Passado pouco mais de um ano desde que assumiu a Presidência da República – após o processo de impeachment que culminou na cassação do mandato de Dilma Rousseff –, o presidente Michel Temer compreende as circunstâncias excepcionais que o levaram ao poder e tem a exata dimensão do papel que a História lhe reservou. É o que se depreende da entrevista exclusiva concedida aos jornalistas João Caminoto, Carla Araújo, Marcelo Beraba e Eliane Cantanhêde, do Estado, publicada na edição de domingo passado.
Administrador da massa falida legada pela inépcia e pela incúria de sua antecessora – e também pela sanha criminosa que permeou sua gestão, a serem verdadeiras as acusações que lhe são feitas por dois de seus colaboradores próximos, os marqueteiros João Santana e Mônica Moura –, Temer elegeu o combate ao desemprego como a principal marca de seu governo. “Meu principal objetivo é combater o desemprego. Se não conseguir, aí sim você pode dizer que o governo não deu certo”, disse o presidente.
De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final de abril, a taxa de desocupação no Brasil ficou em 13,7% no trimestre encerrado em março de 2017. Foi a maior taxa de desocupação registrada pelo IBGE desde o início da medição do indicador em 2012. Portanto, o presidente Michel Temer acerta ao definir como meta principal de seu mandato o combate a um problema que aflige, aproximadamente, 14,2 milhões de brasileiros. O contraste em relação às parvoíces de Dilma Rousseff é tão expressivo que o mero diagnóstico acurado de uma mazela nacional – habilidade mínima que se espera de quem ocupa a Presidência da República – já é, por si só, digno de nota.
Para a grande maioria do povo brasileiro, o sucesso ou o fracasso de um administrador público é medido por indicadores de qualidade de vida e renda, por ações cujos resultados lhe tocam diretamente. O cidadão espera dos que administram o Estado a oferta de serviços públicos de qualidade, o bem-estar promovido pela sensação de segurança, um rígido combate à inflação que preserve o poder de compra da moeda, a geração de empregos que garantam renda e dignidade. No que compete ao Poder Executivo federal isso passa pela aprovação das reformas trabalhista e previdenciária, fundamentais para a retomada do crescimento econômico.
É imperioso registrar que sob a gestão de Dilma Rousseff o País experimentou a pior recessão econômica desde o início da década de 1930. Em 2015, a economia brasileira recuou 3,8%. Em 2016, nova queda de 3,6%. Biênio tão catastrófico só havia sido medido em 1930 e 1931, quando o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 2,1% e 3,3%, respectivamente. O desemprego recorde é o desdobramento mais perverso da irresponsabilidade populista da administração do Partido dos Trabalhadores.
Diante das circunstâncias de sua ascensão ao Palácio do Planalto, do ambiente anuviado que toma conta do País e da impopularidade de medidas essenciais que precisam ser adotadas pelo governo para a correção dos rumos nacionais – como a adoção de um teto de gastos públicos, além das reformas já mencionadas –, não surpreende o índice de rejeição ao presidente Michel Temer. Entretanto, este é justamente um fator que lhe permite encampar tais projetos sem o risco de pender para o populismo daqueles que governam pensando na próxima eleição.
Tomada pelas circunstâncias, cabe à liderança política escolher o legado que pretende deixar. Lula da Silva ascendeu ao poder sustentado por apoio popular, congressual e uma conjuntura internacional favorável sem precedentes. Estivesse imbuído dos melhores desígnios, teria promovido grandes transformações no País. Hoje é réu em cinco ações penais e corre o risco de responder a mais uma, por obstrução de justiça. Dilma Rousseff assumiu o governo com o propósito de dar à política e à economia as feições de seu nacional-populismo rastaquera. Quebrou o País.
Ao assumir o governo sob condições de penúria, caberá a Michel Temer concluir a construção do que chamou de “ponte para o futuro” e nele figurar como um presidente histórico, e não apenas acidental.
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