O crescimento de 0,551% do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre provocou ansiedade no governo e incertezas adicionais sobre o futuro no setor privado. A receita de mais despesas públicas, mais crédito, incentivos setoriais e desonerações de impostos - somados, uma dose tão poderosa quanto a utilizada contra a crise de 2008 - mostrou-se fraca para reanimar a economia. Com todo o arsenal usado para estimular a demanda, o consumo, principal motor das atividades, estagnou e subiu 0,1%. Após várias decepções, o governo poderá ou não fazer ajustes, dependendo dos ventos que soprarem na campanha eleitoral, que começou prematuramente. O calendário político é um forte constrangimento quando a economia necessita de correção de rumos.
Depois do anúncio do PIB, o movimento de revisão para baixo das expectativas de crescimento foi unânime e incluiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega. No mesmo dia, o Comitê de Política Monetária do Banco Central resolveu dobrar a dose de aumento de juros para 0,5 ponto percentual, elevando a Selic a 8%, uma ação que, se executada há um ou dois meses atrás, teria recebido aplausos dos mercados, mas que, tomada agora, deixou perplexos até mesmo muitos analistas que torciam antes por uma dose mais forte de aperto monetário.
Os números foram ruins diante de uma expectativa de aceleração da economia. O crescimento, sem arredondamentos, foi inferior ao do último trimestre de 2012, de 0,642%. O consumo deu claros sinais de esgotamento, causado pela inflação alta, especialmente de alimentos, pelo nível de endividamento significativo, que acionou a cautela quanto a novos compromissos financeiros, e reajustes salariais reais bem mais comedidos.
Outro ponto negativo relevante foi a expansão de 0,5% do setor de serviços, que carrega 68,5% do PIB. A intermediação financeira mostrou-se estagnada (0,1%) e o papel de outros serviços, que engloba uma enorme série de subsetores, recuou 0,5%.
O desempenho mais que modesto da intermediação financeira chama a atenção e revela uma contenção do crédito relevante. Como as estatísticas mensais do BC não permitem distinguir dois fenômenos que têm o mesmo efeito contracionista - a redução da oferta e o da procura - o banco divulgou pela primeira vez seu estudo sobre condições de crédito. Nele, pode-se ver que o que prevaleceu foi uma queda da demanda por empréstimos, mais determinante que a cautela dos bancos em ofertar dinheiro diante de renitente inadimplência. O estudo reitera a tendência de perda de velocidade do crédito, que deve se manter com a alta mais acentuada dos juros.
Há o temor de que os fatores "baixistas" do PIB permanecerão no horizonte, enquanto que os "altistas" tendem a não se repetir. O exuberante desempenho da agricultura é um exemplo evidente. Menos clara é a continuidade do avanço dos investimentos, que cresceram 4,6% no primeiro trimestre do ano em relação ao último de 2012. Ele foi bastante influenciado pelo aumento de produção de caminhões, mas há sinais de que essa expansão foi disseminada.
Ainda assim, o hiato entre a taxa de investimentos, de 18,4% do PIB e a de poupança, de 14,1%, indica que cresceu o buraco coberto pela poupança externa, o que explica o aumento do déficit em conta corrente. No caso, é mais que relevante o saldo comercial, que "roubou" nada menos que 1,7 ponto percentual do resultado do PIB, outro fator cuja reversão a curto prazo é improvável.
Se o retrato do passado não é bonito, o do futuro não é claro. Mantega disse que não há novos estímulos em gestação, ao mesmo tempo em que o BC aperta a política monetária, e isso poderia indicar que o governo não insistirá no mesmo caminho, dará prioridade ao combate à inflação e aceitará o crescimento possível. Com a política contracionista do BC, mais estímulos ao consumo seriam insensatos - nem por isso podem ser totalmente descartados.
O governo poderá tentar preservar o status quo, que cobre a presidente Dilma Rousseff com alta popularidade. O desemprego é bem baixo, os salários não caíram e a inflação, embora desconfortável, continua sob controle. As incertezas se instalam com o calendário eleitoral. Se o aperto do BC machucar o nível de emprego e os salários - consequências previsíveis - a insatisfação com a presidente subirá, em um ambiente de baixo crescimento que sempre dá ânimo às oposições.
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