Cristian Klein – Valor Econômico
SÃO PAULO - Caso alcance o segundo turno na corrida presidencial, como indicam as pesquisas, Marina Silva (PSB) deverá ter um aumento em torno de cinco pontos percentuais apenas pelo efeito do crescimento de seu tempo de propaganda eleitoral no rádio e TV. É o que estima um estudo realizado pelo economista e professor do Insper João Manoel Pinho de Melo.
Hoje, no primeiro turno, Marina dispõe de um programa de 2'03'', espaço cerca de 5,5 vezes menor do que o de sua principal adversária, a presidente Dilma Roussef (PT), que conta com 11'24''. No segundo turno, porém, os candidatos têm espaços iguais, tanto no horário eleitoral, com dez minutos para cada, quanto na quantidade de inserções veiculadas ao longo da programação normal das emissoras.
No artigo, publicado na revista "Review of Economic Studies", Melo estima o quanto da votação a mais recebida no segundo turno pode ser atribuída ao efeito isolado do incremento no tempo de propaganda. O economista analisou uma amostra de 37 eleições a governador que chegaram ao segundo turno entre 1998 e 2006.
Em média, o candidato que teve o menor tempo de TV ganha 0,15 ponto percentual para cada ponto percentual que o separa dos 50% de tempo igualitário que os finalistas recebem no segundo turno.
O cálculo desse salto parte da premissa de que a eleição se concentra nos dois principais candidatos. Assim, somados os tempos de propaganda de Dilma e Marina no primeiro turno, a petista tem uma fatia de 85% e a pessebista, de 15%. Como no segundo turno as duas ocuparão 50% cada, Marina ganhará 35 pontos percentuais em sua propaganda eleitoral.
Esses 35 pontos a mais multiplicados pelo fator de 0,15 ponto percentual indicam que a votação de Marina no segundo turno ganharia 5,25 pontos percentuais - apenas pelo impacto do aumento do tempo de TV.
"Para uma eleição apertada como esta, é uma grande diferença", afirma Melo, também economista da Pacifico Gestão de Recursos.
Para estimar o fator de 0,15 pontos percentuais, o professor comparou as primeiras pesquisas eleitorais divulgadas durante as campanhas de segundo turno com os resultados das urnas. A divulgação da primeira pesquisa da segunda etapa ocorre em média, afirma Melo, seis dias depois do primeiro turno. É um tempo suficiente, argumenta, para que o eleitorado seja exposto a outros fatores políticos, como eventuais anúncios de apoio dos candidatos derrotados no primeiro turno - o que leva à reacomodação de forças. Com o cenário mais definido, diz Melo, é possível estimar melhor o efeito isolado do tempo de propaganda eleitoral até a votação final.
Se, por hipótese, no primeiro levantamento do segundo turno, Marina aparecer numericamente empatada com Dilma - como ocorreu na simulação do último Ibope - a tendência é que o incremento da propaganda de Marina a leve a vencer a disputa por 55% a 45% dos votos válidos. O resultado considera que a pessebista sairia de uma situação de empate (50% a 50%) e ganharia os cinco pontos percentuais devido ao efeito da propaganda, indo a 55%, enquanto Dilma, por sua vez, perderia os mesmos cinco, caindo para 45%.
Melo ressalva que outros fatores também influenciam o efeito da propaganda eleitoral, como sua qualidade e o discurso emitido pelo candidato. "É uma média. O efeito pode ser potencializado ou mitigado", diz, ressaltando ainda que, estatisticamente, há uma margem de erro.
Por isso, o incremento na votação de Marina pode variar de 1,75 a 8,75 pontos percentuais em razão do tempo de TV.
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