Manifestações antigoverno já deixaram pelo menos 17 mortos e 261 feridos no país
CARACAS - A tentativa do governo de Nicolás Maduro de usar o feriado do Carnaval — que foi até estendido — para os protestos que tomam a Venezuela nas últimas três semanas se revelou insuficiente neste domingo, quando dezenas de milhares de pessoas marcharam por Caracas. “Prefiro Carnaval sem praia a uma vida sem liberdade”, diziam cartazes exibidos pelos manifestantes. As manifestações oposicionistas, que começaram em protesto contra a grave crise econômica e a crescente insegurança no país, se transformaram em revolta contra a repressão liderada por Maduro
— 18 pessoas morreram e mais de 260 ficaram feridas desde o início dos protestos.
Liderado por estudantes de classe média de cidades governadas por oposicionistas, o protesto de ontem saiu de quatro pontos de Caracas até a Praça Brion, na Zona Leste da capital, área mais rica onde os antichavistas são maioria. Cada local de partida simboliza as principais denúncias contra o governo de Maduro — a insegurança, a impunidade e os abusos policiais, a crise econômica e a censura aos meios de comunicação.
— São problemas que afetam a todos, e o governo deveria promover um diálogo sincero, com disposição para correr atrás de soluções — explicou Lorena González, uma das organizadoras do protesto.
Condições para o diálogo
Os estudantes vêm rejeitando as tentativas de diálogo propostas pelo governo da Venezuela por considerarem que eles não ocorreriam em igualdade de condições e serviriam apenas como tentativa de desmobilizar os protestos.
—Não podemos concordar em ir ao Palácio Miraflores montar um circo em torno de uma proposta de paz do governo — disse o líder estudantil Juan Requesens, que exigiu o direito de falar 15 minutos em cadeia nacional para explicar as razões do protesto antes de dialogar com o governo.
Autor da biografia “Chávez sem uniforme”, publicada em 2004, Alberto Barrera Tyska avalia que a estratégia de Maduro de invocar o nome de seu mentor está desgastada. Segundo ele, a cada dia que se passa, o mandatário é mais afastado da imagem de herdeiro do ex-presidente, cuja morte completa um ano esta semana.
— Maduro faz tudo o que pode para usar o culto a Chávez contra as crises econômicas, mas é uma batalha desproporcional — diz.
Os manifestantes responsabilizam o governo pela galopante inflação de mais de 56% nos últimos 12 meses, o aumento da criminalidade e o desabastecimento de produtos básicos.
Tentando esfriar os ânimos após os distúrbios, Maduro prolongou o feriado de Carnaval esta semana. O governo inundou as redes sociais de imagens de banhistas alegres e a televisão estatal convida insistentemente os venezuelanos para ir à praia.
Fonte: O Globo
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