Com mais gente desempregada, vai ser mais difícil festejar o Natal neste ano. A crise bateu mais duramente no mercado de emprego, no mês passado, e a consequência foi o fechamento de 30.283 vagas com carteira assinada, segundo o Ministério do Trabalho. Foi o primeiro resultado negativo em outubro desde 1999, início da série do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), baseado em informações de todo o País. Mas nem tudo é tristeza nesse quadro. É quase impossível deixar de rir, e até de gargalhar, diante da explicação do ministro do Trabalho, Manoel Dias. Segundo ele, as demissões no mês passado foram causadas pela seca em São Paulo e pela dureza da disputa eleitoral.
"Como tivemos um debate muito renhido na campanha eleitoral, muita gente deixou de fazer investimentos para esperar passar as eleições e ver como ficava", disse o ministro. Além disso, a redução de 21.886 postos de trabalho em São Paulo, acrescentou Manoel Dias, comprova a importância da seca na redução do emprego.
O ministro está certo pelo menos quanto a um ponto, e isso já é notável quando se trata de um auxiliar da presidente Dilma Rousseff. Os empresários têm de fato investido menos que em outros tempos, mas começaram a cortar as compras de máquinas e equipamentos e a adiar seus planos de expansão bem antes das eleições. Talvez o ministro desconheça os números da indústria de bens de capital, muito ruins nos últimos quatro anos, mas esse é um detalhe pouco importante para a retórica dos atuais ministros. Tem havido, sim, muita insegurança entre os empresários, principalmente da indústria, e as eleições foram apenas mais um capítulo dessa história.
As demissões nas fábricas de São Paulo são componentes de um quadro bem conhecido e de nenhum modo surpreendente, mostrado de forma inequívoca pelos números das entidades do setor, como a Fiesp, e também pelas pesquisas do IBGE. Na economia paulista, a indústria foi responsável pelo maior número de dispensas, 12.122. A agropecuária apareceu em seguida, com 11.037, e a construção civil em terceiro lugar, com 6.021. Comércio, serviços e administração pública mais contrataram do que demitiram, e nisso acompanharam a tendência nacional.
Segundo o Caged, em todo o País foram fechados 11.849 postos na indústria de transformação, 33.556 na construção civil, 557 na atividade extrativa mineral, 85 nos serviços industriais de utilidade pública e 19.624 na agricultura. O comércio abriu 32.771 postos, os serviços, 2.433 e a administração pública, 184.
O ministro Manoel Dias disse acreditar num cenário melhor em novembro e, além disso, chamou a atenção para o resultado positivo do ano, com criação líquida de 912.287 postos de trabalho formal. Mas, como vem ocorrendo há mais de um ano, o otimismo tende a murchar quando se examinam os componentes do quadro.
A fonte dos melhores empregos, a indústria de transformação, criou apenas 46.981 nesse período. A construção civil, somente 71.809, apesar do alarde do governo sobre o programa de habitações populares e sobre os investimentos em infraestrutura. Os serviços abriram 582.425 vagas, ou 63,84% do total, e os empregos foram criados principalmente em segmentos de baixa produtividade e de salários modestos. O comércio contratou 81.142 pessoas. Com certeza poderia ter contratado mais, se os empresários do setor estivessem menos pessimistas quanto às vendas de fim de ano.
Segundo o IBGE, a produção industrial cresceu 0,4% em 2011, diminuiu 2,3% em 2012 e aumentou 2,1% em 2013. Nos primeiros três anos do atual governo, o produto da indústria ficou estagnado e o quadro piorou neste ano. De janeiro a setembro, o resultado foi 2,9% inferior ao de um ano antes. A queda no investimento combina com esses dados. Até setembro, neste ano, a produção de máquinas e equipamentos foi 8,2% menor que no ano anterior. Em 12 meses a queda foi de 4,3%. Ao longo do ano passado aumentou 12,1%, depois de ter diminuído 11,2% em 2012. Como pode alguém se espantar com a piora do emprego na indústria?
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