A entrada de José Serra na disputa da prefeitura de São Paulo – surpreendendo o ex-presidente Lula, privando-o da aliança com o prefeito Gilberto Kassab como melhor instrumento para a quebra das limitações esquerdistas do PT no eleitorado da capital paulista e, assim, complicando seriamente o uso dessa disputa como etapa para conquistar o governo do estado com uma derrota de Geraldo Alckmin em 2014, mas não o levando a desistir do objetivo imediato e do posterior, ao contrário buscando reforçá-los a qualquer custo, como o da composição com Paulo Maluf – a perspectiva da polarização entre Serra e o lulista Fernando Haddad constituiu a novidade mais significativa do desencadeamento no começo do ano das articulações políticas para as eleições municipais de 2012. Configurando o pleito paulistano como o de dimensão mais nacionalizada em face do confronto direto e central do ex-presidente com a maior cidadela dos tucanos.
Essa configuração sofreu uma mudança expressiva ao longo da semana passada com a ruptura havida em Belo Horizonte entre o PT e o prefeito do PSB e candidato à reeleição, Márcio Lacerda. Seguida pelo lançamento da candidatura do petista Patrus Ananias, ex-prefeito e ex-ministro. Que foi promovida pessoalmente pela presidente Dilma Roussef. E gerou um realinhamento partidário que a colocou frente à frente com seu provável adversário no pleito presidencial de 2014 – o ex-governador de Minas e senador do PSDB, Aécio Neves.
Tal alinhamento implicou a renúncia do candidato do PMDB, Leonardo Quintão (que quatro anos atrás disputou o 2º turno com Márcio Lacerda) para apoio dos peemedebistas ao candidato do PT. Negociação da qual participou o presidente do partido, Michel Temer, e pode ter incluído a promessa de um ministério para peemedebista mineiro. E que envolveu também o deslocamento de um polo a outro do ultrapragmático PSD, cuja direção estadual, estreitamente vinculada ao prefeito Lacerda e ao governador tucano Antônio Anastasia, sofreu fulminante intervenção determinada pelo seu presidente nacional, Gilberto Kassab (atendendo a pedido da presidente Dilma), sob veementes protestos da 1ª vice-presidente, senadora de Mato Grosso Katia Abreu, e do 2º vice, o mineiro Roberto Brant, que se desfiliou da legenda. No novo quadro, Márcio Lacerda e Aécio Neves terão de enfrentar na campanha, além de uma aliança que vai do PMDB ao PC do B, a forte presença da presidente Dilma (que, no final de junho, participando de eventos em Belo Horizonte classificou Lacerda como “o melhor prefeito do Brasil”).
Por outro lado, a relevante dimensão nacional ganha pela disputa em Belo Horizonte foi facilitada por um similar e antecedente processo de realinhamento político ocorrido no Nordeste: o fim da aliança entre o PSB e o PT em torno de candidatos deste a prefeitos do Recife e Fortaleza. Num contexto em que os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente pessebista, e Cid Gomes, do Ceará, tomaram as decisões de lançar candidaturas próprias do partido, rejeitando subordinação ao radicalismo da luta interna entre correntes petistas para a escolha dos candidatos (que no Recife culminou numa intervenção do diretório nacional). Decisões justificadas, ademais, pelo desgaste de precárias administrações realizadas pelos prefeitos do PT e pela avaliação da conveniência de afirmação da identidade e da independência do PSB em relação ao petismo.
Avaliação que certamente levou também em conta os crescentes problemas da economia e possível cálculo do desgaste que o julgamento do mensalão poderá provocar em alianças encabeçadas por petistas nas capitais e maiores cidades do país. Confrontados por agressivas reações dos dirigentes locais e nacionais do PT, os dois governadores resolveram respaldar o correligionário prefeito de Belo Horizonte em sua postura de não aceitar o controle da campanha e de provável segundo mandato pelos petistas, bem como na decisão dele de reforço dos laços com Aécio Neves.
O conjunto das posturas assumidas por esses atores políticos do Nordeste e de Minas pode ademais indicar uma reavaliação – para alguns graus abaixo da feita no início deste ano – do peso do lulopetismo e do governo federal nas eleições municipais à frente.
Jarbas de Holanda é jornalista
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