Hoje, os mercados financeiros vão reagir com força à decisão tomada pelo Copom sobre os juros
A última quarta-feira foi um verdadeiro dia de cão nos mercados financeiros no Brasil. Logo na abertura dos negócios, investidores e instituições financeiras sofreram um primeiro choque em suas expectativas com a divulgação, pelo IBGE, de um novo pibinho no primeiro trimestre deste ano.
O mercado esperava um crescimento da ordem de 0,9% --que corresponde a 3,6% no período de 12 meses--, sendo que alguns chegavam a prever taxas superiores a 1%. O número divulgado pelo IBGE foi de apenas 0,6%.
Para o leitor fazer uma avaliação da pobreza de nosso crescimento econômico, no mesmo dia as autoridades suíças divulgaram os números do PIB desse pequeno país dos Alpes, também no primeiro trimestre do ano: os mesmos 0,6% do Brasil.
O choque foi muito grande e o mercado de ações respondeu com uma queda de mais de 2,5% no índice Bovespa ao longo do dia.
No mercado de câmbio, os especuladores --que já vinham apostando há algum tempo em uma desvalorização do real-- aproveitaram o choque para empurrar as cotações de nossa moeda para nível recorde dos últimos meses.
O terceiro movimento especulativo dos mercados deu-se nas negociações com os juros Selic.
Respondendo às expectativas de que o BC iria responder ao PIB raquítico com moderação ainda maior no aperto da política monetária, os juros reduziram-se com força logo na abertura das negociações.
Por trás desse movimento pavloviano estava o raciocínio pelo qual a presidente Dilma não permitiria o uso dos juros no combate à inflação, como havia sido o teor de seu discurso recente na África do Sul.
Pois no início da noite, com os mercados já fechados, o Copom surpreendeu com uma aceleração na velocidade de elevação dos juros e com um comunicado ao mercado com termos duros sobre o combate à inflação neste e no próximo ano.
Reforçando esse compromisso, o BC informou a todos que a decisão havia sido unânime entre os diretores da instituição. Uma mensagem clara de que um novo Banco Central emergiu das cinzas da instituição que comandou com mão de ferro o sistema de metas de inflação nos oito anos do governo Lula.
Hoje, os mercados financeiros vão reagir com força a isso e mui- tos operadores que fizeram uma leitura errada do governo Dilma terão que voltar mais cedo de seu fim de semana alongado.
Certamente, a grande dúvida que comandará as reflexões de investidores e analistas econômicos estará centrada na extensão dessa inesperada mudança de atitude do BC.
Terá sido ela fruto de uma revolta interna --de uma instituição do Estado brasileiro com larga história e respeito de todos-- depois de um período de perda de credibilidade em função de movimentos confusos na gestão do sistema de metas de inflação, uma das âncoras importantes do equilíbrio macroeconômico dos últimos 16 anos no Brasil?
Ou as mudanças são mais profundas e chegam mesmo ao Palácio do Planalto, com a presidente entendendo, finalmente, que trazer a inflação para mais próximo do centro da meta é o instrumento mais importante para manter o crescimento brasileiro e a felicidade consumista da nova classe média que a suporta?
Ou, ainda, que aumentar os juros agora com mais vigor é o melhor caminho para que os eleitores/consumidores, em outubro do próximo ano, estejam felizes e confiantes e sufraguem nas urnas o nome de Dilma Rousseff?
Se a presidente fizer uma leitura correta dos números do PIB, verá que a frustração dos analistas --e certamente dela também-- veio principalmente da queda no consumo das famílias e que representam hoje 60% do PIB brasileiro.
Neste primeiro trimestre, a expansão dos gastos em consumo em relação ao trimestre anterior foi de apenas 0,1%, depois de ter-se expandido em média 0,9% nos três trimestres anteriores.
E o que diferencia principalmente esses quatro períodos sequenciais é a intensidade da inflação, que no início de 2013 chegou a quase 9% ao ano no comércio varejista e comeu boa parte da renda dos hoje endividados brasileiros de classe média.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 70, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
Fonte: Folha de S. Paulo
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