- O Estado de S.Paulo
Após briga para ver quem era mais sujo, PT e PSDB tentam abraço de afogados
Em 2002, quando Lula ainda batalhava contra o estigma de eterno derrotado para chegar ao Planalto vencendo o PSDB, ficou famosa a dobradinha Lulécio, um arranjo informal em Minas para que eleitores sufragassem ao mesmo tempo o petista para a Presidência e Aécio Neves para o governo.
O fato é que o slogan colou, e o tucano José Serra foi derrotado em Minas, fenômeno que se repetiria quatro anos depois, com Geraldo Alckmin.
Desde a vitória de Lula, até as emas do Alvorada comentavam que, graças à política de boa vizinhança nas Alterosas, Aécio conseguira manter Dimas Toledo à frente de Furnas, estatal que é federal, mas cuja influência política local é imensa.
O fato foi explorado na época do mensalão, mas não teve consequências, surgiu na forma de insinuações na virulenta disputa entre Aécio e Dilma Rousseff em 2014 e foi ressuscitado e transformado em inquérito pela Lava Jato. Primeiro foi o doleiro Alberto Youssef a acusar Aécio de receber propina em Furnas pelas mãos de Dimas. Depois veio a delação de Delcídio Amaral, que declarou ter ouvido de Lula que Dimas deveria estar roubando muito, dada a quantidade de pessoas de diferentes grupos que pedira sua permanência.
Na semana que passou, a Polícia Federal recomendou o arquivamento do inquérito de Furnas por falta de provas contra Aécio.
Teve peso fundamental para livrar o tucano o depoimento de petistas como o próprio Lula e o ex-ministro e condenado na Lava Jato José Dirceu. Assim, está reeditada, 15 anos depois e com ambos investigados na Lava Jato, a dobradinha Lulécio.
Em um depoimento típico dele, Lula disse que não sabia de nada sobre a suposta investida de Aécio para manter o diretor de Furnas no cargo. Usando a mesma retórica com que se esquiva de tudo que lhe é imputado, o petista disse que, se alguém pediu por Dimas a algum ministro, ninguém lhe disse nada. Assim como fizeram Delúbio Soares no mensalão, ou dona Marisa na negociação do triplex.
Mas como é impossível até mesmo a um cara de pau como Lula negar a própria voz, há que se lembrar conversa sua com o senador Lindbergh Farias em março de 2016, interceptada em grampo autorizado pela Justiça, em que ele diz que, se Aécio não fosse implicado na delação da Andrade Gutierrez, seria sinal de “farsa”.
Afinal, qual Lula fala a verdade? O que demonstra ter conhecimento de coisas comprometedoras contra Aécio ou o que o inocenta?
O fato é que, depois de uma guerra de lama para tentar provar quem era mais sujo – que começou na campanha de 2014, prosseguiu com a guerra de ações na Justiça Eleitoral e chegou ao ápice com o impeachment –, PT e PSDB resolveram, em conjunto com o PMDB, dar um abraço de afogados para evitar que a Lava Jato extermine a todos.
Basta ver que, além dos testemunhos benevolentes dados por pessoas outrora empunhadas em destruir os tucanos, como Lula e Dirceu, reina um silêncio eloquente da sempre estridente turma do PT no Senado desde que Aécio voltou à Casa.
Mais: a carga feita contra duas delações em particular, a de Delcídio e a de Sérgio Machado, resolve com uma só cajadada acusações contra petistas, tucanos e peemedebistas, Lula, Aécio e Michel Temer à frente.
Para que funcione a concertação Lulécio 2018, é fundamental o novo “recall” de delações preparado pela equipe da futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que tem as duas delações-chave na mira.
Mitigado o peso das delações e arrumadas as condições para garantir o financiamento das campanhas no ano que vem, o triunvirato partidário que se reveza no mando da política brasileira desde a redemocratização espera conseguir não ser extirpado do mapa nas eleições. De mãos dadas.
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