Como bandeira, a
ideia é simpática. Tem "grande apelo populista", como diz o
presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski. Mas,
se a intenção do governo for - de fato - tornar obrigatório o investimento em
educação (por Estados, municípios e a própria União) de todo o dinheiro dos
royalties e participações especiais resultantes da exploração do petróleo do
mar, a chiadeira vai ser grande. Prefeitos e governadores não querem engessar o
dinheiro. E tem forte demanda do setor da saúde.
Dilma pode sancionar
o projeto do Congresso (que reduz a parte dos Estados e municípios produtores
na renda do petróleo) e deixar que Rio de Janeiro e Espírito Santo recorram ao
Supremo Tribunal Federal (STF). Podem ser anos de incerteza. Ela pode também
sancionar uma parte - a que trata do futuro, da divisão dos royalties do
petróleo do pré-sal (explorado pelo novo modelo de partilha de produção) - e
vetar tudo o que relativo à arrecadação dos campos já explorados atualmente. É
o que esperam os ditos produtores.
Planalto opera mal
desde 2009 e agora tem nova etapa
Se fizer isso, a
presidente desagrada pelo menos 24 dos 27 Estados da Federação (São Paulo em
geral fica em cima do muro) e milhares de municípios. Essas unidades continuam
mobilizadas e já mostraram força. Desde 2009, seus representantes impõem
sucessivas derrotas ao governo nesse assunto. Dilma estaria sujeita a ter seu
veto derrubado, embora a prática seja raríssima no Legislativo (dois terços de
cada Casa).
Desde o início da
discussão sobre o marco regulatório da exploração do petróleo do pré-sal,
deputados e senadores têm deixado claro que a questão dos royalties está
politicamente decidida: o país não aceita mais que o petróleo extraído do mar
beneficie apenas Estados cujos litorais são voltados a esses campos,
principalmente Rio e Espírito Santo. Não aceitam sequer que eles sejam chamados
de produtores, e sim "confrontantes".
Pelas regras atuais,
fixadas em lei de 1997, Estados e municípios produtores ficam com cerca de 60%
dos royalties e 50% da participação especial. À União cabem 30% dos royalties e
os outros 50% da PE. Para os demais, são destinados menos de 10% dos royalties
e nada da PE. Em 2010, esses recursos chegaram a R$ 22 bilhões. Rio e seus
municípios ficaram com 4,3 bilhões de royalties e R$ 5,5 bilhões de PE. Com a
descoberta do pré-sal, Vital calcula, em seu relatório, que em 2020 essa verba
chegue a R$ 60 bilhões. Mas os não produtores não querem esperar o futuro.
O governo do Rio, com
o governador Sérgio Cabral (PMDB), à frente, argumenta que o Estado vai
quebrar. Perderia em 2013 cerca de R$ 4,6 bilhões. Até 2020, a perda estimada é
de 77 bilhões. Cabral diz que a organização da Copa do Mundo e da Olimpíada
fica ameaçada. Além disso, a dívida do Estado com a União e a previdência dos
servidores são vinculadas à renda do petróleo.
Uma passeata está
sendo preparada para o dia 26. O governador do Espírito Santo, Renato
Casagrande (PSB), que calcula sua perda em cerca de R$ 1 bilhão por ano, a
partir de 2013, participará do ato no Rio. Diz que, se o projeto for
sancionado, vai desorganizar a economia, obras serão paralisadas e o plano de
investimento terá de ser revisto. Na sexta-feira, será reativado um comitê em
defesa ao Espírito Santo.
Interlocutores de
Dilma afirmam que ela não tomou decisão sobre o projeto. Os sinais são lidos de
acordo com os interesses dos ouvintes. Para Rio e Espírito Santo, a presidente
já deixou claro, em discurso em evento para os próprios prefeitos, que não quer
alterar o passado (ou seja, a distribuição do dinheiro arrecadado nos campos já
licitados).
Para representantes
de Estados que hoje praticamente nada recebem, como o senador Wellington Dias
(PT-PI), ex-governador e autor da proposta original que resultou no projeto
aprovado pelo Senado e pela Câmara, o texto não pode ser considerado
inconstitucional por não alterar os termos dos contratos firmados entre União e
empresas.
O projeto que aprova
o Plano Nacional da Educação (PNE) - que fixa diretrizes para o setor nos
próximos dez anos - saiu da Câmara destinando 50% dos royalties para a
educação, como forma de se atingir a meta de 10% do Produto Interno Bruto
(PIB).
O líder do governo no
Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), relator da proposta na Comissão de
Assuntos Econômicos (CAE), quer discutir a ampliação desse percentual para
100%, atendendo à determinação da presidente, reafirmada em entrevista ao Valor
desta semana. As primeiras audiências públicas, com o ministro da Educação,
Aloizio Mercadante, pela manhã, e várias entidades do setor, à tarde, serão
realizadas no dia 29.
O PNE já causa
fissuras. Roberto Requião (PMDB-PR), presidente da Comissão de Educação,
Cultura e Educação (CE), diz que não caberia à CAE chamar Mercadante, pois a
discussão do mérito é prerrogativa de sua comissão. O PNE, para ele, tem que
ter um "planejamento operacional" para a educação e não ter como meta
principal a destinação de recursos.
"Esse percentual
de 10% do PIB não é impositivo. Pode até ficar. É bandeira sindical. O PT está
querendo empunhar a bandeira [de mais recursos para educação]. Estão fazendo
uma comissão de educação paralela", diz. Ele até concorda com a hipótese
de destinar todo o royalty para educação, desde que o projeto seja factível.
Quando estiver em suas mãos, novo texto pode ser feito.
O STF pode até manter
o direito dos produtores. Nada que impeça o Congresso de aprovar uma emenda constitucional
mudando tudo. Pelas evidências que se acumulam, esse é um dos assuntos em torno
dos quais o Congresso não está dividido: está majoritariamente decidido a mudar
o quadro atual. De um jeito ou de outro.
Fonte: Valor Econômico
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