- Valor Econômico
Pé na estrada para reestruturar e reorganizar o PT
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou ser presidente do PT e planeja percorrer o país num esforço de reconstrução do partido. Lula é o Plano A do PT para 2018, mas ainda não se tem certeza se ele vai querer ser candidato. Seus últimos movimentos indicam que sim. Lula pediu a economistas sugestões para um programa econômico que sirva de contraponto ao projeto econômico do governo.
Lula lidera as pesquisas para 2018 com folga. No momento, é a única alternativa mais viável à esquerda do espectro político. E não tem ainda adversário à altura desde o centro até a direita. Para voltar ao Palácio do Planalto, Lula precisará sobreviver a uma campanha que vai revirar as entranhas do PT e das relações camaradas do ex-presidente com as empreiteiras. Mas, no momento, a maior ameaça à sexta candidatura do petista é de natureza legal.
O ex-presidente já é réu em cinco processos em curso na Justiça Federal decorrentes de investigações no âmbito das operações Zelotes e Lava-Jato. Se for condenado em primeira e segunda instâncias, Lula se tornará inelegível com base na Lei da Ficha Limpa, o que o presidente do PT, Rui Falcão, considera que seria "o golpe dentro do golpe". Partidários como o ex-ministro Gilberto Carvalho consideram bastante provável a condenação de Lula na primeira instância e contam com a pressão das ruas para tentar impedir a confirmação do veredito na segunda instância.
Os adversários de Lula também se movem para aumentar as dificuldades legais do ex-presidente. Um deles é o deputado Miro Teixeira, do Rede, partido de Marina Silva, cujo objetivo é se tornar uma alternativa à esquerda. Um projeto de lei apresentado por Miro à Câmara determina o afastamento do presidente que tiver, nas infrações penais comuns, denúncia ou queixa-crime aceita no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em decisão recente sobre a linha sucessória, o tribunal decidiu que réus no STF não podem assumir a cadeira presidencial. "Nada mais lógico do que deixarmos explicitada a inelegibilidade de quem, se eleito, não poderá exercer o mandato", diz o deputado na justificativa ao projeto. "O absurdo se autoexplica".
O primeiro passo de Lula é a presidência do PT. As correntes do partido, as principais lideranças, o próprio Rui Falcão, atual presidente, os amigos de Lula conseguiram convencê-lo de que ele tem que ser o próximo comandante do PT, o que será referendado em congresso adiado de abril para junho. O assunto estava encalacrado porque Lula dizia que não queria e que não podia também.
Nesse aspecto, teve influência a morte da mulher, Marisa Letícia. Lula ainda está muito abalado com a ausência dela. A amigos contou recentemente que entrava em casa, brigava com Marisa, mas ela estava lá; agora entra, não tem ninguém e sente muita falta dela. Tomou então duas decisões: a primeira, é que vai mudar de casa, sair do apartamento onde mora. Lula autorizou os filhos a doar roupas e coisas de Marisa. A segunda decisão é por o pé na estrada para reestruturar e reorganizar o PT.
Se depender de Rui Falcão, a candidatura Lula será lançada no congresso de junho. O movimento queremista deve engrossar. Tem o movimento de artistas, intelectuais, advogados e amigos que assinaram o manifesto segundo o qual ele tem que ser o candidato do PT em 2018. Mas há uma iniciativa no mesmo sentido de sindicalistas e de lideranças dos movimentos populares, entre os quais MST, UNE e MTST. A engrenagem posta em movimento só teve dois problemas recentes que deixaram irritado o próprio Lula.
O primeiro foi uma entrevista do ex-líder no Senado Humberto Costa às páginas amarelas da revista "Veja". Costa defendeu que o PT deveria fazer uma autocrítica, reconhecer que se envolveu em corrupção, pedir desculpas à sociedade pelos erros que cometeu, abandonar o discurso de "denúncia do golpe" e apresentar propostas para tirar o país da crise. Na entrevista, também criticou acidamente a nova líder no Senado, Gleisi Hoffmann. Em vez de unir, dividiu. E falou pela revista "Veja" vista como inimiga no lulismo.
A engrenagem rateou de novo numa entrevista que o ex-ministro e amigo de Lula Gilberto Carvalho concedeu ao Valor. Primeiro porque Gilberto hoje não é ministro, não é liderança do PT, não ocupa cargo, voltou a ser assessor legislativo na bancada do Senado e não deveria ficar dando entrevistas. Depois, por dizer que Lula será condenado na primeira instância, isso vai provocar comoção social e a segunda instância será forçada a reconhecer sua inocência.
Essas declarações que não foram consideradas inteligentes por Lula e os mais próximos, até porque vai contra tudo aquilo que o PT está falando. O que o partido está dizendo, neste instante, é que Lula não merece ser processado e não deveria ser perseguido como está sendo. Ou seja, o PT diz que não há nada contra Lula e vem um ex-ministro do ex-presidente com a estatura do Gilberto Carvalho e diz "não, o Lula vai ser condenado".
Pior, o PT diz que não há Plano B para a sucessão presidencial, apenas o Plano A, e Gilberto Carvalho fala que na hipótese de condenação de Lula e ele não puder ser candidato, as alternativas poderiam muito bem ser Ciro Gomes (PDT-CE) e Roberto Requião, da ala dissidente do PMDB. A entrevista causou um mal-estar muito grande porque, em geral, quando o Gilberto Carvalho fala, a militância acha que falou em nome de Lula, vocalizou uma opinião do ex-presidente. E neste caso não foi o que aconteceu. Até Lula fez críticas à entrevista.
Os episódios envolvendo Humberto Costa e Gilberto Carvalho foram argumentos usados para convencer Lula a aceitar a presidência do PT - senão cada um fala o que quer.
Sobre a campanha propriamente dita, embora Lula seja o Plano A, o PT não pode dizer se ele vai ser ou querer ser candidato, porque Lula também ainda não disse nada. O indício que o partido tem de que ele será é o fato de ter acionado vários economistas para fazer um plano econômico de governo, a fim de "disputar com a situação atual de Michel Temer", no linguajar petista.
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