- O Estado de S. Paulo
Vença ou não o impeachment – que chega a este domingo como tendência, apesar de tremeliques de última hora –, Dilma Rousseff, Lula e o PT são os grandes derrotados desse processo, que tem uma longa história, desde virar as costas a Tancredo, à Constituinte, a Itamar, ao Plano Real, com um ponto comum em todos esses momentos: o “nós” contra “eles”. Enfim, a realidade se impõe novamente: o “nós” é minoria, o “eles” é a maioria. A maioria da sociedade cansou da arrogância e da beligerância dessa minoria.
Apesar de o governo martelar dentro e fora do País a versão do “golpe”, não foi a oposição (muito menos o PSDB) que articulou o impeachment, redigiu e assinou o pedido de abertura, mobilizou milhões de brasileiros nas ruas, explodiu a base aliada. Em paralelo ao poderoso processo de inclusão social dos anos Lula, os responsáveis por tudo o que se está vendo e vivendo foram Dilma, Lula e o PT.
A presidente, pela incompetência, o destempero e a incrível capacidade de destruir a economia nacional. Lula, por se sentir Deus e dono do País, tomar de assalto a máquina, as estatais, os fundos de pensão e adotar a rotina da provocação à maioria que está em todas as classes de renda e em todas as regiões, estuda, trabalha, mora, produz, compra, vende. O PT, por jogar fora suas bandeiras e sua história pelo poder efêmero, esbaldando-se com adversários históricos e de passado duvidoso, incapaz de cobrar coerência e até decência do seu grande líder.
Na reta final do processo de impeachment, Dilma teve uma mãozinha de governadores camaradas, recebeu o diretor da OEA e reverteu um voto daqui, outro dali, mas os erros demonstram temor: a ida ao Supremo, a decisão e o recuo do pronunciamento pela TV, martelar que Michel Temer acabará com a Bolsa Família (repetição barata do bordão “o PSDB vai privatizar a Petrobrás”, de 2006). Por fim, a ida de Lula ao acampamento do MST. Para quem fala em “união nacional”...
Se conseguir os votos mínimos (1/3 da Câmara) para se segurar na cadeira, Dilma chega ao terceiro mandato como um fantasma, incapaz de incorporar uma presidente capaz de articular um pacto, arregimentar forças políticas, econômicos e sociais para reformas e para recuperar as contas públicas e a economia nacional. O mercado vai desandar. A crise vai explodir. Ela mantém o mandato, mas perde a Presidência para Lula – até onde a Lava Jato e a Zelotes permitirem.
Se der impeachment, Dilma vira mesmo “carta fora do baralho”. Nem PT, PC do B, PSOL e PDT vão bater à sua porta, acenar com uma volta por cima. Se não der, ela insistirá que lutará “até o último minuto”, mas faltarão ouvidos, tropas, armas.
Hoje é o dia “D” do impeachment. Se não passar, acabou. Se passar, dificilmente o Senado desautorizará a Câmara, até porque a votação para acatar o pedido é por maioria simples e ninguém considera a hipótese de o plenário trazer Dilma de volta depois de 180 dias fora. Aí, Inês é morta, Dilma também. Quanto a seu legado, a história se encarregará de contar.
A história, porém, não acaba aí. Estará só começando, com as forças políticas se reaglutinando, o PT e seus movimentos discutindo um plano de ação, os agentes econômicos pedindo pressa, os trabalhadores apreensivos, o mundo olhando de esgueira para o Brasil. Tempos difíceis para o Brasil e para Temer.
Se ele assumir, terá de mostrar a que veio e até onde vai, com a obrigação de se livrar de Eduardo Cunha na primeira hora. É do jogo e o próprio Eduardo Cunha, um jogador, sabe que é assim. Como resume realisticamente o deputado Jarbas Vasconcelos, um governo do PMDB tem chance zero. Temer só terá chance com um governo de união. O grito de guerra de muitos que votam hoje no impeachment é “Fora Dilma, Fora Cunha”, para começar do zero. Mas falta o placar...
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