Após afirmar-se como principal liderança do PSDB e seu candidato natural à presidência da República, na convenção do partido realizada no último sábado em Brasília, Aécio Neves tem como primeiro grande desafio tornar-se conhecido do eleitorado nacional das classes C e D para construir condições de ganhar o apoio de parcela significativa delas. Sem o quê a candidata oficial à reeleição, mesmo que não reverta os problemas da economia e a precariedade da gestão, poderá preservar o amplo favoritismo que segue tendo, com o intenso uso da máquina federal e o reforço dos programas assistencialistas de forte apelo nesse eleitorado.
Foi, certamente, a partir de um diagnóstico realista, dessa debilidade eleitoral básica da oposição, que Aécio assumiu o comando do PSDB com um discurso que combina a retomada do legado reformista do governo FHC, (bem como fortes críticas aos tropeços gerenciais e éticos das administrações petistas que se seguiram) à atribuição de prioridades equivalentes à estabilidade e ao crescimento da economia e a políticas de redistribuição de renda. Afirmando: “Somos o partido das Privatizações e da Lei de Responsabilidade Fiscal. Somos o partido que permitiu que milhões de brasileiros passassem a consumir”. Ao que acrescentou que “essas políticas, iniciadas por FHC, precisam ser aprimoradas tendo em vista a superação da pobreza, em vez da exploração eleitoral dela”. E o diálogo do presidenciável oposicionista com tal eleitorado é o centro dos peque-nos “comerciais” da propaganda gratuita de rádio e televisão que começou ontem e se desdobrará com a difusão do programa partidário no próximo dia 30. Tendo sequência depois em viagens às várias regiões do país.
O outro grande desafio da candidatura de Aécio, de viabilidade dependente em grande medida de efeitos favoráveis desse diálogo mensuráveis em pesquisas eleitorais, será o da atração de parte das legendas até agora reunidas na amplíssima e heterogênea base governista. A qual, se mantida para a disputa sucessória, garantirá à adversária Dilma Rousseff relevante, senão decisiva, superioridade de tempo de propaganda na mídia, o que constitui o maior objetivo político-partidário do ex-presidente Lula. Mas que poderá ser desmontada por conflitos entre os dois partidos centrais da aliança governista, PT e PMDB, como no Rio de Janeiro; pela confirmação da candidatura de Eduardo Campos, bem como pela de Marina Silva; pela afirmação de tendências oposicionistas no PP, no PDT, no PTB. Possibilidades melhor configuráveis num cenário de agrava-mento dos problemas da economia e da pressão inflacionária, com erosão da elevada popularidade da candidata oficial.
Uma dessas possibilidades, a concretização do projeto presidencial do governador de Pernambuco, vem sofrendo pesados ataques do Palácio do Planalto e do lulopetismo. De um lado, eles forçaram e seduziram o ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, a abandonar o padrinho Eduardo Campos em troca da permanência no cargo e da promessa de apoio do PT a uma candidatura sua ao governo do estado como oposicionista. De outro lado, pressionam quatro governadores do PSB (AP, PI, PB, ES), com respaldo do cearense Cid Gomes, já ganho antes, a tentarem, juntamente com áreas esquerdistas do partido, um veto à candidatura de Campos num encontro extraordinário da direção nacional.
MP dos Portos. Ganhos e perdas
O balanço da aprovação da MP dos Portos – nos dias seguintes ao arrastado e nervoso processo de confirmação nas duas Casas do Congresso – combinou dividendos e perspectivas econômicas, bem favoráveis, com implicações políticas ruins para o Palácio do Planalto. No primeiro plano, a presidente Dilma Rousseff conseguiu o aval do Legislativo para um passo importante no enfrentamento de um dos gargalos da infraestrutura – as limitações e os elevadíssimos custos do sistema portuário.
Passo esse resultante de negociação com os segmentos empresariais vinculados às exportações agrícolas e minerais, e com resultado muito bem recebido por eles e pela maioria dos atores da iniciativa privada (o que reduz a avaliação negativa dela como che-fe de governo que segue a postura do antecessor do descarte de re-formas estruturais importantes).
No segundo plano, porém, tal processo evidenciou e agravou os problemas e distorções do precário relacionamento da presidente com o Congresso e com sua base de sustentação parlamentar. Antecipando restrições político-institucionais a novas MPs e a outras propostas governamentais. E ampliando o espaço
Jarbas de Holanda é jornalista
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