Governo se esforça para manter aliado com vistas a segundo turno em 2014
Fernanda Krakovics
Desconforto. Aproximação de Campos com oposição tem irritado petistas
BRASÍLIA A relação entre o Palácio do Planalto e o PT com o virtual candidato do PSB à Presidência da República, o governador Eduardo Campos (PE), tornou-se um exercício de paciência e de tato político. Ao mesmo tempo em que se esforçam para manter um bom relacionamento com o socialista, na tentativa de preservá-lo na base aliada e contar com seu apoio em eventual segundo turno das eleições presidenciais do ano que vem, pessoas próximas da presidente Dilma Rousseff e petistas não têm escondido a irritação com as recentes estocadas de Campos no governo, e sua aproximação com setores da oposição, PSDB em especial.
Amanhã esse delicado equilíbrio será testado em visita da presidente Dilma a Pernambuco. Ela encontrará Campos na vistoria que fará nas obras do sistema adutor do Pajeú, em Serra Talhada.
Críticas à gestão econômica do governo causam indignação
Para petistas, sucesso de Campos deve muito a investimentos federais
Dilma e Eduardo Campos tinham um almoço previsto na casa do governador, em Recife, e visita a outra obra federal nas cercanias da capital, mas essa parte da agenda foi cancelada na tarde de sexta-feira. Coincidência ou não, logo depois que Eduardo Campos apareceu falando que tem "muitas afinidades" com o tucano José Serra, adversário de Dilma na disputa presidencial de 2010 e com quem o governador teve um encontro cercado de sigilo na sexta-feira anterior. Por essas e outras é que o PT acompanha com preocupação, e desconfiança, os movimentos de Campos. Uma das reclamações recorrentes no PT em relação ao, agora incômodo, aliado é que o sucesso de sua administração teria sido conquistado graças a investimentos federais feitos desde o governo Lula. Vários estudos comparativos mostram que Pernambuco foi o estado do Nordeste que mais recebeu recursos federais durante o governo Lula.
Do final do ano passado até o início de março, o ex-presidente Lula tentou, sem sucesso, marcar uma conversa com o governador de Pernambuco na esperança de convencê-lo a adiar para 2018 seu projeto eleitoral. Agora, a avaliação é que Eduardo Campos esticou demais a corda e não há mais caminho de volta. Para o governo e o PT, a candidatura do PSB é irreversível.
Apesar das declarações diplomáticas em público, a relação não está nada boa. Em conversas reservadas, lideranças petistas dizem que Campos não está sendo correto ao criticar o governo, já que fez parte da gestão Lula e o PSB integra a administração Dilma, onde ocupa dois ministérios.
Em encontros com empresários, Campos tem criticado a política econômica e fiscal do governo, e dito que não há chance de melhora. Ele também cerrou fileiras contra a medida provisória para modernização dos portos.
- Sobre as críticas, como o PSB está no governo, a gente entende que esse deve ser um esforço (melhorar o governo) de todos, inclusive do PSB - afirmou o secretário-geral do PT, deputado Paulo Teixeira (SP).
O Palácio do Planalto também ficou irritado com a proposta de Campos de reabrir a discussão sobre os royalties do petróleo logo depois de o Congresso ter derrubado os vetos da presidente Dilma que garantiam para os estados produtores as receitas dos campos já licitados. A tentativa de acordo feita pelo socialista consistia na antecipação de receitas por parte da União para os estados não produtores de petróleo.
Auxiliares de Dilma consideraram a proposta uma "jogada eleitoral" e "bondade com o chapéu alheio".
Fonte: O Globo
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