• Ao estabelecer vínculos entre os escândalos, a 27 ª fase da Lava- Jato reforça a ideia de que nos subterrâneos do lulopetismo funcionou um esquema único
O termo foi lançado pelo então procurador-geral da República Antônio Fernando de Souza, quando, em 2006, encaminhou ao Supremo denúncia contra 40 mensaleiros, entre eles petistas estrelados — o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, um ex- presidente do PT, José Genoino, Delúbio Soares, tesoureiro na primeira campanha vitoriosa de Lula, entre outros. E o chefe da “organização criminosa” seria Dirceu.
Mais tarde, no julgamento de embargos, a Corte, com nova composição, derrubaria a ideia de “organização criminosa” para efeito de definição de penas. Porém, com o lançamento da Operação Lava- Jato, em março de 2014, iniciou- se o desbaratamento de outro esquema lulopetista, este na Petrobras, bem mais amplo, com cifras bem mais vultosas que as movimentadas no mensalão.
Para comparar: enquanto transitaram de desfalques feitos no Banco do Brasil para mãos de mensaleiros — em troca de apoio ao governo de Lula — mais de R$ 100 milhões, apenas um beneficiário confesso de propinas na Petrobras sob comando lulopetista, Pedro Barusco, embolsou US$ 100 milhões. E ainda há o superfaturamento de contratos assinados com empreiteiras para financiar campanhas eleitorais. A própria estatal já registrou perdas de R$ 6,2 bilhões devido à corrupção.
Seria inevitável, então, que a imagem de uma “organização criminosa” no PT voltasse com força. A 27 ª etapa da Lava- Jato, lançada sexta- feira, sob o nome de Carbono 14, veio reforçar de vez as evidências da ação de um mesmo esquema no mensalão e no petrolão, nos quais há personagens em comum.
Elemento químico usado para estimar a idade de fósseis, o carbono 14 da PF serve para ir ao passado e interligar os dois escândalos. E avança na direção do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, escalado para ser o coordenador da campanha de Lula em 2002, mas sequestrado e morto. Um assunto que o PT não deseja que ressuscite e volte a assombrá-lo. O crime teria relação com desavenças entre petistas em torno da destinação do dinheiro de corrupção obtido de concessionários de ônibus. Daniel seria contra o enriquecimento pessoal com esse dinheiro.
Agora, com a Carbono 14, o elo entre os dois casos é José Carlos Bumlai, o pecuarista amigo do peito de Lula, apanhado pela Lava- Jato e cumprindo no momento prisão domiciliar. Bumlai está no capítulo movimentado da obtenção, por ele, de um empréstimo de R$ 12 milhões junto ao Banco Schahin, constituindo uma dívida que seria resgatada de maneira fraudulenta. O grupo Schahin não cobrou o empréstimo porque recebeu, em troca, um contrato bilionário de aluguel de um navio- sonda para a Petrobras. Se este troca-troca já é capaz de enrubescer magistrados, o destino do dinheiro dá à história tinturas de crime de mafiosos: metade seria destinada a resolver problemas de caixa do PT, e o restante, calar a boca do empresário Ronan Maria Pinto, que, segundo Marcos Valério — operador do mensalão —, ameaçaria envolver de alguma forma na morte de Celso Daniel até mesmo Lula, Dirceu e Gilberto Carvalho. Com o dinheiro, Ronan comprou o jornal “Diário do Grande ABC”. Ele nega.
Enquanto o processo de impeachment de Dilma tramita na Câmara, o espectro do assassinato de Celso Daniel volta a assustar o PT, e agora por meio do juiz Sérgio Moro e a Lava- Jato. Má notícia para o partido.
Tudo indica que o aprofundamento dessas investigações reforçará o conjunto de provas que apontam para a atuação de uma organização criminosa de fato nos bastidores do lulopetismo. Por isso, fica evidente cada vez mais que mensalão e petrolão têm a mesma origem.
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