Por Murillo Camarotto, Daniel Rittner e Bruno Peres – Valor Econômico
BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse ontem que não será surpresa se economia brasileira registrar no biênio 2015/16 o pior desempenho de sua história, com redução do Produto Interno Bruto (PIB) maior do que a verificada na década de 30. A previsão foi feita no Palácio do Planalto, durante encontro do presidente interino, Michel Temer, com cerca de 200 empresários, liderados pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.
Após o discurso do ministro, Temer atacou a administração petista. "Essa coisa de ideologia hoje está completamente fora de moda. O que as pessoas querem são resultados. Se forem negativos, vaiam; se forem positivos, aplaudem", afirmou. "É preciso que todos saibam que não estamos encontrando um país com déficit zero e harmonia. Pelo contrário, encontramos desarmonia, déficit e empresas públicas quebradas".
Apesar do cenário pessimista, Meirelles disse estar confiante de que a retomada do crescimento pode ser mais rápida do que se imagina. "Os investidores já começam a botar a cara para fora da caverna".
PIB pode ter maior recuo da história, diz Meirelles
O presidente interino Michel Temer almoçou ontem com cerca de 200 empresários que foram ao Palácio do Planalto manifestar apoio à agenda econômica do novo governo. Antes da fala de Temer, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fez uma previsão sombria para a economia brasileira. Segundo ele, não será surpresa se o Produto Interno Bruto registrar no biênio 2015-2016 a maior queda de sua história, pior até do que a grande depressão verificada na década de 1930.
Logo em seguida, Temer atacou a administração petista e disse ter recebido uma herança maldita da presidente afastada Dilma Rousseff. "Essa coisa de ideologia hoje está completamente fora de moda. O que as pessoas querem são resultados. Se forem negativos, vaiam; se forem positivos, aplaudem", afirmou.
"É preciso que todos saibam que não estamos encontrando um país com déficit zero e harmonia. Pelo contrário: encontramos desarmonia, déficit e empresas públicas quebradas", disse Temer.
Ele e Meirelles foram muito aplaudidos pela plateia, que viajou a Brasília capitaneada pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Temer agradeceu à iniciativa. Dizendo-se acostumado a solenidades, fez uma observação: "Às vezes vejo palmas formais, encomendadas. Aqui vejo palmas verdadeiras, que vêm do coração", afirmou.
O presidente interino e o ministro da Fazenda chamaram a atenção dos empresários para a importância da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece um teto para os gastos públicos. De acordo com eles, a medida será importante para restabelecer a confiança de que o governo federal controla suas contas com rigor.
Segundo Temer, a limitação dos gastos será revisada periodicamente e permitirá ao governo gastar com equilíbrio. "Em qualquer casa, se você ganha um e gasta dois, você tem que parar. No Brasil, ganha-se um e gasta-se mil", exemplificou o presidente.
Na mesma linha, Meirelles argumentou que o teto vai impedir que os gastos cresçam acima da inflação, como ocorreu nos últimos anos. "O crescimento das despesas, que superou a inflação, passa a ser zero. Isso já gera a confiança de que haverá recursos disponíveis para pessoas e empresas se financiarem e investirem", afirmou o ministro.
Citando um artigo publicado pelo blog "Casa das Caldeiras", do Valor, Meirelles disse estar confiante de que a retomada do crescimento econômico pode ser maior do que se imagina. "Os investidores já começam a botar a cara pra fora da caverna", disse o ministro da Fazenda, referindo-se a notícias recentes de emissão de títulos da dívida por empresas que voltaram a captar recursos.
"No momento em que tudo isso tem um curso normal, que seja aprovado pelo Congresso todo esse conjunto de medidas, não tenho dúvidas de que chegaremos nos próximos trimestres a retomar o crescimento do Brasil de uma forma e com um ritmo que pode surpreender", disse o ministro da Fazenda.
Temer, de seu lado, garantiu que o governo terá a força política necessária à aprovação das matérias no Congresso. Ele lembrou, por exemplo, que a nova meta fiscal foi aprovada em menos de 48 horas. Apesar de interino, o presidente garantiu que sua gestão não se comportará como tal. "Estou em um governo transitório, mas não ajo com em um governo transitório. Se um dia eu não estiver mais, mas a equipe econômica for mantida, o Brasil estará salvo", afirmou ele.
