Boas referências, pessoas, atos ou ideias nas quais a sociedade reconhece valores caros não necessariamente têm de se transformar em candidaturas à Presidência da República.
Compreende-se o "disse me disse", o entusiasmo, quando não a firme crença, em alguns setores e ocasiões , na hipótese de que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, venha – ou pelo menos almeje – a disputar o posto de chefe da nação.
Em boa parte dos países, se não na maioria, o presidente é a figura máxima. Se por aqui boa parte da população, se não a maioria, achou o máximo a atuação de Barbosa como relator do processo do mensalão, natural que faça uma conexão entre uma coisa e outra. Em especial diante da carência de exemplos reconhecidos como merecedores de respeito.
Ao estruturar uma narrativa inescapável da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, o relator do processo levou o país à compreensão do que foi o esquema de desvios, fraudes e escambo de vantagens indevidas em troca de apoio político devido.
Foi acompanhado pelo tribunal na quase totalidade dos votos. O colegiado, com sua decisão, elevou o grau de confiabilidade do Judiciário, mas nem por isso se lançaram os nomes de outros ministros no fogaréu de vaidades do ambiente das disputas eleitorais no molde em que se dão.
Muito bem, Joaquim Barbosa virou um símbolo. Para alguns, parcial, arbitrário e, como se diz agora, midiático. Para muitos, um emblema de justiça e de intolerância com a ilegalidade para a qual defende tratamento igualitário entre poderosos e não poderosos.
Mas, daí a dizer que tal atributo seja um trampolim para a Presidência da República são outros 500 quilômetros a serem percorridos. O presidente do STF tem a favor de si o crédito junto a substancial parcela de população.
Em compensação, para sermos realistas, tem contra si diversos fatores. A começar pela suposição de que o que o move é a ambição política. Isso diminui a figura do juiz, não deixa de ser uma maneira, ainda que involuntária, de reduzir suas atitudes e opiniões a uma mera ânsia por notoriedade com aquele poder conferido pelo Diário Oficial.
Além disso, Joaquim Barbosa não é do ramo. Há quem aponte nisso uma vantagem. Mas, sem comparações de forma e conteúdo, de exemplos de que o repúdio à atividade política por si só não credencia alguém a exercê-la de modo a fazer de fato a diferença, a História está cheia.
Temos ainda o temperamento do presidente do Supremo a contar como desvantagem numa atividade em que a vocação para a diplomacia é essencial. Ao menos quando se pretende exercê-la na regra do jogo sem a ajuda do vale-tudo.
O ministro não tem um partido e, a não ser que pretenda criar um ou alojar-se em algum apenas para ter uma legenda sem maior presença no cenário político (o que poderia causar péssima impressão), não se vislumbram espaços disponíveis. A fila nos partidos obedece a uma lógica e nenhum deles parece disposto por enquanto a subvertê-la.
Isso tudo sem falar na possibilidade de uma empreitada malsucedida, que tiraria Joaquim Barbosa do Supremo Tribunal Federal e o levaria a lugar nenhum.
Por que o ministro não pode servir ao país exatamente onde está, exercendo o papel a que vem se propondo? Figuras respeitadas não necessariamente precisam chegar à Presidência para, com seu êxito, satisfazerem demandas por condutas tidas como exemplares
São Tomé. Antes de se acreditar na ameaça do PMDB de não apoiar a reeleição de Dilma Rousseff caso o PT não retire a candidatura própria ao governo do Rio, é preciso ver para crer se o partido trocará a vice-presidência e ministérios por um palanque regional.
Em 2014, se Dilma estiver com dianteira segura isso só ocorrerá no dia de São Nunca.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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