Quem olha para os números da economia pode ter a impressão de que os problemas estão se acumulando e que estão à beira de deixar o governo sem ação.
Mas não é bem assim. Apesar do desempenho insatisfatório, nada aponta para um descarrilamento geral. Entre os principais problemas estão o PIB fraco, a inflação em alta, um rombo crescente nas contas externas, emperramento dos investimentos - tanto públicos como privados - e apagões logísticos de toda ordem: dos portos, dos aeroportos, das rodovias, das ferrovias, do trânsito nas grandes cidades...
Certos comentaristas afirmam que a ineficácia do governo Dilma na execução de políticas mais cedo ou mais tarde passará a conta eleitoral, querendo dizer com isso que o PT corre riscos nas urnas. E esses riscos poderiam aumentar se o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), continuar comendo o pirão do PT no Nordeste; se o senador Aécio Neves (PSDB) continuar se servindo do seu angu em Minas; e se a ex-senadora Marina Silva (ainda sem partido) seguir colhendo frutinhas silvestres do PT em todo o País.
O problema é que a presidente Dilma Rousseff, virtual candidata a um segundo mandato na Presidência da República nas eleições de 2014, continua ostentando confortável margem de aprovação a seu governo, de nada menos que 63% e ampla preferência nas intenções de voto. Somente um desastre na economia brasileira parece capaz de corroer essa vantagem.
Como apontou o professor Juarez Rizzieri, em Seminário de Conjuntura realizado sexta-feira na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, um descarrilamento desse tipo está fora de cogitação. Ainda que a inflação perfure o topo da meta (os 6,5% em 12 meses); que a atividade produtiva prossiga fraca; que o índice de desemprego aumente; e que o déficit em Conta Corrente (fluxo de pagamentos com o exterior) dispare, nada parece indicar desarranjo da economia capaz de desestabilizar o jogo da presidente Dilma.
Esse quadro aponta para três consequências. Primeira, o governo federal deverá continuar levando adiante a atual política populista de aumento de renda, de estímulo ao consumo, de alto nível de emprego e de adiamento dos reajustes das tarifas públicas. Segunda, nenhum dos grandes problemas da economia, que hoje dependem de arbitragem de perdas patrimoniais e de pagamento de contas (como o ataque à inflação, forte redução das despesas públicas, alta dos juros, solução das maiores distorções tributárias e reforma da Previdência Social), será enfrentado com determinação. O que poderá ficar para depois ficará. E, terceira consequência, prosseguirá a atual política de construção de puxadinhos que pressupõe soluções provisórias e pouco abrangentes para os problemas que aparecerão pela frente.
Em outras palavras, caso nada de extraordinário aconteça, não se deve esperar mais nenhuma decisão do governo Dilma que possa ameaçar a sua vitória nas urnas no ano que vem. É a política do banho-maria, da dona de casa que não quer aumentar a fervura para que tudo seja cozido lentamente, para dar o tempo ao tempo.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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