No velório do jornalista, políticos e intelectuais lamentam perda
Roberta Scrivano
SÃO PAULO - Foi enterrado por volta das 15h30m, sob aplausos dos presentes, o corpo do jornalista Ruy Mesquita, do “Estado de S. Paulo”, no Cemitério da Consolação, em São Paulo. O velório aconteceu na casa do jornalista, no bairro do Pacaembu, na Zona Oeste de São Paulo. Na reta final do velório, chegaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin e o prefeito da capital paulista Fernando Haddad.
Fernando Henrique lembrou de sua proximidade com o jornalista e diz que o conhecia há mais de 60 anos. Ele frisou que “Ruy tinha uma capacidade que hoje é muito importante: ele dizia o que pensava e o que acreditava”.
— Ruy era um democrata. Um homem que não tinha medo de meias palavras, dizia o que pensava. Vai deixar um vazio enorme.
Alckmin frisou que Ruy dedicou sua vida à construção de um país livre e democrático. Celso Lafer, ex-ministro, disse que “ele fez da opinião uma pedagogia da ideia”.
José Serra, ex-governador e prefeito de São Paulo, compareceu ao enterro e lembrou que manteve contato com o jornalista depois que voltou do exílio, no fim dos anos 70. Em 2010, durante as campanhas presidenciais nas quais Serra era candidato, o Estadão declarou apoio a ele nas páginas editoriais do jornal.
— O apoio foi uma novidade e uma surpresa para mim. Isso nunca foi objeto de conversa entre nós e aumentou muito a minha responsabilidade para ganhar aquela eleição — lembrou.
Antonio Ermínio de Moraes e a presidente Dilma Rousseff enviaram coroas de flores à família Mesquita.
Eugenio Bucci, jornalista e professor da USP, lembrou que “na história da imprensa, a página três é a coluna vertebral da opinião pública no Brasil. Segundo ele, o espaço em branco de hoje “fecha uma era e deixa uma pergunta.”
O velório começou às 8h desta quarta-feira o velório de Ruy, morto às 20h40m de ontem, vítima de câncer. O corpo chegou durante a madrugada e, no início da cerimônia, o acesso foi restrito à família. Depois, a casa foi aberta a amigos do jornalista.
Ao chegar ao local, o ex-deputado federal Fabio Feldmann, lamentou a morte de Mesquita e salientou “que uma nova etapa se abre no jornalismo brasileiro”. Fábio Barbosa, ex-presidente do banco Santander e atual dirigente da editora Abril, frisou que “foi uma grande perda”.
— Ele foi alguém que lutou a vida inteira pela democracia e liberdade de imprensa e deixa uma grande lição.
José Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, chegou por volta de 12h ao velório e disse que Ruy deixa a lembrança de um homem que lutou e que teve convicções e princípios a vida toda.
— Ele fez jus a esses princípios e convicções sempre a favor da liberdade de imprensa. Era um homem de muita cultura, que soube conduzir muito bem os jornais. É um grande exemplo a todos nós — afirmou.
Marcello Moraes, diretor-geral da Infoglobo, também compareceu ao enterro. Ao término, disse que “o doutor Ruy é um exemplo pra todos nós, de pessoa íntegra, preocupada com a liberdade de imprensa”.
— Ele era uma pessoa muito dedicada, sempre chegou cedo e saiu tarde. E trabalhar até o ultimo dia mostra essa dedicação e o amor ao jornalismo. É uma lição.
O jornalista Arnaldo Jabor demostrou bastante emoção ao falar do colega Ruy Mesquita e o colocou como “um dos primeiros a fortalecer o conceito de sociedade participando da vida pública, que era inteiramente dividida até então”.
— Eu quero ter uma vida como a dele. Excepcional — exclamou.
Otávio Frias Filho, diretor de redação da Folha de São Paulo, considerou a morte de Ruy “uma perda muito grande para todos nós que vivemos o jornalismo”.
— O Ruy Mesquita será um exemplo muito eloquente para as próximas gerações, de luta pela liberdade e por padrões de qualidade editorial — afirmou.
A todo tempo, chegavam coroas de flores para homenageá-lo. Foram mais de 40, enviadas por pessoas como Paulo Skaf, presidente da Fiesp, Maílson da Nóbrega, ex-presidente do Banco Central, Maurício de Souza, cartunista, os apresentadores Luciano Huck e Angélica, e por instituições como a Academia Paulista de Letras. Muitos publicitários renomados, como Nizan Guanaes, Washington Olivetto, bem como a agência de publicidade WMcCann, também enviaram as homenagens.
Miguel Jorge, ex-ministro do Desenvolvimento, foi ao velório:
— Foi uma perda não só para o jornalismo. Tive enorme honra de ficar 21 anos no “Estadão”. Dr. Ruy tinha importância fundamental para o jornalismo, com a defesa de suas ideias, do liberalismo, e sua luta contra o autoritarismo.
Fábio Paim, contratado em 1965 por ele no “Estadão” e hoje editorialista do jornal, disse que vai sentir falta das reuniões diárias com o diretor, marcadas sempre para as 13h para debater a pauta dos editoriais:
— Ele deixa um exemplo notável de trabalho e dedicação.
Carlos Brickmann, que participou da fundação do “Jornal Tarde”, em 1966, também lamentou a morte e disse que outros jornalistas têm de seguir o exemplo de Ruy, alguém “sempre totalmente aberto ao debate”.
Por volta das 11h20m, chegaram ao velório Lázaro Brandão, presidente do conselho do Bradesco e Luis Carlos Trabuco Cappi, presidente executivo do banco. Brandão, em declaração aos jornalistas, disse que “Ruy deixa um exemplo para a imprensa brasileira e tem sua significância para o destino do Brasil”.
— Ele era muito determinado, objetivo e cristalino no sentido de separar bem as coisas.
Para Trabuco, fica uma grande lacuna para o jornalismo brasileiro, que fica de luto pela morte de Ruy.
— Ele era um homem de ideias e valores. Era um grande brasileiro e grande intelectual. Tinha no exercício do jornalismo uma formação humanista excepcional.
José Américo, presidente da Câmara dos Vereadores de São Paulo (PT-SP), lembrou que Ruy “sempre se interessou pelo debate político nos editoriais do Estadão, mesmo que pudéssemos divergir, sempre foram muito bem preparados.”
— Acho que ele foi um símbolo de uma geração independentemente de qualquer divergência que a gente pudesse ter com ele. Era uma pessoa de convicções de ideais e, principalmente, uma pessoa comprometida com a profissão.
Em seguida, o publicitário Nizan Guanaes compareceu à cerimônia, mas já havia enviado uma coroa de flores mais cedo.
— Ele deixa um legado firme da construção do jornalismo que tem que ser comemorado com receita de bolo — em menção à repressão sofrida pelo jornal O Estado de S. Paulo e outros meios de comunicação durante a ditadura.
Fonte: O Globo
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