Talita Moreira, Fernando Torres e Claudia Schüffner – Valor Econômico
SÃO PAULO e RIO - O mercado de capitais vai ficar fechado para a Petrobras até a divulgação do balanço do terceiro trimestre. Sem números devidamente auditados, é impossível a estatal emitir títulos de dívida para financiar seu plano de investimento.
O atraso também tem um efeito inédito na credibilidade da maior companhia da América Latina, o que pode elevar o custo de captação quando o mercado reabrir as portas para a empresa.
A situação não é dramática porque a Petrobras não precisa acessar o mercado agora, mas, se o impasse perdurar, pode afetar a sua capacidade de investimento e da cadeia de fornecedores.
A contratação pela Petrobras, há pouco mais de 20 dias, de dois assessores externos para apurar a extensão dos casos de corrupção não é suficiente para que o auditor ateste a validade do balanço, segundo um executivo da área. Antes que haja um resultado consistente sobre esse trabalho de apuração, os administradores da companhia não podem tirar uma conclusão. "O auditor não pode concluir antes que a companhia conclua", diz.
Em junho, a estatal tinha em caixa R$ 66,4 bilhões. Os recursos são suficientes para cobrir os R$ 23 bilhões em dívidas que vencem até meados de 2015 e bancar os investimentos de dois trimestres. Não é, porém, uma folga tão grande para uma empresa cujo plano de investimento para o período 2014-2018 soma US$ 206,8 bilhões. Para fazer frente a esses números e não comprometer sua já alta alavancagem, a Petrobras precisa do mercado.
Para manter a estrutura atual rodando, a empresa precisará de US$ 20 bilhões ao ano, até 2018, entre empréstimos e captações. Desde janeiro, levantou US$ 13,6 bilhões por meio de emissões de bônus no exterior e R$ 800 milhões no mercado local com debêntures.
A companhia estudava a possibilidade de fazer uma captação em euros até o fim de dezembro. Agora, as chances minguaram. "O ano acabou para a empresa", disse um banqueiro que atua na estruturação de ofertas de bônus.
Gestores de fundos de investimentos sequer têm mandato para comprar títulos de uma empresa sem conhecer seus dados financeiros. Ao mesmo tempo, se não divulgar o balanço do terceiro trimestre até o fim do ano, a Petrobras descumprirá cláusulas de uma série de emissões de bônus.
Atraso do balanço trava captações da Petrobras
O mercado de capitais vai ficar fechado para a Petrobras, na melhor das hipóteses, até a maior companhia da América Latina divulgar seu balanço do terceiro trimestre. Sem números convincentes - e devidamente auditados - é impossível a estatal emitir títulos de dívida no Brasil ou no exterior para financiar seu bilionário plano de investimentos.
O atraso também tem um inédito efeito na credibilidade da companhia, o que pode elevar o custo de captação quando o mercado reabrir as portas para ela. Na sexta-feira, gestores de recursos falavam em danos à imagem da Petrobras diante da incapacidade da estatal de apresentar dados básicos para uma empresa de capital aberto.
A situação não é dramática porque a Petrobras não precisa acessar o mercado agora, mas tampouco é confortável. Se o impasse perdurar, pode afetar a capacidade de investimentos da estatal - e da cadeia de fornecedores a seu redor.
No fim de junho, a Petrobras tinha em caixa R$ 66,4 bilhões. Os recursos poderiam cobrir os R$ 23 bilhões em dívidas que vencem até meados do próximo ano e bancar os investimentos de dois trimestres (a estatal investe cerca de R$ 20 bilhões a cada três meses).
Não é uma folga tão grande para uma empresa cujo plano de investimentos para os próximos anos soma US$ 206,8 bilhões. Para fazer frente a esses números e não comprometer sua já alta alavancagem, a Petrobras precisa do mercado de capitais.
O estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido, vê três caminhos para a estatal ter mais folga financeira. Um deles é emitir ações, algo fora de cogitação enquanto não fizer as pazes com o mercado. Outro é vender ativos. "Ou então ela corta investimentos e, nesse caso, não vai precisar captar tantos recursos", diz.
