, é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ontem, o PR tentou reduzir a pressão sobre suas principais figuras. O secretário-geral Valdemar Costa Neto divulgou nota tentando desvincular o PR dos investigados e afirmando que o partido apoia as investigações. Valdemar disse que "ninguém está autorizado a discutir qualquer contrato público, em nenhum lugar, em nome do PR. Portanto, caso haja esta ocorrência, tal conduta é criminosa e não diz respeito ao PR".
Valdemar é ligado ao diretor-presidente da Valec, José Francisco das Neves, um dos afastados por Dilma. Já o senador Blairo Maggi (PR-MT) é ligado ao diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot. Na nota, Valdemar avisou que processará a "Veja": "A Executiva Nacional do PR apoia a decisão que instaurou sindicância para, no menor prazo possível, ficar provada a inocência dos republicanos afastados, lhes garantindo pleno direito de defesa."
A insatisfação não é apenas no Planalto. A oposição disse que o afastamento temporário de quatro representantes da cúpula dos Transportes não é "suficiente" e pretende convocar, no Senado, o ministro Alfredo Nascimento e o diretor-presidente do Dnit, Luiz Antonio Pagot, afastado. No Senado, há chances da retomada de uma antiga proposta do PSDB de abertura de CPI, já que aliados do governo poderiam aderir ao pedido. Na Câmara, o PSDB quer convocar o ministro da Controladoria Geral da União, Jorge Hage. E discutir a abertura de CPI.
Interlocutores de Dilma deixavam claro que o afastamento foi uma forma amena de dispensar, em definitivo, os auxiliares do ministro. Dilma não estaria disposta a reincorporá-los. A presidente já estava incomodada com os rumores de superfaturamento em obras de rodovias e ferrovias.
- A reação enérgica e imediata de Dilma é uma sinalização de que o estilo Lula já passou - diz um ministro.
De acordo com a "Veja", em reunião no dia 24 com a cúpula dos Transportes, a presidente Dilma reclamou dos preços "inflados" de obras, que estariam inviabilizando seu governo. Em troca de sucesso em licitações, garantia de superfaturamento e aditivos contratuais, nomes do partido cobrariam de 4% a 5% do valor das faturas recebidas.
O líder do PR no Senado, Magno Malta (ES), defendeu, no velório do ex-presidente Itamar Franco (PPS-MG), rigor nas apurações.
- Quem cometeu o crime tem que pagar pelo que cometeu. Tem que investigar tudo. Espero que entrem com os encaminhamentos necessários para que os responsáveis respondam de forma contundente à sociedade.
Na oposição, o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), disse que apresentará hoje requerimento junto à Comissão de Infraestrutura, pedindo a convocação de Nascimento e de Pagot. O tucano irá ver se é possível ressuscitar o pedido de abertura de uma CPI do Dnit:
- O afastamento não é suficiente. É tardio, porque as denúncias sobre o Dnit são antigas, há até uma CPI proposta no Senado. Vamos pedir a retomada dela. E vou requerer a convocação do ministro e de Pagot.
Na Câmara, o líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP), pedirá investigações do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União (TCU).
- Os fatos são graves. O afastamento foi correto, mas há necessidade de investigações mais profundas. Estamos avaliando se é o caso de pedir CPI - disse Duarte Nogueira.
FONTE: O GLOBO
Um comentário:
Sem querer ser preconceituoso, e sem qualquer interesse em ofender qualquer classe eu me pergunto, será que a aprovação de apenas 12% de profissionais formados em nossas faculdades de direito no exame da OAB reflete-se na mesma proporção a profissionais de outras áreas? Principalmente em profissões cujo o acesso, via exame vestibular, não exija grande competência de conhecimentos. Será que os atuais profissionais de jornalismo não tem sensibilidade suficiente para entender a atual crise no DNIT, ou apenas se acovardam em nome de um empreguinho e calam-se diante de aberrações tipo a que segue.
Aparentemente o que houve no DENIT foi uma dissidência clandestina, ou seja os funcionários que estão sendo demitidos formaram uma subquadrilha, esta quadrilha estava a receber propinas que não lhes eram devidas, Pagot ficou indignado, uma vez que as receitas oriundas de suborno e corrupção que lhes (e a seu partido) eram destinadas estavam a ser subtraídas por uma corja de ladões que não respeita seus parceiros, ele ameaçou denunciar aquilo que todos os cidadãos atentos já sabem? (quantos cidadãos jornalistas são atentos?)
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