Nome chave da articulação do governo com o Congresso, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, garantiu que, apesar das turbulências recentes, a base de sustentação ao Planalto segue na ordem de dois terços da Câmara e do Senado, o suficiente para aprovar matérias importantes. A crise atual, segundo ele, é um abalo do sistema político como um todo, e não do governo.
Um dos objetivos da caravana de Skaf era justamente impedir que o terremoto político dificulte o andamento da agenda econômica. "Devem correr por trilhos diferentes", afirmou ele, que preferiu não se manifestar sobre os recente pedidos de prisão de seus colegas de partido Renan Calheiros, Romero Jucá, José Sarney e Eduardo Cunha.
Apesar de dizer a Temer que não havia trazido nenhum pedido especial na bagagem, o presidente da Fiesp apresentou uma lista de reivindicações que, segundo ele, vão ajudar a resgatar a confiança dos empresários no curto prazo. Na sua avaliação, as medidas apresentadas até agora são positivas, mas ele cobrou ações com resultados mais imediatos. Skaf citou, por exemplo, a necessidade de redução da taxa de juros, de expansão do crédito (sobretudo para exportação) e do destravamento do programa de concessões em infraestrutura.
O dirigente também condenou qualquer iniciativa de aumento de impostos, assunto tratado por ele como limite para o apoio do empresariado ao governo Temer. Segundo o presidente da Fiesp, a categoria não vai aceitar qualquer forma de elevação da carga tributária, mas que transitória, como já chegou a ser cogitado no governo. "Não acredito em imposto temporário. Imposto é imposto. Nossa posição é muito clara. Somos radicalmente contra".
Os empresários chegaram ao Palácio do Planalto pouco antes das 11 horas da manhã em uma dezena de mini-ônibus. Antes do encontro com Temer, tiraram retratos e discutiram os principais pontos da pauta de reivindicações. Ao conversar com uma empresária integrante do grupo, Paulo Skaf afirmou que os sindicatos patronais merecem mais críticas do que o governo Temer em relação à ausência de mulheres nos postos de comando.
Temer diz que país precisa ser 'reinstitucionalizado'
O presidente interino Michel Temer fez questão de afirmar ontem, em discurso à plateia de executivos e lideranças empresariais recepcionada no Palácio do Planalto, que age como se não estivesse em um governo transitório para evitar a paralisação do país em meio à busca de uma solução para o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Temer procurou dar um tom de brincadeira ao encerramento de sua fala ao afirmar que o país estará "salvo" se a equipe formada pelo governo interino permanecer, mesmo que ele próprio não continue à frente do comando do país. Temer fez questão de exaltar as vitórias obtidas pelo Palácio do Planalto em votações importantes no Congresso e reforçou que estava ontem há 23 dias úteis trabalhando "porque trabalhamos sábado e domingo, todos os dias".
"E assim deveremos prosseguir pelo resto do tempo que eventualmente nos falte para concluir o governo", disse. "Vejam a interação, a integração, entre o Executivo e o Legislativo. Essa harmonia institucional que conseguimos pauta a nossa conduta, porque esse é um país que precisa ser reinstitucionalizado", completou Temer ao citar a aprovação da proposta que flexibiliza os gastos do governo e a revisão da meta fiscal para este ano, que, conforme destacou, apontam para a estabilidade econômica. Temer lembrou ainda que a revisão da meta fiscal o livrou de "pedaladas" - embasamento do pedido de impeachment de Dilma.
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou em entrevista que a atual base de apoio ao governo no Congresso se mantém em torno de dois terços do total de votos entre deputados e senadores, desde o encaminhamento do pedido de afastamento da presidente Dilma Rousseff. Em sua avaliação, a despeito de pedidos de prisão de integrantes da cúpula do PMDB, partido à frente do Palácio do Planalto, não há uma crise política envolvendo o Executivo, mas o modelo político atual.
O ministro alegou a independência entre os Poderes para afirmar que o governo tem atuação "zero" nas discussões envolvendo o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no Conselho de Ética. "Não tem a ver com o Executivo", disse.
Já o secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, afirmou ser "desagradável" ler editoriais influentes em todo o mundo com críticas à imagem do Brasil, mas ponderou que essas avaliações resultam do funcionamento de instituições que combatem práticas de corrupção existentes no país.
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