Para manter a estrutura atual rodando, a Petrobras precisará de US$ 20 bilhões ao ano entre empréstimos e captações. Desde janeiro, levantou US$ 13,6 bilhões por meio de emissões de bônus no exterior e R$ 800 milhões no mercado local por meio de uma operação com debêntures.
A companhia estudava a possibilidade de fazer uma captação em euros até o fim de dezembro. Agora, as chances de isso acontecer minguaram. "O ano acabou para a empresa", afirma um banqueiro que atua na estruturação de ofertas de bônus.
Gestores de fundos de investimentos sequer têm mandato para comprar títulos de uma empresa sem conhecer seus dados financeiros. Ao mesmo tempo, se não divulgar o balanço do terceiro trimestre até o fim do ano, a Petrobras descumprirá cláusulas ("covenants") de uma série de emissões de bônus em circulação no mercado, conforme relevou o Valor na semana passada.
Recorrer a empréstimos também ficou mais difícil. "Não há banco no mundo que faça um desembolso para a Petrobras neste momento", opina um diretor de uma instituição estrangeira.
A piora na percepção de risco ficou evidente nos preços dos bônus da estatal negociados no mercado. Os títulos com vencimento em 2024 estavam cotados na sexta-feira a 100,66% do valor de face, com queda de 2,15 pontos em relação à véspera. O rendimento do papel subiu para 6,20% ao ano, reforçando uma piora que já se via nas últimas semanas. No fim de outubro, a taxa estava em 5,43%.
Alexandre Ataíde, gestor de portfólio da Spinnaker Capital, observa que as taxas dos bônus de 2024 da Petrobras subiram mais que o prêmio de risco do Brasil em novembro. "Houve uma piora inerente à própria companhia", afirma.
Porém, o "efeito Petrobras" respingou em outras estatais, com o temor dos investidores de que os problemas encontrados na companhia possam se repetir nas demais controladas do governo. Bônus do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que vencem em 2020 estavam cotados a 106,80% de seu valor de face na sexta-feira, com queda de 0,23 ponto em relação à véspera. Os bônus perpétuos do Banco do Brasil emitidos em 2012 encostaram no menor patamar da história e eram negociados a 101,59%, redução de 1,79 ponto.
Os papéis com risco "quase soberano" - semelhantes ao risco-país - já vinham em queda desde o período eleitoral. Entretanto, houve uma piora com o atraso no balanço da Petrobras e as prisões desencadeadas pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato. "Investidores estrangeiros começam a se perguntar se pode haver problemas de governabilidade [no segundo mandato de Dilma Rousseff]", diz um banqueiro.
Para continuar a acessar o mercado de bônus, a Petrobras terá de restaurar a confiança dos investidores, segundo Longdley Zephirin, presidente e diretor de pesquisa do Zephirin Group. "Se a confiança não for restabelecida, pode afetar não apenas a Petrobras, mas levar a atrasos na estrutura de óleo e gás que é necessária para o futuro da empresa e do Brasil", diz.
Na opinião de um gestor de recursos, o mau humor dos investidores tende a diminuir nos próximos dias, mas a sucessão de más notícias começa a "manchar" o nome da Petrobras.
Esse ponto é importante porque a estatal sempre foi considerada boa pagadora. Mesmo descontentes com a gestão da companhia e com a política econômica brasileira, investidores estrangeiros costumavam correr em massa para os títulos da Petrobras. Na emissão de bônus feita em março, a empresa captou US$ 8,5 bilhões, mas a demanda chegou a US$ 23 bilhões.
Apesar do arranhão na imagem, a avaliação de crédito da Petrobras não será afetada de imediato, segundo as agências Standard & Poor's (S&P) e Moody's.
"A Petrobras acessa o mercado com precificações abaixo de seu rating. E ela não tem necessidade de acessar o mercado agora", diz Regina Nunes, presidente para o Cone Sul e para a América Latina da S&P. A companhia é classificada em "BBB-" pela agência, igual à nota atribuída ao Brasil.
Em nota, a Moody's afirma que o adiamento do balanço não tem implicações para o rating da empresa no curto prazo. Porém, a vice-presidente da agência Nymia Cortes de Almeida acrescentou por e-mail que a governança corporativa é um fator importante na definição do rating. (Colaboraram Sérgio Lamucci, de Washington; Vinícius Pinheiro e Thais Folego, de São Paulo)
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