segunda-feira, 20 de junho de 2016

No Senado,Temer e Dilma disputam 15 votos decisivos

• Grupo da presidente afastada oferece a parlamentares plebiscito sobre novas eleições; e governo interino, cargos

Vinicius Sassine, Simone Iglesias e Renan Xavier* - O Globo

-BRASÍLIA- O presidente interino, Michel Temer, e a presidente afastada, Dilma Rousseff, passaram a focar um grupo de 15 senadores para tentar assegurar os votos necessários ao desfecho favorável a um lado ou a outro na votação final do processo de impeachment, prevista para agosto. O núcleo de Dilma, segundo petistas com acesso às discussões no Alvorada, passou a abordar esses parlamentares na expectativa de que ao menos cinco votos sejam revertidos. Numa contraofensiva de Temer, vários desses parlamentares já estiveram com ele no Planalto.


Integrantes do grupo cujos votos são disputados pelos dois lados disseram “sim” à admissibilidade do impeachment ou se ausentaram da sessão que resultou no afastamento de Dilma. A petista teve só 22 votos a seu favor e, no julgamento decisivo, precisará de ao menos 28 votos ou ausências. O afastamento temporário de Dilma contou com 55 votos, um a mais do que os 54 necessários para retirá-la definitivamente do cargo.

Sem caneta para sinalizar com cargos e vantagens, os petistas oferecem a realização de plebiscito por novas eleições como alternativa à crise. Já o governo interino vem anotando dezenas de pedidos de cargos. O senador Hélio José (PMDB-DF), conhecido em Brasília como Hélio Gambiarra, pediu a Temer 34 cargos, entre eles as presidências do BB DTVM, dos Correios, do FNDE e de Itaipu. O senador também quer ser o líder do governo no Congresso e relatar as medidas provisórias sobre infraestrutura. No Planalto, os pleitos de Gambiarra causaram irritação. Ele não foi localizado pelo GLOBO.

— Se Hélio ficar contra o impeachment, ele morre no dia seguinte no PMDB — disse um dirigente partidário.

Petista desiste de Romário
Estiveram com Temer nas últimas semanas os senadores Romário (PSB-RJ), Cristovam Buarque (PPS-DF), Eduardo Amorim (PSDC-SE), Benedito de Lira (PP-AL), Acir Gurgacz (PDT-RO) e Jader Barbalho (PMDB-PA). Cristovam também já esteve com Dilma e passou a ser fortemente cobrado por movimentos de esquerda por ter votado a favor do afastamento da petista.

O grupo dos 15 tem ainda Fernando Collor (PTC-AL), Omar Aziz (PSD-AM), Pedro Chaves (PSC-MS), Roberto Rocha (PSBMA), Vicentinho Alves (PR-TO), Wellington Fagundes (PR-MT), Wilder Moraes (PP-GO) e Marcelo Crivella (PRB-RJ) — que se licenciará para disputar a prefeitura do Rio, mas controla o voto do suplente, Eduardo Lopes (PRB).

Com o avanço do processo, algumas posições ficaram mais claras. Os petistas já desistiram de Romário, que deve votar pelo impeachment. Eduardo Amorim, Vicentinho e Wilder Moraes passaram a declarar voto pró-deposição.

Amorim afirmou que não vê motivos para rever sua posição:

— Uma pessoa falou comigo (do grupo de Dilma), mas nada capaz de mudar o meu voto.

Senadores confirmam abordagens dos dois lados. Pelo PMDB, quem comanda as negociações são o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo). Dilma tem quatro senadores: Roberto Requião (PMDB-PR), Kátia Abreu (PMDB-TO), Jorge Viana (PT-AC) e Paulo Rocha (PT-PA).

— Os dois lados têm me procurado. Ainda estou analisando e não quero me precipitar — diz Pedro Chaves (PSC-MS). (*Estagiário sob supervisão de Paulo Celso Pereira)


Dos 81 senadores, 37 são favoráveis ao afastamento
Na última semana, O GLOBO entrou em contato com todos os senadores ou seus assessores para saber o posicionamento dos parlamentares sobre o impeachment de Dilma Rousseff. Dos 81 senadores, 55 já decidiram o voto: 37 são favoráveis e 18, contra o impedimento da presidente afastada. Os outros 26 seguem indecisos ou não responderam. O PSDB lidera o grupo pró-impeachment, tendo apenas um voto não anunciado, o do relator Antonio Anastasia (MG). Do outro lado, o PT lidera o grupo dos que defendem o mandato de Dilma. Entre os indecisos, nove são do PMDB, partido do presidente interino, Michel Temer.

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