domingo, 14 de dezembro de 2025

A doutora Viviane Moraes e o Master. Por Elio Gaspari

O Globo

O repórter Lauro Jardim revelou no último dia 7 que a Polícia Federal (PF) encontrou na papelada do Banco Master um contrato de honorários do escritório da advogada Viviane Barci de Moraes.

Dois dias depois, a repórter Malu Gaspar deu detalhes do negócio:

O contrato entre o escritório da doutora Viviane e o banco do doutor Daniel Vorcaro previa uma remuneração total de R$ 129 milhões ao longo de 36 meses. Isso daria o pagamento de R$ 3,6 milhões mensais, e uma mensagem capturada pela PF indica que o doutor Vorcaro instruiu sua tesouraria para dar prioridade aos pagamentos ao escritório.

A banca da doutora Viviane atuou em pelo menos um caso, com uma equipe de dez advogados, entre os quais estavam seu filho e sua filha.

Viviane Barci de Moraes é a mulher do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A equipe de Malu Gaspar procurou o escritório da doutora, representantes do banco e o próprio ministro Alexandre de Moraes. Silêncio total.

Em maio de 2024 o banco Master custeou uma farofa londrina que incluía um painel enfeitado pelo ex-primeiro ministro Tony Blair, um farofeiro cosmopolita. O ministro Alexandre de Moraes esteve em painéis do evento.

Em outubro, o Tribunal de Contas da União (TCU) estranhava uma operação de compra de papéis do Master pela Caixa Asset e a repórter Consuelo Dieguez expunha “Os negócios de alta tensão de um banco”. Estava tudo lá, o Master pagava acima do mercado com seus papéis, e a conta iria para o Fundo Garantidor de Crédito.

À época, Vorcaro desafiava:

“Dizer que o banco está alavancado porque emite muito CDB? Isso é gente sem informação. É só o cara ligar para o Banco Central e perguntar. Eu não tenho nada a temer.”

O silêncio dos interessados desperdiçou uma oportunidade de esclarecer os detalhes da relação da banca da doutora Viviane com o banco do doutor Vorcaro.

Marcos Azambuja fala

O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) acaba de publicar “Memórias”, do embaixador Marcos Azambuja (1935-2025). São 368 páginas de longas entrevistas dadas a Gelson Fonseca Jr., Monica Hirst e Alexandra de Mello e Silva.

É uma aula de diplomacia e serviço público, na voz de um diplomata, ex-secretário-geral do Itamaraty, embaixador em Buenos Aires e Paris. Quando os diplomatas rememoram, falam mais de si. Azambuja fala mais de suas ideias e das ideias dos outros. Faz isso com uma certa “desembargadorização” (palavra que ele usava).

Azambuja foi um grande contador de histórias, engraçado, irreverente e até picante. Nas entrevistas fez poucas concessões à leveza. Tratando de Lula, disse:

“Eu acho que um dia o Lula, como se fosse um rei francês, deverá ser numerado: Lula I, Lula II, Lula III, Lula IV. O Lula que chegou ao poder é o Lula V ou o Lula VI”.

Falando do general João Baptista Figueiredo:

“O fim do governo Figueiredo é um dos momentos mais melancólicos da História do Brasil. Aquele homem fisicamente deteriorado, cercado de pessoas que o manipulam em certa parte. É um Brasil diminuído”.

Sua irreverência impediu que fosse definido como um diplomata de vitrine. Suas memórias revelam o pensador que havia naquele personagem divertido.

Estranho às modas da Casa, via o Brasil à sua maneira:

“Vou tentar resumir tudo o que eu tenho pensado em política externa.

Eu acredito que o Brasil tem poder suficiente para participar dos jogos exclusivos de desenho do mundo, mas não tem a capacidade de resistir a essas tendências.

Em outras palavras, eu não creio que o Brasil tenha poder suficiente para criar um obstáculo a nada que vá nascer. O que ele tem é capacidade de influência de alguns aspectos daquilo que está nascendo. Portanto, não é de fora, se juntando a um coro que será inócuo, mas sim de dentro, influenciando num bom sentido”.

Em 1982, o governo de Ronald Reagan queria invadir o Suriname.

O Brasil condenou a ideia, se ofereceu para acalmar o ditador local e avisou:

“O Brasil não gosta de tropas na sua fronteira”.

Falando do prazer que teve na embaixada em Paris, matou a pau:

“Na França, quase todo brasileiro vai expressamente para não fazer nada”.

Fachin e seu código

Os ministros do STF que detestam a ideia de um código de conduta, defendido pelo presidente da Corte, Edson Fachin, não perceberam que estão numa armadilha.

Se Fachin conseguir colocar de pé um código de conduta para seus pares, entra para a história do STF.

Se ele não conseguir, também entra, deixando seus adversários numa posição delicada, até porque a ideia do código de conduta dos ministros continuará na pauta dos contribuintes que pagam pelas farofas y otras cositas más.

Até agora sabe-se que o código é defendido, além de Fachin, pela ministra Cármen Lúcia.

Hugo Motta

De uma hora para outra, discute-se a fraqueza do deputado Hugo Motta na presidência da Câmara.

Tudo bem, mas podia-se discutir também a esperteza de quem o pôs lá.

O primeiro da lista é seu antecessor, o deputado Arthur Lira. Esculhambação foi colocá-lo na cadeira ocupada por Ulysses Guimarães.

Kassab lança Tarcísio

A primeira consequência do aparecimento da candidatura do senador Flávio Bolsonaro foi a decisão de Gilberto Kassab de lançar o governador Tarcísio de Freitas.

Isso deveria acontecer, com mais festa, nos primeiros meses de 2026.

Demagogia contra a Enel

Um vendaval atingiu São Paulo, deixando 1,3 milhão de imóveis sem energia. Logo apareceram o governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes tirando mais uma casquinha em cima da concessionária Enel.

Tarcísio pede uma ação federal, e Ricardo Nunes condenou a Enel pela enésima vez.

Faltam argumentos aos dois. A Enel diz que faz o serviço e não pode derrubar árvores com raízes podres. Cumprem um cronograma: em dezembro chove, milhões ficam sem energia e tanto o governador quanto o prefeito atacam a Enel.

A empresa tem dados para mostrar que tenta se precaver. Resta saber se faz esse serviço direito.

Durante o período de estiagem, Nunes e Tarcísio esquecem a Enel e suas vítimas

Recordar é viver

Donald Trump não quer pobres nos EUA e vende vistos por 2 milhões de dólares.

Trump não deixaria entrar Andrew Carnegie (1835-1919). Ele veio com 13 anos, com os pais escoceses. Tinham pouco dinheiro. Carnegie começou a trabalhar aos 14 anos se tornou o homem mais rico dos Estados Unidos.

Nenhum comentário: