• Deputado chama de bizarra a tentativa de herdar votos de Marina no Estado
Alexandre Rodrigues e Cássio Bruno – O Globo
RIO — Pré-candidato do PSB à Presidência, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos desembarca hoje no Rio no meio de uma crise na construção do palanque estadual, com o deputado federal Miro Teixeira (PROS) candidato ao Palácio Guanabara. O deputado federal Alfredo Sirkis (PSB-RJ), que já foi um dos principais articuladores da ex-senadora Marina Silva, vice na chapa de Campos, disparou ontem uma série de críticas à condução da pré-campanha de Campos no Rio. Para ele, Campos é negligente e conduz no Rio uma estratégia bizarra.
Segundo Sirkis, Campos não dá a atenção necessária ao Rio, apesar de, nas eleições de 2010, Marina ter ficado em segundo lugar no estado, com 2,6 milhões de votos. A então candidata do PT, Dilma Roussef, teve 3,7 milhões; José Serra, do PSDB, conquistou 1,9 milhão.
— O Rio é um estado chave. A Marina teve grande votação. Mas isso não é automaticamente transferível. Ele (Campos) está sendo negligente — disparou o deputado, ex-PV, que disse ter sido obrigado a “congelar” sua pré-candidatura ao governo fluminense por pressão do ex-governador e da própria Marina.
‘Tarde demais para outra alternativa’
Para ele, foi um erro dos dois apoiar a pré-candidatura de Miro:
— Não vejo a pré-campanha do Miro se desenvolvendo. Mas, agora, ficou tarde demais para tentar uma outra alternativa de palanque. É uma situação bizarra.
Em 2010, Marina teve como interlocutor da campanha presidencial no Rio o ex-deputado federal Fernando Gabeira. Para as eleições deste ano, esse papel caberia a Sirkis. No entanto, a relação entre ele e Marina não é a mesma desde que eles discordaram sobre as opções da senadora, após o fracasso do registro da Rede como partido, ano passado. Sirkis não fala sobre isso, mas se queixa do descaso de Campos:
— Desde quando eu me filiei ao PSB, nunca tivemos uma conversa.
O deputado federal Glauber Braga (PSB-RJ), um dos coordenadores da campanha de Campos no Rio, não quis polemizar:
— Campos vai intensificar a pré-campanha no Rio porque o estado tem a vocação para o novo e o Sirkis, na hora certa, terá um papel fundamental.
A aliança do PSB com Miro é baseada na relação pessoal dele com Marina. Eles se aproximaram na coleta de assinaturas para a Rede. Miro pretendia aderir à Rede, mas acabou no PROS. Ontem, ele evitou um embate com Sirkis:
— Essa é uma discussão do PSB, cuja executiva regional deliberou (apoio ao PROS). Acho o Sirkis uma boa pessoa.
Campos e Marina visitam hoje à tarde o projeto do AfroReggae, em Vigário Geral, na Zona Norte. À noite, jantam com artistas no Jockey Club Brasileiro. O deputado federal Romário, pré-candidato do PSB ao Senado, e Miro não comparecerão por causa das sessões do Congresso em Brasília.
A viagem de Campos ao Rio é uma tentativa de resposta ao movimento “Aezão”, dissidência de políticos (de PMDB, PSD, PP, PSL, PEN e Solidariedade) que anunciará quinta-feira apoio ao pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG). O grupo vai se reunir num restaurante na Barra da Tijuca,
— O “Aezão” é a representação clássica do que há de velho na política. Trata-se de um apoio daquilo que estamos buscando quebrar: aliança com o PMDB, que atrasou o Rio e o Brasil — disse Glauber Braga.
No Rio, Marina foi a segunda colocada em 2010
As últimas quatro eleições mostram que nenhum estado reúne tantos eleitores interessados na chamada terceira via como o Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral do país. PT e PSDB, que rivalizam na cena nacional, são fracos no Rio.
Se dependesse do Rio, Marina teria ido ao segundo turno contra Dilma em 2010. Além do segundo lugar na capital, com os mesmos 32% que obteve no estado, ela venceu em colégios eleitorais importantes do interior e da Região Metropolitana, como Volta Redonda e Niterói.
No pleito presidencial de 2006, outra dissidente do PT, a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL), experimentou no Rio uma votação bem mais expressiva do que em outros estados: ela conquistou pouco mais de 20% do eleitorado da capital fluminense, quase o triplo dos 7% que obteve no resultado nacional.
Em 2008, nas eleições municipais da capital fluminense, Gabeira teve mais de um quarto do eleitorado e perdeu a prefeitura para Eduardo Paes (PMDB) no segundo turno por apenas 2% dos votos. Em 2012, Marcelo Freixo (PSOL) perdeu no primeiro turno para Paes, candidato à reeleição, mas conquistou 28% dos votos. Nada mau para quem não tinha estrutura ou alianças.
Romário deve ser o principal cabo eleitoral
Os candidatos de terceira via costumam ter seus votos concentrados em áreas de classe média, como a Zona Sul do Rio. Uma análise do mapa eleitoral de Marina em 2010, feita por pesquisadores da PUC-Rio, mostrou que ela foi bem votada tanto em bairros de classe média como nas áreas mais populares. É uma votação bem mais distribuída pela cidade do que a de Gabeira, em 2008, concentrada nas áreas mais nobres.
Apesar de Campos precisar se tornar conhecido na Região Sudeste, ainda não priorizou o Rio. O problema da estratégia de Campos no Rio é ter pouco em comum com a campanha de Marina em 2010. Em maio, o deputado federal Romário (PSB-RJ) anunciou sua candidatura ao Senado na chapa de Miro, revelando uma conversa com Campos. O ex-jogador de futebol deverá ser o principal cabo eleitoral de Campos no Rio, já que Miro, ex-PDT, provavelmente terá seu partido coligado nacionalmente com o PT de Dilma Rousseff.
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