Dilma desembarca em Pernambuco amanhã em meio a uma guerra fria entre PT e PSB por conta do projeto presidencial de Eduardo
Bruna Serra
Se publicamente a presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador Eduardo Campos (PSB) se esforçam para transmitir a imagem de que a cordialidade pauta sua relação, mesmo diante de um processo sucessório que já caminha a pleno vapor, a visita presidencial de amanhã serve para esquentar ainda mais a guerra fria que já se desenha nos bastidores entre os aliados de ambos. Disputas estratégicas e conflitos indiretos, recheados de críticas de lado a lado, dão o tom do encontro que está deixando petistas e socialistas numa animosidade no melhor estilo americanos e soviéticos.
A tensão se estabeleceu de fato depois que a presidente cancelou a agenda de fevereiro em Pernambuco sob a justificativa de que teria quebrado o dedo do pé durante o Carnaval em Salvador. Sentindo-se desprestigiados, os socialistas que orbitam no entorno de Eduardo Campos começaram a tecer críticas ácidas à líder.
Além das ironias veladas, o governador também mudou a atitude em relação à presidente desde a última vez que ela esteve no Estado, há 13 meses. No último evento, ocorrido em fevereiro de 2012, Dilma e Eduardo ainda viviam uma relação de lua-de-mel herdada dos laços dele com o ex-presidente Lula. Entretanto, desde outubro do ano passado, o governador viu crescer a possibilidade de se lançar candidato a presidente e começou a alfinetar abertamente o modo como Dilma está conduzindo o Brasil, especialmente no que se refere à política econômica.
Uma de suas primeiras estocadas veio em dezembro quando ele afirmou que "temos que ganhar esse momento, na perspectiva do rumo estratégico. Esse (rumo) estratégico, às vezes, parece ao País que está faltando", disparou sem meias palavras. O líder socialista adotou também um mantra de que "é preciso ganhar 2013", que soa aos ouvidos petistas como uma certa ameaça à aliança.
Neste último mês, os alertas de Campos à presidente se intensificaram com declarações diárias. Na quinta-feira (14) ele chegou a dizer, durante jantar com o empresariado paulista: "dá para ser melhor. E não é uma ofensa para quem está aí você dizer que dá para ser melhor. Nós queremos mais. E que bom que queremos mais, né? Isso deveria desafiar as pessoas a fazer, a quebrar o velho costume e afirmar novos valores".
Além disso tem procurado associar a presidente ao PMDB, partido que critica sem receios. Destaca insistentemente a parceria dela com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e com o ex-presidente José Sarney. "O pacto político, ao meu ver, que vai ser capaz de fazer as mudanças continuarem, acelerarem, não será conservador, com as velhas políticas, com aquilo que incomoda a sociedade brasileira. O prazo (para consumá-lo) acho até que está passando, porque a gente precisa dessa renovação, mas não é possível dizer em qual data ela vai se dar. Eu já sinto os sinais do processo de renovação. Vi isso aqui em Pernambuco, fiz parte desse processo de renovação", afirmou em mais uma frase provocativa.
Em paralelo, os petistas de Pernambuco, que ainda não superaram a derrota de outubro passado, estão avaliando cada passo do "aliado-adversário". O clima a se estabelecer no palanque da presidente certamente será pautado pela tensão e pelo constrangimento. Os petistas estão se articulando para aparecer ao lado dela na foto, mas o governador não poderá ser descartado de uma posição de destaque, já que a situação daria margem para incrementar a versão de que os dois estão em disputa.
O discurso adotado por Eduardo Campos, dizem interlocutores, deve buscar a diplomacia. O governador não vai dar a largada no processo antes do final deste ano, quando planeja assumir publicamente sua condição de adversário da presidente. Dilma Roussef deve seguir a linha que está adotando de ignorar as pretensões de Campos e de deixar que os petista de São Paulo atuem para minar as pretensões do governador. Ela também deve destacar a preocupação do governo federal com a seca. Entre os petistas há a compreensão de que Campos está atuando para jogar nos ombros da gestão petista a responsabilidade por ações pontuais durante o período.
Outro que terá todos os holofotes voltados para si será o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, que apesar de ser indicação do PSB para o governo federal, está demonstrando grande sensibilidade com a reeleição de Dilma Rousseff. Qualquer que seja o discurso do ministro, precisará ser verbalizado com muito cuidado já que uma fala a mais poderá parecer campanha para um pré-candidato ou outro.
Visitas são crônicas de um afastamento
A ida de Dilma Rouseff ao Sertão marca a 4ª visita dela ao Estado. A cada passagem, sinais evidentes do gradativo afastamento de Eduardo. Nesta, os dois sequer almoçam juntos
Com a visita desta segunda-feira (25), a presidente da República terá passado por Pernambuco quatro vezes durante seus quatro anos de mandato. A primeira visita de Dilma ao Estado aconteceu em junho de 2011 quando ela cumpriu agenda em Caruaru durante o período junino.
Participou de um jantar na casa do prefeito da cidade, José Queiroz (PDT), e em seguida assistiu a apresentação de quadrilhas no Pátio do Forró. Na época, o governador Eduardo Campos (PSB) foi o responsável por divulgar toda a agenda da presidente.
De lá para cá muita coisa mudou na relação dos dois, mas só se estabeleceu um clima de animosidade depois que as críticas do socialista se intensificaram. Em sua segunda estada, Dilma Rousseff esteve inspecionando as obras de transposição do Rio São Francisco e à Ferrovia Transnordestina, além de participar de uma reunião no centro industrial da transposição, em Salgueiro.
Em sua última passagem pelo Estado, a presidente finalmente veio ao Recife. O prefeito ainda era o petista João da Costa. Em uma cerimônia repleta de aliados - inclusive o governador - ela entregou as casas do habitacional Via Mangue II chegando a posar para fotos da janela de um dos apartamentos entregues.
O Piauí foi o escolhido da presidente para dar a largada na sua campanha à reeleição em janeiro deste ano, quando protagonizou cenas típicas de corrida eleitoral, vestindo um gibão e usando um chapéu de couro. O primeiro episódio do périplo pela região em que conquistou mais de 65% do eleitorado em 2010 veio seguido de passagens por Alagoas e Paraíba.
Com a visita de amanhã a Pernambuco, Dilma Rousseff contemplará mais um Estado governado por um socialista: a Paraíba é administrada por Ricardo Coutinho (PSB) e o Piauí pelo socialista Wilson Martins. Entretanto, o clima amistoso não é bem o que espera Dilma Rousseff, já que o presidente nacional do PSB e governador do Estado, Eduardo Campos, se movimenta diariamente buscando se cacifar para disputar sua sucessão em 2014.
O cancelamento da agenda na capital foi sintomático, deixando evidente que Dilma não está à vontade com as cartadas do "aliado" . A gestora petista acompanharia as obras da BR-408 que estão sendo tocadas pelo governo do Estado e financiadas por meio de uma parceria entre as duas administrações.
O cerimonial do Palácio do Campo das Princesas divulgou que Campos ofereceria em sua residência um almoço para Dilma. Um dia depois, na última sexta-feira (22), os precursores de Brasília, responsáveis pela organização da visita presidencial, informaram que Dilma não passaria mais pelo Recife indo embora de Serra Talhada direto para o Rio de Janeiro, onde participa de uma homenagem às vítimas das enchentes: 60% dos cariocas votaram na presidente em 2010 e ela enfrenta hoje problemas de popularidade no Estado pelo veto aos Royalties.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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