Dilma e Temer fazem guerra de votos à véspera de votação do impeachment
Valdo Cruz, Gustavo Uribe, Dimmi Amora, Daniela Lima, Marina Dias, Machado da Costa, Márcio Falcão, Paulo Gama, Ranier Bragon, Isabel Fleck e Leandro Colon – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Na véspera da votação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff pela Câmara dos Deputados, os grupos da petista e do vice-presidente Michel Temer se jogaram numa ofensiva final e partiram para um guerra de números sobre o placar deste domingo (17), com os dois lados cantando vitória.
Separados por 1,3 km, Dilma e Temer fizeram dos palácios da Alvorada e do Jaburu seus bunkers na busca dos últimos votos.
Enquanto o PMDB e a oposição garantiam ter pelo menos 375 votos, o Palácio do Planalto contabilizava entre 182 e 185 apoios, acima dos 172 necessários para barrar o pedido de impeachment.
A capital do país virou um centro de reuniões de última hora neste sábado (16), num clima de eleição indireta entre a petista e o peemedebista. Dilma Rousseff, com mesa farta de café e biscoitos, recebia no Alvorada deputados e ligava para outros, principalmente do PP e PR.
Em telefonema a aliados, a presidente garantia ter virado votos e afirmava estar "otimista" para a votação deste domingo, repetindo que já tinha mais de 180 votos garantidos.
Ali perto, no Palácio do Jaburu, a residência oficial da Vice-Presidência da República, o vice Temer chegou no meio da manhã, vindo de São Paulo, mudando seus planos iniciais que eram ficar fora de Brasília no dia da votação diante da informação de que o governo havia convencido entre 15 e 20 parlamentares a mudarem de posição e votar a favor da presidente.
O autor do relatório pedindo o impeachment de Dilma, Jovair Arantes (PTB-GO), considerou a ausência de Temer um erro.
Auxiliado pelo ex-ministro Eliseu Padilha, Temer recebeu a bancada mineira do PMDB e até o deputado Paulo Maluf (PP-SP), que foi dizer que não estava indeciso e votaria pela abertura do processo de impeachment.
Um pouco mais distante, a cerca de 10 km, o ex-presidente Lula participou de um ato a favor da presidente Dilma e contra o impeachment organizado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e pelo MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores).
Em discurso, ele comparou o placar da votação de domingo ao movimento da Bolsa de Valores. "É uma guerra de sobe e desce. Parece a Bolsa de Valores. O cara está com a gente uma hora e, em outra, não está mais, e você precisa conversar 24 horas por dia para não deixá-los conquistar os 342 votos", disse Lula.
A ação do governo também foi revelada em edição extra do "Diário Oficial" da União, publicada na sexta-feira (15), nomeando e exonerando mais de uma centena de cargos de comissão do governo, em 18 ministérios.
Enquanto isto, transcorria na Câmara dos Deputados a sessão do pedido de impeachment, onde um grupo de deputados antigoverno procurava criar uma terceira via "Nem Dilma nem Cunha".
Numa tentativa de desqualificar os movimentos batizados como "nem Dilma nem Cunha", o senador Romero Jucá (RR), aliado do vice e presidente interino do PMDB, disse que o nome dado à articulação está correto. "Realmente não será nem Dilma nem Cunha. Será Michel", afirmou.
Romero falou sobre o assunto na sua terceira passagem pela residência oficial do vice só neste sábado (16). A movimentação foi intensa durante todo o dia, com a visita de deputados e líderes de partidos que apoiam o impeachment.
Já no início da noite, Jucá disse que quem ganhasse "precisaria ter grandeza lara saber ganhar" e que o mesmo se aplicaria a quem perdesse a disputa. Ele afirmou, no entanto que o clima do PMDB é de tranquilidade e que o que houve foi uma onda de boatos.
Temer não falou com a imprensa e passou o dia cercado por aliados e assessores. Por fim, o vice ainda conseguiu um feito: sua mulher e seu filho caçula que moram em São Paulo vieram a Brasília acompanhar a votação ao lado dele.
O peemedebista decidiu que não deixará mais a capital até o fim da votação do impeachment.
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