- Folha de S. Paulo
A Petrobras simboliza as maiores ambições do chamado desenvolvimentismo brasileiro. Ela nos tornaria livres da dependência externa de combustíveis, evitaria a expropriação dos lucros do subsolo pelas corporações imperialistas, estabilizaria os níveis de preços e de investimentos, faria florescer ao seu redor uma exuberante cadeia de empreendedores nacionais.
O interregno entre o fim da ditadura e o início do governo petista foi um período de latência para o sonho da supercampeã nacional do petróleo. As finanças do país e do governo alquebradas, as cotações do produto em baixa e uma onda política algo mais liberal nos anos 1990 refrearam as pretensões monopolistas e tentaculares associadas à Petrobras.
O céu desenvolvimentista voltou a desanuviar-se com a entrada dos "roaring 2000s", os estrondosos anos que abriram o século 21. O ciclo petista coincidiu com o boom das mercadorias primárias, cuja estrela maior foi o petróleo.
Prosperou uma versão inebriante de "O petróleo é nosso". Foi revertido o modelo de exploração do produto para devolver à estatal o virtual monopólio. A política de conteúdo nacional, a explosão de investimentos multibilionários e aquisições, além da capitalização com recursos do Tesouro, colocaram a Petrobras no centro de um sistema solar em torno do qual gravitam múltiplos interesses empresariais e políticos, totalmente dependentes da sua luz.
Mas eis que os astros inquietos começam a deixar o alinhamento.
A cotação do petróleo mergulha e ensaia permanecer em baixa. A capacidade de investir e gerar caixa da Petrobras foi sufocada na tentativa de evitar disparada maior da inflação. A oposição política está fortalecida, e o consórcio de interesses dependentes e parasitários da estatal entrou em colapso, num escândalo de corrupção de proporções ciclópicas.
Um novo período de vacas magras está à frente. Petrobras, ano zero.
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