• Governo estuda dar cargo de assessor especial ao ex- presidente se decisão de Gilmar Mendes for mantida
Sérgio Roxo Simone Iglesias - O Globo
- SÃO PAULO e BRASÍLIA- O ex-presidente Lula fez ontem um apelo ao Congresso. Em encontro com sindicalistas em São Paulo, o petista disse que o Brasil será o “país da alegria” em seis meses se deputados e senadores tiverem paciência. Na Câmara, já começou a tramitar o processo do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
— Vou fazer um manifesto semana que vem para deputados e senadores: deem para a gente seis meses de paciência que a gente vai provar que esse vai ser o país da alegria — disse o ex-presidente.
Lula garantiu ainda que não pretende desistir de ser ministro do governo por causa de “meia dúzia de acusações”.
— Obviamente que se enganam aqueles que acham que eu sou contra o combate à corrupção. Se eu fosse, não teria criado as condições para melhorar a PF, para escolher o primeiro da lista do MP, para melhorar a CGU, para fazer a quantidade de leis, Portal da Transparência. Temos leis para o cara saber até o papel higiênico que a gente usa. Não tenho medo de combate à corrupção — discursou para sindicalistas, que leram um manifesto pedindo sua posse no Ministério da Casa Civil, suspensa pela Justiça. Lula também criticou a imprensa: — Eu estou enojado com o comportamento de determinados setores de comunicação, que transformam em coisa pública uma conversa particular
Apesar de ter defendido o combate à corrupção, o ex-presidente fez críticas à Lava- Jato. O petista pediu aos sindicalistas para questionarem a força- tarefa e o juiz Sérgio Moro sobre o prejuízo que a ofensiva contra as empreiteiras pode trazer à economia. De acordo com Lula, o FMI afirmou que 2,5% da queda do PIB se deve “ao pânico criado na sociedade brasileira”.
— Quando isso terminar, você pode ter muita gente presa, mas pode ter muita gente desempregada nesse país. Vocês têm que procurar a força- tarefa e perguntar se eles têm consciência do que está acontecendo neste país.
Lula ironizou o ministro do Supremo Gilmar Mendes, responsável pela suspensão de sua posse na Casa Civil:
— O ministro Gilmar me cassou e viajou para Portugal (onde participa de um seminário na próxima semana). Pacientemente, vou esperar. Se enganam aqueles que acham que eu só posso ajudar a Dilma se for ministro — disse o petista, deixando aberta a possibilidade de assumir um outro posto no governo, como revelou ontem o ministro Jaques Wagner.
Se o STF mantiver a decisão de Gilmar, Lula poderá assumir cargo de assessor especial da Presidência. O Planalto irá aguardar o julgamento do mérito da liminar — o que deverá ocorrer só no dia 2 de abril por causa da viagem de Mendes —, mas já pensa em um plano B para manter Lula em Brasília.
Segundo Wagner, é importante para o governo que Lula tenha função institucional para conversar com parlamentares em busca de apoio contra o impeachment:
— É importante Lula permanecer no governo porque ele é um exímio negociador, mas precisa de institucionalidade para conversar com os políticos.
A função exata ainda não está definida, mas falase, no governo, em posição semelhante à do assessor especial de Dilma, Giles Azevedo, considerado a pessoa mais próxima e leal à presidente. Isso implicaria, naturalmente, efetivação de outro nome na Casa Civil. Ontem, Dilma disse crer que Lula conseguirá ser seu ministro.
— Não só acredito como estou lutando para tal — disse a presidente.
O governo ainda estuda o que fazer com o Ministério do Esporte, hoje sob comando de George Hilton. Ele foi indicado pelo PRB, partido que integrava a base aliada da presidente, mas rompeu com o governo há dez dias e entregou os cargos que ocupava. Hilton não aceitou pedir demissão e se filiou ao PROS para se manter no ministério. Este partido, no entanto, não integra a base de Dilma formalmente.
Dentro do governo, Hilton já é considerado demissionário. Antes de Hilton, ocupava a pasta Aldo Rebelo (PCdoB), atual ministro da Defesa. Os comunistas poderão voltar ao comando do Ministério do Esporte com a eventual nomeação de Ricardo Leyser, atual secretário-executivo da pasta.
— Hilton saiu do PRB e não houve negociação com o PROS, partido para onde ele foi, para ocupar o ministério — afirmou Jaques Wagner.
Segundo ele, a demissão não é algo que ele tenha como “definitivo”, mas o ministro enfatizou que Hilton entrou em “rota de colisão” com o PRB ao mudar de legenda.
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