Aliados da presidente Dilma Rousseff agora defendem que ela adie a reforma ministerial para depois da votação do impeachment na Câmara. Cresce no Planalto o temor de que partidos da base aceitem o espaço no governo e depois traiam a presidente. A proposta, então, é esperar o resultado, no plenário, para contemplar os aliados com cargos. Dilma resiste a entregar duas pastas: Minas e Energia e Educação, que é pedida por parlamentares do PP.
Com medo de traições, governo deve adiar reforma
- Planalto tende a entregar comando de ministérios só após a votação do pedido de afastamento
Catarina Alencastro, Cristiane Jungblut, Simone Iglesias - O Globo
- BRASÍLIA- Diante do temor de que novos aliados que assumam ministérios traiam a presidente Dilma Rousseff na votação do impeachment, o governo estuda entregar os cargos só após a votação no plenário da Câmara. A falta de segurança não é só no governo. Os aliados também hesitam em aceitar o comando das pastas devido à pressão de eleitores contra Dilma.
A intenção do Planalto de nomear novos ministros e confirmar cargos no segundo escalão só após a votação do impeachment deixou parlamentares aliados que estão negociando com o governo com um pé atrás. Eles reclamam da falta de “credibilidade” do governo, que não tem o histórico de honrar compromissos. Mas as negociações seguem intensas.
Há aliados que defendem que Dilma distribua os cargos até sexta-feira, antes da votação na comissão especial, prevista para ocorrer no próximo dia 11. A presidente resiste a entregar duas pastas: Minas e Energia, sob o comando do peemedebista Eduardo Braga, e Educação, desejo de parlamentares do PP.
Ontem, um dos cenários discutidos era a transferência do ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, para a presidência da Caixa Econômica Federal; já o ministério iria para um parlamentar do PP.
Como o PP se tornou maior com o troca-troca partidário, o partido quer mais. Semana passada, em reunião das bancadas da Câmara e do Senado, os parlamentares do PP decidiram, em acordo com o presidente da sigla, Ciro Nogueira, realizar uma convenção dia 11, quando decidirão se aceitarão novos cargos.
Aos nanicos, o governo está oferecendo cargos no segundo escalão. Ao PROS, com seis deputados, foi oferecido o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ( FNDE), órgão do Ministério da Educação responsável pelo pagamento de merenda e transporte escolar.
Primeiro, “mostrar serviço”
O adiamento da reforma ministerial é, segundo um auxiliar da presidente, uma forma de garantir que os partidos “mostrem serviço” na votação do pedido de impeachment na comissão especial e no plenário da Câmara.
O Planalto está preocupado com a possibilidade de os partidos estarem negociando com os dois lados: com o governo e com os aliados do vice-presidente Michel Temer. Movimento semelhante ocorreu durante o processo contra o ex-presidente Fernando Collor, em 1992, que negociou apoio de parlamentares que acabaram votando contra ele.
— A ideia é ver se haverá fidelidade dos partidos. Por isso, vamos ver se essa proposta vai colar, porque é a mais correta — disse um petista, ligado ao ex- presidente Lula.
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