Napoleão Bonaparte costumava repetir aos auxiliares: “Em tendo más notícias que me anunciar, despertai-me a qualquer hora da noite. A boa notícia pode esperar, mas a má nunca é demasiado cedo para a sabermos”. As palavras do imperador da França servem de recado para o governo brasileiro. O cenário econômico exibe nuvens cada vez mais carregadas. Pior: o dos próximos trimestres não acena com cores mais claras.
O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre frustrou os mais pessimistas. Analistas previam crescimento entre 0,8% e 1%. A realidade os contrariou. O número não passou de 0,6%. Maus prenúncios o acompanharam. O resultado da indústria, depois da recuperação espetacular em 2010, veio abaixo do esperado (-0,3%). O consumo das famílias não ficou atrás. Subiu tímido 0,1%.
Adubado pelo desemprego baixo e pelos estímulos governamentais, apresentava altas contínuas. Dois fatores, porém, contribuíram para conter o apetite pelas compras. De um lado, a inflação. A elevação dos preços, sobretudo dos alimentos, afastou os brasileiros do comércio de roupas, sapatos, cosméticos e acessórios. De outro, o endividamento. A corrida a móveis e eletrodomésticos, incentivada pelo governo, diminuiu a renda disponível para novos gastos.
Desgraça pouca é bobagem. Causas externas também contribuíram para a decepção. A demanda estrangeira contrariou as expectativas. A queda de 6,4% das exportações dá sinais concretos da procedência do temor que se vinha desenhando no mercado — esgotou-se o ciclo de elevação do preço de produtos básicos importantes na pauta de exportação brasileira (2004-2011). O cenário global adverso não está só. Aliam-se a ele a infraestrutura precária e a pesada burocracia.
Mesmo o positivo preocupa. A agricultura cresceu 9,7%. Se tivesse variado 0%, o resultado do PIB teria sido 0,1% em vez de 0,6%. O resultado excepcional se deve à supersafra de soja, que não se repetirá nos próximos meses por questão de sazonalidade. Tampouco se repetirá necessariamente em 2014. Além da incógnita do clima, os preços apontam para baixo em decorrência da redução do crescimento chinês. Ao aumentar os juros acima do esperado, o Banco Central demonstrou estar atento às nuvens escuras. O problema é que tende a consertar a economia a médio prazo, mas, a curto prazo, reduz ainda mais o crescimento.
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