• É preciso evitar que investigações se atropelem e deem munição a chicanas advocatícias. E elas deverão ser muitas, dado o cacife dos acusados
As investigações do esquema de corrupção na Petrobras, o petrolão, ampliam o tamanho da roubalheira e revelam métodos sofisticados de drenar dinheiro público da estatal para os subterrâneos da política. A cartelização do grupo de grandes empreiteiras, na constituição de um "clube", para dividir obras da estatal e pagar propinas a ex-diretores da empresas e/ou políticos, é digna dos grandes golpes no mundo do crime do "colarinho branco".
Ainda falta conhecer todo um lado financeiro do esquema, o da lavagem do dinheiro feita pelo especialista Alberto Youssef, a consequente conversão de reais em dólares, para serem remetidos ao exterior. No campo das técnicas de dissimulação, destaca-se, até agora, a revelação, em delação premiada de empreiteiros, que parte de propinas destinadas ao ex-diretor Renato Duque, apadrinhado do PT, foi convertida em doação legal ao partido, numa lavagem dupla dos recursos.
A apreensão, no escritório do doleiro Youssef, de uma planilha com 747 obras de infraestrutura em que estão envolvidas 170 empresas corrobora a afirmação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa de que a cobrança de propinas não ocorre apenas na estatal. Abrangeria projetos em vários outros setores: portos, ferrovias, etc.
É natural que a primeira reação seja defender-se a ampliação das investigações da Operação Lava-Jato, da PF, cujo inquérito foi aceito pelo juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná.
Trata-se, porém, de um erro dispersar, agora, as investigações, a serem concentradas no esquema na Petrobras. Sem prejuízo, claro, da abertura de tantos inquéritos quanto forem necessários, à medida que fique evidente que a cobrança de propinas se transformou em regra nas obras do PAC — algo bastante possível.
Mas a meta deve ser ir fundo e esclarecer por inteiro a montagem da roubalheira na Petrobras pelo lulopetismo. Sem deixar escapar suas variantes, como a proximidade de fundos de pensão de estatais, por exemplo.
Pode-se, até, chegar à conclusão que tudo tem a ver com a defesa que faz o PT do fim das contribuições legais de empresas a campanhas, jogando-as todas no universo ilegal do caixa dois, onde o partido já levaria enorme vantagem sobre as legendas adversárias — como demonstra a máquina lulopetista que operou na Petrobras.
Cabe lembrar que a expertise petista neste ramo vem de longe — das prefeituras paulistas e também da montagem da rede de apoio partidário à primeira candidatura Lula, em 2002. Já é parte da História o relato das negociações financeiras a portas fechadas entre José Dirceu e Valdemar Costa Neto, então PL, sobre o pagamento do dote de José Alencar, para o empresário ser o vice de Lula. Ali já era o mensalão.
Tudo pode estar interligado, de 2002 a 2014. Mas é importante evitar que as investigações se atropelem e deem munição a chicanas advocatícias. Elas deverão ser muitas, dado o cacife dos acusados.
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