A prisão de José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá, além da de Eduardo Cunha, pedida pelo procurador-geral Rodrigo Janot ao ministro Teori Zavascki, ampliou o cerco das investigações da operação Lava-Jato às cúpulas do PMDB e do Senado. Com inevitáveis implicações negativas para o governo Temer, bem como com potencial de afetar as atividades dessa casa legislativa, inclusive as relativas à conclusão do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, se a petição for acolhida por Teori ou pelo plenário do Supremo. Mesmo com possível retardamento de uma decisão monocrática ou com a recusa do pedido pelo coletivo dos ministros, a iniciativa de Janot reforça a imponderabilidade dos desdobramentos das investigações sobre beneficiários do foro privilegiado. E acentua a incerteza dos agentes econômicos a respeito da demora na superação da crise política do país. Desdobramentos que agravam as implicações acima referidas, com extensão a pelo menos mais um ministro de Temer, o peemedebista Henrique Alves, do Turismo, que provavelmente será demitido.
Implicações essas cujos efeitos de fragilização do novo governo não abrem espaço para uma volta da presidente afastada porque o envolvimento dos caciques do PMDB – nas investigações da Lava-Jato e paralelas – é parte do papel deles, de sócios minoritários do PT na “corrupção sistêmica” praticada nos governos de Lula e de Dilma (esta com sua performance pessoal bem revelada em delações recentes, além das tentativas de obstrução das investigações já denunciadas pela PGR). Por isso, e também pelo seu próprio e denso envolvimento em várias das investigações, é que o ex-presidente Lula não tem hoje como seu objetivo tático o “volta Dilma”, que sabe inaceitável pela sociedade e inviável no Senado, mas articular e promover tropeços, obstáculos de todo o tipo à gestão interina e depois permanente do presidente Temer. Tendo em vista capitalizar o desgaste dela, e dos partidos que a integram e sustentam, nas tentativas de salvar o petismo de um desastre nas eleições municipais deste ano e de recuperação de competitividade no pleito presidencial de 2018 – por meio de atuação pessoal e direta que pode ser frustrada pelo retorno à competência do juiz Sérgio Moro dos vários processos de desvio e apropriação de recursos públicos que o envolvem. Apenas objetivando tal desgaste e uma deterioração da governabilidade, Lula poderá estimular as demandas de “eleições presidenciais já”. Pois tem clareza de que, se não fossem constitucionalmente inviáveis (como o são) elas evidenciariam o enorme isolamento social sofrido hoje pelo lulopetismo.
O que a fragilização do governo Temer configura de mais negativo são as dificuldades, maiores, que a persistência da crise política está representando para o trabalho e a viabilização das propostas da equipe econômica – para ataque à predatória e paralisante crise fiscal legada pelo populismo assistencialista dos governos do PT, e para desencadeamento de reformas essenciais a um novo ciclo de crescimento sustentado. Desafios cujo deslanche depende da recuperação da confiança dos investidores internos e externos, refreada pelas incertezas da crise política. E desafios aos quais precisam somar-se ações político-institucionais dos reformistas do governo Temer – grande parte do PMDB, PSDB, DEM, PSB, PPS e alas de outros partidos ¬ para enfrentamento de um obstáculo à governabilidade e ao desenvolvimento democrático: o sistema político e eleitoral distorcido por uma fisiológica parafernália de três dezenas de partidos. Sistema posto em xeque, em seu conjunto, pela operação Lava-Jato.
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Jarbas de Holanda é jornalista
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