A censura num país afeta a liberdade de alguém que mora em outro, bem distante. As mudanças tecnológicas mudam a educação, criando o movimento de educação em massa, online, mas isso torna ainda mais importante a presença física de grandes universidades além de suas fronteiras. As ações afirmativas são fundamentais para criar a diversidade no ambiente universitário.
Essas são algumas opiniões do presidente da Universidade de Columbia, Lee C. Bollinger, que passou pelo Rio na última semana com um grupo de professores promovendo debates e reuniões na inauguração de um Columbia Global Center, o primeiro no Brasil. O centro será dirigido por Thomas Trebat.
A globalização e as comunicações deixaram o mundo mais interdependente, na opinião dele, tornando obrigatório para uma grande universidade conhecer melhor os países, combater a própria ignorância. Columbia já instalou oito centros desse tipo.
Ele não acha que em plena era do MOOC - sigla em inglês para Cursos Abertos Online em Massa - seja contraditório vir fisicamente para o Rio, por exemplo. Bollinger acredita que é preciso, hoje, interação, seja física, seja online, cada vez maior:
- Tudo isso (MOOC) surgiu no último ano. De repente, as pessoas começaram a falar disso, e professores que tinham 100 alunos passaram a ter 300 mil alunos. É um mundo muito novo.
Bollinger é advogado e especialista na primeira emenda da Constituição americana, a que trata da liberdade de expressão. Diz que a legislação do país é fruto de intenso debate sobre isso ao longo do último século. Vale lembrar o caso dos anos 1970 em que os jornais "The New York Times" e "Washington Post" publicaram os papéis do Pentágono obre a guerra do Vietnã, apesar de o governo dizer que era ilegal. A Suprema Corte considerou constitucional a publicação. Foi um caso paradigmático.
Agora, ele acha que a globalização alterou o sentido e escopo do que seja essa liberdade.
- O que acontece no Brasil, em termos de liberdade de imprensa, é extremamente importante para os EUA e vice-versa. O que acontece na China é importante para Brasil e Europa. É o mercado global de ideias. Censura em qualquer parte do mundo significa censura em todos os lugares. Posso falar uma coisa nos EUA e ser processado em outro país por violar a lei de lá - diz Bollinger.
O presidente de Columbia é californiano, criado em Oregon, e saiu pela primeira vez do país, em 1963, para passar quatro meses em Belo Horizonte. Já foi duas vezes à Suprema Corte, em ações que levaram seu nome, em defesa das ações afirmativas. Defensor da primeira emenda, entrou em controvérsia em 2010 quando propôs subsídios governamentais à imprensa.
Na entrevista que fiz com ele na Globonews, Bollinger disse que o modelo de negócio das empresas jornalísticas no mundo está mudando muito e há fortes empresas que são estatais ou têm subsídios. Num debate na quarta-feira de manhã, ele disse que os números de faturamento das grandes empresas jornalísticas têm sido cada vez menores.
Sobre as ações afirmativas, disse que elas fizeram muito bem aos Estados Unidos, ao ambiente universitário e à própria sociedade americana:
- Era preciso trazer grupos que sofreram discriminação, principalmente afro-americanos, para dentro das universidades. Muitas usaram o critério de raça nos seus processos seletivos, e nós (ele era da Universidade de Michigan) fomos processados. Fomos à Suprema Corte e vencemos. Em junho, haverá outro julgamento. Espero que não mude.
Neste mundo diverso, interconectado, em mudança e perturbador, quanto mais troca de informações houver, melhor. Esse foi o sentido da visita de um grupo de Columbia ao Rio, entre eles professores que foram às favelas pacificadas visitar escolas públicas.
Fonte: O Globo
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