Por Raphael Di Cunto e Thiago Resende – Valor Econômico
SÃO PAULO - Em busca de pelo menos 172 votos para barrar o impeachment na Câmara dos Deputados, o governo iniciou ofensiva para mapear o real apoio nos partidos da base aliada. A presidente Dilma Rousseff recebe, desde segunda-feira, presidentes e líderes governistas para pedir apoio, medir o número de dissidentes e prometer atender as demandas de cada sigla.
Um dos primeiros movimentos foi demitir o deputado George Hilton (Pros-MG) do Ministério do Esporte ontem. Hilton estava na cota do PRB, que rompeu com o governo na semana passada e se declarou independente, sem anunciar ainda posição sobre o impeachment. Para ficar na Pasta, o parlamentar mudou para o Pros para ficar na "cota pessoal" de Dilma.
Mas o governo avaliou que Hilton não garantia nem os votos do Pros - dos seis deputados, quatro são a favor da saída de Dilma- e ainda poderia levar o PRB a fechar questão pelo impeachment. O Planalto trabalha para que o partido libere seus 22 deputados para votar como quiserem.
O secretário de Alto Rendimento, Ricardo Leyser, ligado ao PCdoB, deve ficar como interino da Pasta até o impeachment e os secretários indicados pelo PRB serão mantidos. Caso o impeachment seja debelado, a sinalização ontem era de que o partido poderia ser reincorporado à vaga.
O papel e número de votos que outros ministros garantem contra o impeachment serão analisados um a um. A ideia, afirma um governista, é manter só quem tem apoio partidário e respaldo dos parlamentares. Um dos nomes sob lupa é do ministro do Turismo, Henrique Alves (PMDB), indicado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB).
A avaliação no Palácio é que não vale manter um ministro pela ligação com Temer e Cunha, cada vez mais distantes do governo, e que Alves, embora ex-líder do partido e presidente da Câmara, não tem influência entre os atuais deputados. Até o primo dele, o deputado Walter Alves (PMDB-RN), já se declarou favorável ao rompimento e ao impeachment.
"Mas o Henrique é presidente do PMDB no Rio Grande do Norte e tem trabalhado para evitar que o partido aprove o rompimento na reunião do diretório nacional [dia 29]", pondera um governista. "Todos os movimentos nos próximos 15 ou 30 dias são muito sensíveis e terão que ser medidos com todas as suas consequências", completa.
A avaliação do ministério e as conversas com os partidos avançarão durante o feriado. Dilma, ao lado do ministro Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, tenta consolidar uma base sólida de apoio. Já conversou com PSD, PP e PMDB. Terá conversas com PDT, PR e PCdoB na próxima semana.
Nestes diálogos, apurou o Valor, a presidente pede que os dirigentes "falem a verdade" sobre quantos votos seriam contrários ao impeachment. "Não disfarcem a verdade", cobra. Os números apresentados, contudo, são diferentes dos comentados nos corredores da Câmara. O PP diz ter 20 votos a favor do governo, mas pepistas afirmam que há, no máximo, 10. No PSD, a conta oficial é de que há empate entre os contrários e os favoráveis, mas a maioria está indecisa. Um dos principais líderes da legenda afiança, porém, que 70% da bancada votaria pela troca de governo. O PMDB garante a Dilma de 15 a 20 votos dos 69 possíveis.
Três pessoas que participaram das conversas afirmam que não há sugestão de cargos, pagamento de emendas ou outras ofertas que não possam ser comentadas em locais públicos, embora a oposição esteja acusando o governo de "operar" no varejo para cooptar parlamentares. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não participou das tratativas.
Do PP, Dilma ouviu a cobrança por um espaço mais robusto. O partido, que é o segundo maior da base e foi o que mais cresceu este mês, com 49 deputados, ainda se ressente de perder o Ministério das Cidades para o PSD (34 deputados) no segundo mandato. A presidente afirmou que não fará movimentos "bruscos" neste momento, com mudanças que possam conflagrar a base, mas que se o PP "for fundamental" contra o impeachment será recompensado.
A legenda é uma das que discute o romper com o governo. No mesmo dia em que se reuniu com Dilma, o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), recebeu do deputado Jerônimo Goergen (RS) lista de 22 deputados e quatro senadores que querem a saída do governo e marcou reunião com as bancadas para quarta-feira, um dia depois de o PMDB decidir se continua aliado do PT ou se entrega todos os cargos.
A hipótese da saída, porém, é vista como improvável por dissidentes e governistas. "Tanto faz romper ou não. Podemos ficar com os cargos e, se ocorrer o impeachment, Temer terá que nos chamar para compor. Temos 50 deputados, não tem como nos deixar de fora do ministério", disse um dos pepistas aliados ao governo - seja do PT ou do PMDB. Já se passaram quatro das dez sessões que Dilma tem de prazo para apresentar sua defesa à comissão do impeachment, a qual deve votar o parecer sobre o assunto até meados de abril.
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