O Federal Reserve deve aumentar os juros em sua próxima reunião, na semana que vem, marcando um ritmo mais frequente de ajustes nas taxas do que aquele que prevaleceu nos últimos dois anos. A projeção do Fed é que haja três altas no ano e, depois de dissonância por meses, os mercados se alinharam ao BC e estimam a mesma coisa, com alguma margem para quatro elevações.
A presidente do Fed, Janet Yellen, foi muito clara em sua palestra na sexta-feira no Executive's Club de Chicago. "Acreditamos que é apropriado aumentar gradualmente a taxa dos fed funds se os dados econômicos se mantiverem dentro de nossas previsões", disse Yellen, que foi específica: se isso ocorrer até a próxima reunião, um ajuste na taxa de juros será a coisa certa a fazer. Yellen foi uma das vozes do Fed a manifestar que é preciso dar logo um passo a mais para remover os estímulos monetários existentes.
Yellen e outros membros do BC americano não acreditam que já estejam "atrás da curva", situação em que teriam de acelerar o passo dos aumentos e se desvencilhar do gradualismo que continuam pregando. Mas reconhecem sinais agora inequívocos de que as duas condições que preenchem o mandato do Fed - máximo nível de emprego com inflação de 2% - estão mais perto de ocorrer agora do que nunca estiveram desde 2008.
Com a taxa de desemprego em 4,8% em janeiro, praticamente a tendência de longo prazo, os sinais de pressão sobre o custo da mão de obra começaram a aparecer com mais força. "Embora o ritmo de aumento de salários seja mais lento, eles vem subindo mais rápido que a produção por hora (produtividade) e a inflação, enquanto que a fatia do salário começou a se mover para cima depois de um longo declínio", disse Jerome Powell, do board do Fed.
Se a situação do mercado de trabalho caminha há meses para a fronteira do pleno emprego, a mudança de nível de inflação foi o que acendeu os alarmes no Fed. O índice de preços ao consumidor (CPI) nos doze meses encerrados em janeiro atingiu 2,5% e foi o maior em 5 anos, e seu núcleo registrou 2,3%. Os índices prediletos do Fed também se moveram. O de gastos de consumo pessoal (PCE) foi de 1,9% em janeiro e o núcleo, que expurga energia e alimentos, bateu em 1,75%. Já estão perto do que os formuladores da política monetária consideram apropriado.
Ainda que seja a hora de agir mais, o Fed não mudou a magnitude do ajuste que espera realizar. Na mediana das projeções do Fed na reunião de dezembro, ele é de 3%. É para esse alvo, segundo Yellen, que os membros do BC americano continuam a mirar. Segundo ela, o objetivo é chegar à taxa real neutra de equilíbrio - "a instância em que a política monetária não põe o pé no acelerador nem no freio" -, que hoje é bem menor do que antes da crise. Pelas estimativas do Fed, essa taxa real do juro neutro estaria ao redor de 1%.
Yellen afirmou que essa taxa real ao nível corrente seria negativa em 1%, indicando que a atual fase da política monetária ainda é moderadamente acomodatícia. E sugeriu que terá chegado ao fim do ciclo quando os fed funds chegarem a 3%.
Subir mais um pouco os juros também tornou-se possível porque o cenário externo, que jogou contra o aperto monetário em 2015 e no início de 2016, com as turbulências na China e o Brexit, melhorou. A zona do euro ensaia crescer com mais vigor, enquanto que isso já vem acontecendo com os países emergentes, enquanto a China consegue manter um ritmo de pelo menos 6,5% de expansão durante uma complicada transição de modelo.
Embora esteja no radar do Fed a intenção do presidente Donald Trump de acelerar o crescimento por meio de um programa trilionário de infraestrutura e de generosos abatimentos de impostos para as empresas, ela não foi considerada na atual calibragem dos juros. Não se sabe quando e, principalmente, se e como os planos de estímulos de Trump sairão do papel. Tomado por sua intenção, ele é expansionista e chegará em um momento em que já não há folga considerável no mercado de trabalho e a que existe no terreno inflacionário está se estreitando.
Enquanto que a maré dos riscos políticos está subindo, o cronograma gradativo de aumento de juros pelo Fed não tem provocado instabilidade nos mercados nem ainda reduzido o fluxo de capitais para os mercados emergentes. A transição para a normalização monetária nos EUA tem sido ordenada e previsível - até quando, não se sabe.
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