- O Globo
17 de abril é um dia inesquecível para Dilma, Lula e FH. Por motivos diversos, o dia de hoje será inesquecível para Dilma Rousseff, Lula e Fernando Henrique Cardoso. Em 1984, há 32 anos, esse mesmo 17 de abril tomou-se inesquecível para todos eles. Juntos, deslumbravam-se com o êxito do último comício da campanha das Diretas, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.
Foi a maior manifestação popular ocorrida no país até então. Parecia um espetáculo produzido pelos delírios de Glauber Rocha e pela precisão de Francis Ford Coppola. Mora a multidão, a noite habitualmente modorrenta do centrão de São Paulo tinha cantorias, holofotes, a orquestra da Unicamp tocando a Quinta Sinfonia de Beethoven e uma banda com "Cisne Branco: Tudo isso e mais Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Lula e Fernando Henrique no palanque.
Ninguém seria capaz de supor que no espaço de uma geração acontecesse um rompimento tão radical. Talvez hoje eles nem fossem capazes de lembrar que nesse dia estiveram juntos.
Também não devem lembrar que, no dia 17 de abril de 1997, Fernando Henrique Cardoso estava na Presidência da República, o MST terminou sua marcha sobre Brasília, e 30 mil pessoas entraram no Eixo Monumental. Slogans da marcha diziam:
"FHC vendido entregando o ouro ao bandido" ou "É lutar para vencer e derrubar FHC': Outro viria a ser profético: "Fernando um, Fernando dois, qual será a merda que vem depois': Vieram Lula e Dilma. Assim, chega-se ao dia de hoje.
O 17 de abril não é uma data cabalística, mas um dia como os outros. Exposto ao tempo, revê-la pontos na vida das pessoas. Fernando Henrique Cardoso certamente não lembra que no dia de hoje, em 1964, saiu das casas de amigos onde se escondia desde 10 de abril e embarcou para a Argentina. Penaria o "amargo caviar do exílio: Por coincidência o Dops registrava em seu prontuário que ele estivera ligado aos comunistas nos anos 50, "mas nunca mais exerceu qualquer tipo de atividade ou de militância política comunista, socialista ou que fosse:
Dilma Rousseff talvez nem saiba, mas no dia 17 de abril de 1970 dois militantes da Vanguarda Popular Revolucionária regressaram ao Rio depois de uma reunião com Carlos Lamarca para finalizar o plano de sequestro do embaixador alemão Ehrenfried von Holleben. Ela estava na cadeia desde janeiro, e seu nome foi colocado numa lista de presos que seriam trocados pelo diplomata. O embaixador foi sequestrado em junho, mas Dilma não entrou na lista.
José Genoino, ex-presidente do PT, talvez ainda lembre que esteve na marcha do MST de 1997, mas pode ter esquecido que foi no dia 17 de abril de 1972 que uma patrulha do Exército o capturou quando caminhava numa trilha da mata do Araguaia. Ele ia avisar a outros guerrilheiros que o Exército chegara à região.
Foi no dia 17 de abril de 1980 que o governo do último general decidiu esmagar a greve de metalúrgicos do ABC e acabar com a liderança de um tal de Lula. Tomada a decisão, no dia 18 intervieram nos sindicatos, e no dia seguinte prenderam Lula e outras 14 pessoas. Enquadrado na Lei de Segurança Nacional, ele viraria carta fora do baralho. Vinte e três anos depois, recebeu a faixa presidencial de Fernando Henrique Cardoso.
O rei de copas de hoje pode ir para o lixo (ou bagaço), mas cartas não saem do baralho.
O comissariado quis fritar O PMDB
No último dia 7, a melhor planilha de votos dos estrategistas da deposição de Dilma informava que, dos 342 votos necessários, tinham pelo menos 240 e, no máximo, 260.
No governo dizia-se que a situação era parecida. Contabilizavam-se 150 votos contra o impedimento, 22 abaixo do necessário.
Podem ter acontecido muitas coisas, mas certamente a capacidade de articulação de Michel Temer foi um dos principais fatores da virada.
Em abril do ano passado, Dilma Rousseff viu que marchava para um precipício e chamou Temer para assumir a coordenação política do governo. Foi uma conversa difícil e ela argumentou: se você não aceitar, o meu governo acaba. (Essas não foram as palavras textuais, mas foi o sentido.)
Temer aceitou e o comissariado petista começou a fritá-lo nas semanas seguintes. Seu "chef" era o então chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Em junho, à época do Encontro Nacional do PT, o comissário Tarso Genro condenou a aliança com o PMDB: "Não serve mais. (...) O PMDB tem zero de unidade ideológica e programática para comandar uma coalizão. Se o PT não refundar imediatamente seu sistema de alianças, dificilmente terá credibilidade para se apresentar com força política em 2018."
A contrariedade com a aliança tinha origens fisiológicas e ideológicas e Temer aguentou menos de quatro meses na função. À época, os comissários acharam que conseguiram fritá-lo.
Nos próximos meses, surgirão revelações que permitirão o entendimento do que houve entre a eleição de Dilma Rousseff e o dia de hoje. Abundarão culpados, mas uma coisa é certa: no coração dessa história estarão os autores da ideia de fritar o PMDB. Isso aconteceu antes do segundo turno de 2014, quando o comissariado achou que derrotaria a candidatura de Eduardo Cunha à presidência da Câmara, elegendo o petista Arlindo Chinaglia.
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