- Folha de S. Paulo
Estudo da consultoria McKinsey estima que, até 2055, com margem de erro de 20 anos para mais ou para menos, 51% dos postos de trabalho no mundo deixarão de existir devido à automação. Devemos lamentar ou celebrar isso?
A questão não é nova e já ocupou a atenção de economistas do calibre de David Ricardo (1772-1823), Karl Marx (1818-1883) e John Maynard Keynes (1883-1946). Destes, apenas Ricardo via o problema com pessimismo. Para ele, o maquinário tornaria "a população redundante e deterioraria as condições do trabalhador".
Já Marx via na automação uma contradição fundamental do capitalismo. Nos "Grundrisse" ele diz que, quanto mais as máquinas evoluem, mais substituem trabalhadores. Só que, para Marx, o trabalho, mais especificamente a mais-valia que o capitalista extrai do trabalhador, é a fonte e a medida da riqueza. Isso significa que, ao promover a automação, o capitalismo golpeia a si mesmo. E o que acontece com o trabalhador? Quando toda a produção estiver a cargo de robôs, as pessoas terão mais tempo livre, o que é, ao mesmo tempo, causa e condição da emancipação do trabalho –sinônimo de libertação do homem.
Keynes segue numa linha próxima à de Marx. Num texto de 1930 intitulado "Possibilidades Econômicas para os Nossos Netos", ele afirma que dentro de cem anos (em 2030) as sociedades já produziriam o suficiente para satisfazer as necessidades básicas de todos. As pessoas não teriam de trabalhar mais do que poucas horas por semana e isso levaria a uma espécie de emancipação moral do homem: a acumulação de riquezas deixaria de ser percebida como importante e estaríamos livres para desfrutar a vida e retornar a uma ética que condena a avareza e a usura.
Até vislumbro a realização das previsões de Marx e Keynes no plano material, mas, por mais que procure, não vejo muitos sinais da tal da emancipação moral do homem.
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