- O Estado de S.Paulo
Candidatos testam chances e colhem votos que caem de PT, PSDB e PMDB
Ainda não chega ao fim do mundo e os cenários ainda estão muito obscuros, mas há uma novidade: os pré-candidatos estão saindo da toca para testar possibilidades e buscar apoios. Ou melhor, colher os apoios que estão despencando das árvores do PT e do PSDB.
As três principais variáveis da eleição de 2018 são: Lula terá condições ou não de concorrer? O PSDB será ou não obrigado a engolir um novo nome? O presidente Michel Temer sobreviverá com força ou não para apadrinhar uma candidatura?
Por partes. Lula corre contra o tempo, especialmente quando o juiz Sérgio Moro começa a definir os prazos para o julgamento do triplex. Sem Lula na disputa, o PT, o PC do B e os movimentos aliados não têm um só nome.
Por isso, Fernando Haddad conversou três horas com um potencial articulador de seu nome no Nordeste, região que, apesar de tudo, continua lulista e suscetível a votar num candidato patrocinado por ele. Aliás, Haddad não foi visto em Curitiba no dia do depoimento de Lula a Moro. Próximo o suficiente para herdar os votos, mas convenientemente longe para não se contaminar com a rejeição?
No PSDB, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria começam a corrigir o prumo: se convergiam até a vitória em primeiro turno em 2016, passam agora a traçar linhas paralelas para 2018. Na semana passada, por exemplo, Alckmin foi ao Espírito Santo aprofundar o convite para o governador Paulo Hartung trocar o PMDB pelo PSDB. Enquanto isso, Doria se aproxima mais e mais de Temer e de Brasília.
Se Temer fracassar no combate ao desemprego, será de pouca valia em 2018, como ele admitiu na entrevista de domingo ao Estado. Mas, se sobreviver ao julgamento do TSE, as reformas passarem, a economia aquecer (cresceu 1.1% no primeiro trimestre, depois de dois anos de queda no período), a inflação e os juros permanecerem baixos e os empregos derem o ar da graça, ele pode se tornar um cabo eleitoral e tanto.
São muitos “se”, mas Temer tem chance de influir em 2018 e será muito conveniente: se tiver juízo, não será candidato; e, se tiver força, não poderá transferi-la para ninguém do PMDB, pela constrangedora constatação de que não há ninguém com cacife no PMDB. Haverá, então, um cabo eleitoral forte e um partido forte em busca de um candidato.
Correndo por fora, Marina Silva, como a bela adormecida, acorda de um longo sono enquanto a crise econômica, política e da Lava Jato corria solta. E está conversando com os ex-ministros do Supremo Joaquim Barbosa e Ayres Britto, que conquistaram respeito e popularidade no julgamento do mensalão.
Ciro Gomes, do PDT, seu sétimo partido, mantém o estilo luta livre. À repórter Fernanda Odila, da BBC Brasil, atacou Doria, “o farsante”, Temer, que não se sabe “se chefia uma quadrilha ou um bando de patetas”, e Lula, “o grande responsável por este momento político trágico”. Ciro poderia ser vice de Lula, mas, se sonhava ser cabeça de chapa do PT, aparentemente está deixando de sonhar. Sem Lula e sem o PT, aonde quer chegar?
Para completar, Henrique Meirelles trocou os EUA e o BankBoston por Goiás com o objetivo de concorrer à Presidência. Elegeu-se parlamentar pelo PSDB, presidiu o Banco Central de Lula, não assumiu cargo com Dilma por incompatibilidade de gênios e virou ministro da Fazenda de Temer com o mesmo cálculo de José Serra, afinal deslocado para o Itamaraty: repetir FHC, eleito presidente com um empurrão da economia no governo Itamar.
Se Temer “der certo”, Meirelles pode tentar preencher o vazio de homens e ideias do PMDB, mas alguém imagina o ministro eletrizando as massas? Logo, todos eles se mexem, mas o terreno não é só escorregadio, mas perigosamente pantanoso.
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