Por Estevão Taiar e Eduardo Campos | Valor Econômico
SÃO PAULO E BRASÍLIA - Apesar do recuo de 0,44% na passagem de fevereiro para março, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) interrompeu no primeiro trimestre deste ano uma sequência de oito quedas na comparação com o trimestre imediatamente anterior. O indicador divulgado ontem subiu 1,12% na comparação com os últimos três meses do ano passado. O resultado, considerado uma espécie de prévia do Produto Interno Bruto (PIB), vai na mesma direção das projeções de crescimento para o PIB do período, a ser divulgado no próximo dia 1º de junho.
A última vez em que o IBC-Br cresceu na comparação com o trimestre anterior foi no fim de 2014, quando teve alta de 0,22%. O número positivo deste início de ano, no entanto, não garante que a recessão chegou ao fim. É praticamente um consenso que o PIB do segundo trimestre será inferior ao do primeiro, e algumas casas acreditam que ele voltará ao campo negativo. "É cedo para afirmar que estamos num processo mais claro de retomada", defende Daniel Silva, economista do Modal Asset.
A alta esperada para a atividade no primeiro trimestre deve ser muito influenciada pelo que os economistas estão chamando de "supersafra" agrícola. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que a produção de grãos deste ano será 26,2% maior do que a do ano passado.
A estimativa média de 11 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor aponta crescimento de 1% do PIB do primeiro trimestre. Mas, com o fim da janela sazonal que tem beneficiado a produção agrícola, a tendência é que fatores como o desemprego e o ainda alto endividamento do setor privado tornem menos prováveis um bom desempenho da atividade no segundo trimestre. "Continuamos com dificuldade para encontrar um motor de crescimento", diz Silva.
O Bradesco, por exemplo, calcula que o PIB encolherá 0,2% em relação ao primeiro trimestre. O ABC Brasil também espera uma contração, embora a magnitude da queda ainda não tenha sido calculada, segundo Natália Cotarelli, economista do banco. Já o Santander espera alta de 0,2%, mas não descarta a possibilidade de uma retração. Silva, do Modal, também trabalha com alta de 0,2%, mas diz que "tem crescido a possibilidade" de queda da atividade no trimestre.
Ele destaca os efeitos negativos que o menor número de dias úteis em abril devem ter nos índices de atividade do período. Houve dois dias úteis a menos que em abril de 2016, além da greve geral, que teve algum efeito sobre a economia. Alguns indicadores antecedentes, segundo Silva, também já "apontam que abril vai ser mais um mês bastante fraco". Entre esses índices, estão a expedição de papel ondulado (-1,2%) e o fluxo em rodovias pedagiadas (-1,3%).
Em relação a fevereiro, o IBC-Br dessazonalizado de março teve queda de 0,44%, contra alta de 1,37% no mês anterior. Foi um recuo menor do que a estimativa média de 0,99% de retração de 18 projeções coletadas pelo Valor Data. O resultado foi influenciado pelas quedas de 1,9% do varejo, de 2,3% do volume de serviços e de 1,8% da produção industrial. Já em comparação com o primeiro trimestre de 2016, o IBC-Br cresceu 0,29%.
Para a Rosenberg Associados, a combinação de queda em março e alta em períodos mais longos reforça o cenário de "sinais mistos" que a atividade econômica tem emitido. "Vão se colhendo evidências de que a recuperação começa a ocorrer - mas sem perder de vista seu caráter gradual, moderado", diz relatório da consultoria. A tendência é que a recuperação ganhe mais força no segundo semestre. Para 2017, Banco Central e Fazenda trabalham com um crescimento de 0,5% do PIB.
Segundo Silva, do Modal, segmentos com maior peso no PIB, como serviços, devem demorar a reagir, em função da deterioração do mercado de trabalho. A tendência, de acordo com ele, é que a maior parte da recuperação da atividade ao longo de 2017 venha da indústria, "que parte de base muito baixa e tende a crescer, mesmo que pouco".
Já o corte dos juros, para o economista, demora "cinco ou seis trimestres" para ter efeitos mais concretos na atividade, deixando os efeitos positivos da queda da Selic para 2018. A estimativa do Modal é que o PIB crescerá 0,7% neste ano. (Colaborou Camilla Veras Mota)
Nenhum comentário:
Postar um comentário