São também dois
equívocos. Se deixou de haver demanda da Petrobrás por reajustes dos
combustíveis, estamos diante de uma novidade. Ficam, assim, todos informados de
que, durante anos, fizeram um enorme teatro: o ex-presidente José Sergio
Gabrielli; a atual, Graça Foster; e o diretor de Finanças e de Relações com
Investidores, Almir Barbassa.
Todos eles fizeram
inúmeras declarações públicas de que a Petrobrás precisa do reajuste dos preços
para tocar seus investimentos. Ao longo deste ano, a diretoria da Petrobrás
reconheceu uma diferença de pelo menos 15% nos preços dos combustíveis. Ou
seja, advertiu para "o desalinhamento entre preços internos e externos e
para seu impacto sobre seu plano de negócios".
Em nenhuma economia
saudável o critério para a formação de preços é a situação de caixa da empresa.
Numa economia aberta, como a do Brasil, quando não obedecem estritamente à lei
da oferta e da procura, os preços de bens ou serviços geram distorções.
Uma das distorções
provocadas pelo atraso nos reajustes dos combustíveis é o salto do consumo de
gasolina no Brasil, de cerca de 22% em dois anos. Outra distorção é o
aparecimento de um subsídio. A Petrobrás está revendendo volumes cada vez mais
altos de gasolina importada no mercado interno pagando por ela mais do que
recebe do consumidor. Quanto mais alta a cotação do dólar, maior a conta do
consumidor paga pela Petrobrás.
Mas as distorções não
se restringem aos negócios da Petrobrás. A própria presidente Graça Foster, em
inúmeras ocasiões, alertou para o esvaziamento do setor do etanol causado pela
ausência de reajustes nos preços de alguns derivados de petróleo, na medida em
que o consumidor passou a optar mais por gasolina. O resultado mais notório é a
queda da produção do etanol, importado para suprir o consumo interno.
Caso, de uma hora
para outra, os diretores da Petrobrás tenham decidido negar o que tantas vezes
sustentaram e passem a afinar seu discurso com o do ministro Mantega é porque
foram devidamente enquadrados, o que também diz muita coisa.
Se os preços deveriam
sempre seguir o princípio sugerido pelo ministro, qualquer empresa com
premência de caixa teria obrigação de elevar seus preços para se safar da
bancarrota. Ou, então, toda empresa bem-sucedida teria de derrubá-los ou de
mantê-los estáveis, porque não precisaria dos reajustes. De todo modo, falta
saber qual é o critério dos preços dos combustíveis da Petrobrás.
O que o ministro
Mantega não quer admitir é que está usando o caixa da Petrobrás para fazer
política de preços. Em vez de se valer da política fiscal (manejo de receitas e
despesas do setor público) ou da política monetária (política de juros),
utiliza o caixa da empresa para conter a inflação – o que gera outras
distorções. Ou seja, o governo Dilma envereda pelo mesmo desvio populista
escolhido pela administração da presidente Cristina Kirchner, que está
afundando a economia da Argentina.
Dólar em alta. Como
mostra o gráfico, esta quarta foi um dia de alta relativamente forte. Desta
vez, foi atribuída às declarações da presidente Dilma ao jornal Valor (dia 20),
de que o governo está interessado em puxar ainda mais as cotações para cima. De
qualquer modo, em todo final de ano a procura por moeda estrangeira tende a ser
maior, não só porque as empresas se antecipam à remessa de lucros, mas também
porque sobe a demanda por turismo no exterior.
Fonte: O Estado de S.
Paulo
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