Solução sugerida pelo senador tucano para enfrentar aumento dos preços ainda carece de detalhamento
Há pouco espaço para conter gastos públicos sem mexer nos programas sociais e nas regras da previdência
Érica Fraga
SÃO PAULO - A escolha da alta da inflação como mote de campanha pelo PSDB é explicada por seu impacto no bolso dos eleitores do governo.
Há três anos seguidos, o índice de inflação está acima da meta de 4,5%. Por um tempo a alta esteve concentrada nos preços dos serviços. Hoje o cenário inclui pressões elevadas sobre os alimentos.
"A inflação de serviços é renda para as classes menos favorecidas", observa o economista Fernando Montero. "A inflação de alimentos não, ela corrói a renda dos mais pobres."
Movido pela demanda da população de renda mais alta, o setor de serviços tem sido o grande empregador dos trabalhadores com menos qualificação profissional.
A tendência levou a aumentos de preços, mas sustentou ganhos salariais para os empregados do setor, que ampliaram seu acesso a bens de consumo duráveis.
Os alimentos continuaram, no entanto, dominando as despesas da nova classe média --que é afetada em cheio pela alta de seus preços. Nos últimos 12 meses, os preços dos alimentos subiram 13,6%, e os dos serviços, 8,4%.
Apesar do diagnóstico acertado sobre o apelo do tema, a solução cogitada pelo senador Aécio Neves nos comerciais veiculados pelo PSDB na televisão nesta semana carece de detalhamento, o que pode gerar antipatia entre os mesmos eleitores que reclamam da inflação e que o PSDB tenta cativar.
Na televisão, e num vídeo divulgado na internet, Aécio defende a contenção dos gastos públicos para controlar a inflação. Economistas de diferentes vertentes têm batido nessa mesma tecla. Mas a pergunta é: que gastos poderiam ser cortados?
O senador tucano defende a boa gestão da máquina administrativa, mas os números indicam que esse caminho não seria suficiente para um ajuste fiscal razoável.
Cálculos do economista Mansueto Almeida mostram que o custeio administrativo (gastos com a máquina pública) representou somente 7% da despesa não financeira do governo em 2012.
Outros 63% da despesa não financeira (que exclui o pagamento de juros) foram destinados ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a gastos sociais e a custeio de saúde e educação, segundo Almeida.
Seria preciso, portanto, conter a expansão desses itens. O custo político de medidas nessa linha não seria pequeno, já que teriam de passar por uma mudança do cálculo de reajuste do salário mínimo, pela reforma das regras da Previdência Social e por aí afora.
Conforme avance a campanha presidencial, Aécio precisará se explicar melhor sobre o tema ou levantar outra bandeira.
Fonte: Folha de S. Paulo
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