quinta-feira, 9 de junho de 2016

Caminhos cruzados - Míriam Leitão

- O Globo

Leve esperança na economia, incerteza na política. O país vive um tempo de enorme intensidade. Na economia, começam a surgir as primeiras esperanças e ontem isso se refletiu na alta da Petrobras e na queda do dólar. A nova vitória do governo na Câmara, com a aprovação da DRU, confirmou a maioria. Na política, paira o temor de agravamento da crise, desde o pedido de prisão das lideranças do PMDB.

A grande pergunta que se faz nas últimas horas é sobre o que mais fundamenta o pedido do procurador-geral para a prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros, do senador Romero Jucá e a prisão domiciliar com tornozeleira para o ex-presidente José Sarney. Todos os três têm muito a explicar das conversas que tiveram com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, mas o que foi divulgado, até ontem, não tinha o peso semelhante ao que levou à prisão do senador Delcídio do Amaral no exercício do mandato. A dúvida é se a Procuradoria-Geral da República (PGR) possui indícios mais fortes do que os que a imprensa divulgou.


É frequente se ouvir que as gravações feitas foram equivalentes à registrada com o senador Delcídio. Mas o ex-senador foi flagrado formulando o plano de fuga de um preso e oferecendo vantagens financeiras em troca da omissão de informações na delação premiada. Não são fatos iguais.

Diferente é o caso do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. O STF demorou demasiadamente a acolher o pedido da PGR para que fosse afastado do cargo. Já estava evidente, desde o inicio dos trabalhos do Conselho de Ética, que Cunha usava o posto para manobrar em seu favor e evitar o julgamento que levaria à sua cassação.

Se o governo Michel Temer, por cálculo político, estiver de fato articulando para proteger Cunha na Câmara dos Deputados, com medo de perder parte da sua base política, ele estará cometendo um erro. O fortalecimento político de Temer passa pelo aumento da sua aceitação pelos cidadãos brasileiros. E está clara a mensagem da maioria do país. Há total rejeição à forma considerada tradicional de fazer política. O deputado Eduardo Cunha personifica o que a maioria não quer.

Não é conseguindo apoio de parlamentares com barganhas que Temer se fortalecerá. O caminho é inverso. Ele precisa conquistar a confiança de parcelas maiores da opinião pública para isso influenciar o seu fortalecimento político. A presidente afastada, Dilma Rousseff, se enfraqueceu politicamente após perder o apoio da opinião pública, num processo drástico de queda de popularidade, no começo do segundo mandato.

Temer acertou quando montou uma equipe econômica técnica, quando escolheu quadros de excelência e sem envolvimento partidário para postos chave como BNDES, Petrobras, Banco do Brasil e Banco Central. Errou quando nomeou pessoas já envolvidas na Lava-Jato porque tornou-se vulnerável aos eventos da operação de combate à corrupção. Foi o que aconteceu nos episódios que levaram à queda dos dois ministros e pode voltar a acontecer. Mas o pior dos erros será se envolver na operação de salvamento de Eduardo Cunha.

Em relação às conversas de Renan, Sarney e Jucá, elas causam espanto, mas já se podia imaginar que eles não gostassem da Operação Lava-Jato. Também era previsível que eles, se pudessem, fariam chegar algum pedido aos ouvidos do ministro Teori Zavascki. Fica claro nas conversas que o presidente do Senado gostaria de mudar a lei das delações e revogar a decisão do Supremo sobre poder prender a partir do julgamento em segunda instância. Nos países que travaram luta contra a corrupção, também houve tentativa de aprovação de leis para a proteção de criminosos, como têm alertado os integrantes da Força Tarefa do Ministério Público na Operação Lava-Jato.

O país continuará vivendo esse tempo intenso, à espera das novidades e sustos de cada dia na política. Na economia, a situação tem pontos de melhora. A inflação subiu em maio, mas não é uma tendência, deve cair em junho para 0,3%, no acumulado abaixo de 9%, segundo o professor Luiz Roberto Cunha. As revisões no cenário de nível de atividade têm sido para melhor. Mas é uma melhora frágil. Um agravamento inesperado da crise política reverterá qualquer processo virtuoso na economia.

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