• Decisão seria a prova de que o governo vai mesmo investigar e não ficar só no discurso
Cristiane Jungblut – O Globo
BRASÍLIA - A oposição acusa o governo de querer capitalizar politicamente as ações da Lava-Jato, mas pretende usar o próprio discurso da presidente Dilma Rousseff como arma para forçar a aprovação, na CPI Mista da Petrobras, da convocação de Renato de Souza Duque, ex-diretor de Serviços da estatal preso na última sexta-feira. O DEM e o PSDB acusam Dilma de atribuir como ação de governo uma investigação que é independente e dizem que isso só será verdade se a base aliada mudar de postura na CPI Mista. Na semana passada, houve um acordo dentro da CPI para evitar a convocação de Duque e de empreiteiras.
O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), disse ontem que a convocação de Duque será a prova de que a presidente não quer ficar apenas no discurso. Ele frisou que a investigação não é do governo, mas fruto da ação do Ministério Público, da Polícia Federal e da Justiça federal.
- O governo até agora atuou para impedir a investigação da CPI Mista. A bancada aliada atuou para impedir a convocação de Duque na semana passada. Espero que esse discurso dela (da presidente) possa fazer uma recondução da postura do governo até aqui - disse Mendonça Filho.
O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), foi irônico ao comentar as declarações de Dilma e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo - que acusou a oposição de querer transformar a Lava-Jato em "terceiro turno eleitoral".
- Se os líderes do governo concordarem em convocar o Duque, talvez comecemos a dar um pouco de crédito às declarações. Como é que a presidente Dilma vai continuar dizendo que não sabia de nada? - disse Aloysio.
- Não vejo nenhuma autoridade da presidente nesta questão. Ela comandou a Petrobras, por meio do Conselho da empresa, e foi ministra de Minas e Energia. É possível até que ela não soubesse de tudo, mas não pode dizer que não sabia de nada - completou o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA).
Para a oposição, Graça Foster perdeu a condição de se manter na presidência da empresa. A avaliação é que a Petrobras está desgastada e que o governo precisa anunciar mudanças na gestão.
Apreensão no PT e no PMDB
Do lado da base aliada, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), disse que não se opõe à convocação de Duque. Já o líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), disse que ainda vai discutir a questão com a direção do partido.
- Não sei se Duque foi indicado pelo partido. Se foi, não foi para fazer propina. - disse Vicentinho.
Nos bastidores, PT e o PMDB estão preocupados com os desdobramentos das investigações. O PMDB tenta se descolar de Fernando Baiano, que está foragido. O vice-presidente Michel Temer conversou com aliados ontem sobre as denúncias, e o clima é de apreensão. O discurso é lembrar que, em depoimentos dados na investigação, Baiano foi apontado como tendo relações com Nestor Cerveró, ex-diretor da estatal indicado pelo PT.
Já o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), disse que apresentará requerimento à CPI Mista solicitando cópias do contrato da Petrobras com a Camargo Corrêa, em relação ao pagamento de aditivos para a obra da termelétrica de Termoaçu, no Rio Grande do Norte, como revelou O GLOBO. Na sexta-feira, o PPS já havia defendido a convocação de Duque.
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