Por Ricardo Mendonça | Valor Econômico
SÃO PAULO - "Se eu disser que não quero ser [candidato a presidente], que não pretendo ser, não é verdadeiro. Agora, cargo majoritário não é vontade pessoal, é fruto de uma vontade coletiva. E tudo tem seu tempo." Foi assim que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), respondeu ontem sobre seus interesses para 2018. A declaração ocorreu durante uma palestra para cerca de 400 empresários e executivos no hotel Grand Hyatt, zona sul da cidade, em evento promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), empresa fundada pelo prefeito da capital e seu pupilo político, João Doria, também tucano.
Alckmin ressaltou mais de uma vez, porém, que não é hora de discutir eleição. Em sua apresentação e em entrevista no final, falou da necessidade de uma reforma política para corrigir distorções do sistema proporcional de lista aberta, e defendeu as reformas trabalhista, tributária e previdenciária.
Ainda sobre 2018, o governador afirmou que se sente "muito feliz" com as especulações em torno de uma possível candidatura de Doria à Presidência, pois o ajudou desde o início. "Até aqueles que duvidavam, hoje reconhecem. É impressionante a capacidade de trabalho do João Doria. E ele tem liderança", disse.
Questionado sobre a Operação Lava-Jato, que atinge nomes do PSDB, e a expectativa em relação à divulgação de uma lista de autoridades citadas em delações da Odebrecht, Alckmin disse que sempre defendeu investigações. Mas fez ponderações.
"Agora, nós precisamos ter cuidado para separar o joio do trigo. É preciso ter cuidado para não misturar pessoas que fizeram corrupção, enriqueceram, patrimonialismo, com outros casos", disse. Ele não quis explicar que outros casos, especificamente, deveriam ser separados. A um repórter que perguntou se se referia a caixa dois eleitoral, respondeu: "Qualquer que seja. Precisa separar bem corrupção e outras formas de trabalho", finalizou.
Pouco antes das declarações de Alckmin, Doria abriu o evento do Lide falando do "sentimento de gratidão" que nutre pelo governador. Disse que resolveu fazer essa manifestação "para que não reste nenhuma dúvida" em relação à sua lealdade. "Com este homem em 2018, teremos a possibilidade de redenção do Brasil", soltou, após reafirmar que Alckmin é seu candidato à Presidência.
Apesar da deferência, Doria não ficou para almoçar e ouvir a palestra do governador. Anunciou que precisava sair para cumprir uma agenda e deixou Alckmin almoçando com o executivo Marcos Madureira, do Santander.
Nos últimos dias, cresceu no meio político a percepção de que Doria pode ser um candidato à Presidência mais competitivo que Alckmin ou que os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP). Uma pesquisa nacional recente da empresa Ipsos divulgada pelo Valor mostrou que a imagem de Doria é menos rejeitada que as dos demais tucanos.
O chamado "almoço-debate" de ontem nem era para ter Alckmin como protagonista. O convidado original do Lide era o ex-ministro Alexandre de Moraes, aprovado para o Supremo Tribunal Federal (STF). A palestra de Moraes foi transferida para abril.
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