quinta-feira, 12 de julho de 2012

Engasgou:: Celso Ming

O tombo inesperado do consumo nacional em maio, conjugado com a forte expansão do calote, parece mostrar que a atual estratégia de política econômica do governo, baseada no estímulo ao consumo, está fracassando. O problema é que a opção é puxar pelo investimento, algo que o governo não vem conseguindo fazer.

O consumo em maio – um dos meses nobres para as vendas de varejo, por incluir o Dia das Mães – caiu 0,8% em relação a abril, um mês carregado de feriados e, portanto, em princípio, comercialmente mais fraco.

Ainda é cedo para concluir que esse desempenho ruim aponta para uma tendência firme de desempenho também medíocre no segmento que até agora vinha bem. No entanto, esse recuo vem acompanhado de prolongada estagnação da indústria. E, agora se sabe, o indicador da Serasa Experian indica uma alta na inadimplência de nada menos que 19,1% no primeiro semestre deste ano em relação ao primeiro semestre do ano passado.

Na média, analisa a Serasa, "cada inadimplente carrega quatro dívidas não honradas e 60% dos inadimplentes têm dívidas acima de 100% da renda".

Essas agravantes sugerem que a expansão do crédito, instrumento fortemente acionado pelo governo para empurrar o consumo nessa conjuntura de crise global, esbarra em pronunciadas limitações técnicas. O governo Dilma já se deu conta de que os nove pacotes anticíclicos, destinados a estimular as vendas, não vêm reativando a produção e podem já não ter capacidade para puxar a demanda. Por isso, entendeu que devesse atuar na ponta dos investimentos. A Petrobrás está sendo cobrada para tocar mais agressivamente seu programa de negócios e o próprio governo, informa a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, se prepara para acionar os investimentos.

O problema é que esta administração vem dando demonstrações seguidas de deficiência gerencial. Como o jornalista Rolf Kuntz mostrou na sua coluna desta quarta-feira no Estado, os desembolsos do Tesouro no primeiro semestre deste ano corresponderam a apenas 21% do total previsto no Orçamento.

O PAC continua empacado, excessivamente concentrado em programas habitacionais. E a Petrobrás, de quem se esperam investimentos de US$ 236,5 bilhões nos próximos quatro anos, reconhecidamente vem se apresentando como contumaz furadora de cronogramas. Afora isso, o governo vem sendo incapaz de dar agilidade à concessão de licenciamentos ambientais.

Esses e tantos outros indicadores mostram que sobram dúvidas sobre a eficiência de uma provável mudança de ênfase nas políticas de estímulo, do consumo para o investimento.

O biólogo francês do século 19 Jean Lamarck se notabilizou por enunciar a tese evolucionista segundo a qual "a necessidade cria o órgão". Pois o governo Dilma enfrenta inadiável necessidade de mostrar serviço na área econômica e ainda tem tempo de virar o jogo adverso. Quem sabe essa cobrança possa ajudar a mudar a direção e, sobretudo, a qualidade de sua administração.

Confira

Os juros básicos (Selic) de 8,0% ao ano constituem o novo piso histórico. O gráfico mostra a trajetória da política monetária, incluído o corte de 0,5 ponto porcentual, decidido nesta quarta-feira.

Sem surpresa. Nenhuma surpresa no passo dado nesta quarta pelo Copom. Se o consumo baquear, como os novos números do IBGE podem indicar, o Banco Central poderá afrouxar ainda mais sua política monetária. O comunicado oficial no início da noite não deu indicações de mudanças futuras de ritmo. É preciso esperar para a divulgação da Ata do Copom, na próxima quinta-feira, para ter melhor indicação.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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