quinta-feira, 23 de maio de 2013

Reitora da UFRRJ quer criar Comissão da Verdade para apurar tortura

Objetivo é investigar casos de violência ocorridos no campus a partir de 1964

Fato aparece no balanço do primeiro ano de funcionamento da Comissão Nacional da Verdade

Alunos apoiam iniciativa

Juliana Dal Piva e Leonardo Vanini

RIO - A reitora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Ana Maria Dantas Soares, afirmou que, em função do relatório parcial da Comissão Nacional da Verdade (CNV), divulgado nesta terça-feira (21), apresentará, na próxima sexta, um projeto de criação de uma comissão própria na instituição. O objetivo é apurar casos de perseguição e tortura ocorridos dentro do campus, em Seropédica, a partir de 1964. A ideia surgiu após a CNV afirmar que havia porões da ditadura em universidades brasileiras, incluindo a Rural, em Seropédica.

— Temos reunião do conselho universitário na sexta e levaremos a proposta para começar a atuar ainda este mês. Os professores ainda estão em férias, mas fazemos a aprovação agora e a nomeação na volta às aulas — adiantou.

Apesar da medida, a reitora disse desconhecer a informação de tortura no interior do campus. Ela comentou que ficou muito triste e chocada com a revelação.

— A gente nunca teve informação concreta de tortura. Os registros que temos são sobre invasões, prisões, mas nunca a questão da tortura. Foi uma surpresa muito ruim. Isso afeta a história da universidade. Temos uma tradição combativa, na defesa da democracia, da educação pública e gratuita. É muito chocante para todos nós. Para mim, me atinge pessoalmente, até porque tenho familiares que foram perseguidos e torturados em outros locais. É uma nódoa — contou, ao pedir para não revelar o nome de seus familiares.

Os estudantes da universidade também defenderam a criação da comissão. Para eles, a descoberta sinaliza que muitos acontecimentos relacionados ao período ainda precisam ser revelados. Segundo os discentes, é comum ouvir, pelos corredores da universidade, histórias de repressão e perseguição no campus, mas há poucos registros concretos. Em função disso, o coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Gustavo Pereira, de 22 anos, defende a criação de uma Comissão da Verdade dentro da própria UFRRJ para destrinchar essas ocorrências.

— Depois de ter lido a notícia, acredito que a universidade tem a obrigação de investigar até que ponto a instituição foi usada como centro de repressão, e buscar quem foram os alunos e os professores que sofreram com isso — defende Gustavo, que está no nono período de direito.

— Ficamos muito tristes em saber que a própria universidade foi usada como um ponto de violação dos direitos humanos. Justamente um local que deveria funcionar como um centro de mudanças e de cidadania — completa.

A aluna do sexto período de ciências sociais, Ruana Castro Mariano, de 20 anos, também integra o DCE e informou que o grupo vai se reunir para cobrar providências por parte dos responsáveis pela instituição.

— A Rural tem um centro de memória dedicado à sua história que aborda muito superficialmente o período da ditadura. Nada mostra de forma concreta o que aconteceu. Revelar os nomes das pessoas envolvidas, locais e datas é muito importante, pois é algo que faz parte da história do país como um todo. Precisamos conhecer a fundo nosso passado.

Porões da ditadura

De acordo com o balanço da comissão, a tortura teve início logo após o golpe de 64, sendo prática comum durante interrogatórios conduzidos pelos agentes do Estado, nos primeiros momentos da ditadura. A comissão descobriu que, já naquele ano, houve 148 casos de tortura em, pelo menos, 36 centros espalhados por sete estados. Segundo o relatório, instalações de universidades e da Petrobras eram utilizadas para a prática.

No início da ditadura, o Rio foi o principal foco de tortura, reunindo 16 dos centros identificados. Além da UFRRJ, aparecem entre eles a refinaria da Petrobras em Duque de Caxias (Reduc) e o navio-prisão Princesa Leopoldina, fundeado na Baía de Guanabara.

Fonte: O Globo

Um comentário:

Anônimo disse...

E o desempenho da instituição, a qualidade do ensino e o retorno para a sociedade, como vão indo, reitora?