Fernando Exman e Andrea Jubé – Valor Econômico
BRASÍLIA - A cerca de quatro meses da eleição de outubro, a presidente Dilma Rousseff mantém a dianteira nas pesquisas de intenção de voto e caminha para ter um tempo de propaganda de rádio e TV muito superior ao dos seus adversários. Mas, para desassossego de alguns integrantes do comitê da campanha governista e proveito de aliados que buscam argumentos para pressionar o PT a fechar alianças que contrariam a sigla, Dilma enfrenta problemas nos Estados que mais lhe garantiram vantagem na disputa de 2010. Dirigentes petistas relativizam esses números, e ponderam que a conjuntura eleitoral é favorável à presidente.
Na última eleição, Dilma pavimentou sua vitória contra José Serra (PSDB) na Bahia, Pernambuco, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Maranhão. Esses Estados garantiram a Dilma 12,6 milhões de votos a mais que o tucano no segundo turno. Na Bahia, por exemplo, a então candidata petista obteve a maior diferença no segundo turno contra o adversário tucano: 2,79 milhões de votos.
Hoje, contudo, esses são justamente os locais onde a presidente e o PT se deparam com as maiores dificuldades na acomodação de interesses dos aliados ou defendem governos estaduais reprovados pela maioria da população. No primeiro caso, Rio de Janeiro e Ceará são exemplos notórios. No segundo grupo, a Bahia, onde o governador Jaques Wagner apresenta baixos índices de aprovação.
São esses números de um cenário adverso que têm sido apresentados a Dilma em conversas reservadas com aliados nas últimas semanas. Assim, sob o argumento de que o resultado expressivo de 2010 tende a não se repetir em outubro, o PMDB pressionou, por exemplo, o PT a apoiar a candidatura de Renan Filho em Alagoas, enquanto os petistas preferiam Renan Calheiros "pai" ou, então, Benedito de Lira, do PP, que acabou fechando com Eduardo Campos.
Da mesma forma, o PMDB elevou a pressão para que o PT não se aliasse a Flávio Dino (PCdoB) no Maranhão, e para que os petistas da Paraíba confirmassem o apoio para o governo estadual a Veneziano do Rêgo, irmão do senador Vital do Rêgo. Na Paraíba, o PP do ex-ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro também pleiteava o apoio de Dilma ao governo estadual. Por fim, com base nesses números, o PMDB pressiona pelo apoio do PT ao senador Eunício Oliveira no Ceará, enquanto os petistas preferem marchar com o candidato do governador Cid Gomes (Pros), ainda indefinido.
Mas o vice-presidente do PT, deputado José Guimarães (CE), contesta essa adversidade eleitoral apontada por pemedebistas. Ele argumenta que Dilma deve ter a maior coligação na disputa presidencial desde a redemocratização. Além disso, o fato de o PT contar com candidatos competitivos em parcela relevante dos principais centros urbanos do país - em alguns pela primeira vez na história - compensa essa suposta fragilidade nesses Estados. Guimarães cita como exemplo as candidaturas no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. "O quadro esboçado até agora é amplamente favorável à presidente Dilma. Qualquer análise fora disso não condiz com os fatos", sublinha.
Em 2010, quando obteve ampla vantagem de votos sobre Serra na Bahia, Dilma aproveitou-se da força do governo local, comandado pelo petista Jaques Wagner, que tentava se reeleger. Neste ano, porém, ela pode ser prejudicada pelos baixos índices de aprovação do governador. Não bastasse, a oposição e o PMDB local estão unidos ao prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), cuja gestão é bem vista pela população.
Pré-candidato a vice na chapa que será encabeçada pelo petista Rui Costa, o deputado federal João Leão (PP-BA) minimiza a ascensão de ACM Neto e o rompimento com o PMDB do ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima. Para Leão, a liderança de ACM Neto é limitada. Ele pondera que o prefeito capitalizou simpatia em cima de obras que, na verdade, seriam do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade Urbana. E ressalta que, embora nesta eleição o PMDB e o PSB do presidenciável Eduardo Campos estejam em times adversários, outros partidos aderiram à chapa encabeçada pelo PT, como o PSD do vice-governador Otto Alencar - pré-candidato ao Senado - e a sua própria sigla, o PP.
Leão acrescenta que a coligação de apoio a Jaques Wagner arregimenta mais de 70% dos prefeitos baianos e tem votos até no PMDB, que oficialmente migrou para a oposição no Estado. Segundo o pré-candidato a vice governador, para evitar que a oposição se beneficie das obras federais, o governo intensificou a veiculação de propagandas para mostrar as realizações do governo estadual com o governo Dilma, como reformas na principal avenida de Salvador, a Avenida Paralela. Ele diz apostar no início oficial da campanha, quando Dilma, Lula e Wagner subirem juntos no palanque para pedir votos para a chapa governista.
Pernambuco e Minas Gerais são outros Estados onde Dilma corre o risco de não repetir o seu desempenho de 2010, quando obteve um saldo de 2,34 milhões e 1,79 milhão de votos, respectivamente, em relação a José Serra. Agora, as duas unidades da federação são redutos eleitorais dos principais adversários da petista: Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB).
Pré-candidato ao Senado, o deputado João Paulo Lima (PT-PE) diz que, embora Eduardo Campos jogue nestas eleições em casa e contra Dilma, o PT avalia que a presidente tem condições de vencê-lo no Estado. Lima cita sondagens internas do partido em que Dilma aparece na dianteira, embora Campos tenha deixado o governo local como um dos governadores mais bem avaliados do país. "Nem o ex-presidente Lula nem a militância em peso do PT" entraram pra valer na campanha, ressalta o deputado, também argumentando que o antigo aliado beneficiou-se de obras feitas pelo governo federal no Estado e a partir de agora a campanha governista se esforçará para demonstrar a origem dos investimentos. "Temos um potencial amplo de crescimento."
Em Minas, onde o senador Aécio Neves é favorito, Dilma conta com o apoio do PMDB e a candidatura do ex-ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel. O mesmo não ocorre no Rio e no Ceará, onde a presidente enfrenta dificuldades na articulação com o seu principal aliado no plano nacional. No primeiro caso, embora o governador Luiz Fernando Pezão tenha garantido que pedirá votos para Dilma, a direção do PMDB fluminense se aliará ao pré-candidato tucano. Lá, Dilma registrou uma vantagem de 1,71 milhão contra o candidato do PSDB na última eleição. Já no Ceará, PT, PMDB e o grupo político do governador Cid Gomes (Pros) podem marchar divididos, se Gomes não ceder e apoiar o pemedebista.
Outro Estado que garantiu margem confortável de votos para Dilma em 2010 foi o Maranhão, onde a petista ficou 1,69 milhão de votos à frente de José Serra. Nesta eleição, a presidente deve ficar novamente ao lado da candidatura da família Sarney, que hoje amarga maiores índices de rejeição. Ironicamente, a oposição estará no palanque de Flávio Dino, cujo partido é um aliado histórico do PT.
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