quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Fábio Alves: As viúvas do mercado

- O Estado de S.Paulo

O temor é de que Alckmin não consiga se viabilizar como um candidato competitivo

Chile e África do Sul dão início neste mês a um dos ciclos eleitorais mais pesados para os países emergentes em pelo menos uma década, mas os investidores estrangeiros colocam as eleições presidenciais do Brasil e do México como as que apresentam os maiores riscos de causar nervosismo nos mercados e bastante volatilidade aos preços dos ativos.

A partir do próximo dia 17, com o segundo turno das eleições no Chile, pelo menos oito países emergentes têm pleitos presidenciais marcados até o fim de 2018.

E basta ver o dia seguinte ao resultado do primeiro turno no Chile, quando o candidato conservador e com uma plataforma favorável ao mercado – o ex-presidente Sebastian Piñera – foi ao segundo turno com uma margem bem menor do que o esperado sobre o rival de centro-esquerda, Alejandro Guillier: o principal índice da bolsa de valores chilena caiu 5,86%, a maior queda em seis anos.

As últimas pesquisas de intenção de voto apontam para uma disputa muito acirrada no segundo turno chileno.

A África do Sul, cuja economia sofre de profunda anemia e a moeda vem se desvalorizando fortemente frente ao dólar, vai escolher a partir do dia 16 o novo presidente do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), partido que controla o país e está acuado por acusações de corrupção de seu atual líder, Jacob Zuma.

No final de novembro, a S&P Global rebaixou a nota de classificação de risco soberano da África do Sul de BB+ para BB. A Moody’s colocou o rating sul-africano em revisão para possível rebaixamento. Se a eleição do novo líder do ANC desagradar ao mercado e deflagrar desvalorização da moeda do país e fuga de investidores, novos rebaixamentos de rating podem acontecer.

“As eleições de 2018 nos mercados emergentes vão definitivamente concentrar a atenção dos mercados, com o Brasil e o México provavelmente no topo da lista de preocupações dos investidores”, disse a esta coluna Simon Quijano-Evans, estrategista para mercados emergentes do fundo Legal & General Investment Management.

No México, está mais claro quem será o candidato de centro-direita e, portanto, favorito do mercado: José Antonio Meade, que acabou de deixar o cargo de ministro das Finanças para se tornar o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI). Mesmo Meade tendo agradado aos investidores, o nome mais forte nas pesquisas para o pleito em 2018 vem da esquerda: Andrés Manuel López Obrador, do Movimento Regeneração Nacional.

No Brasil, contudo, os investidores ainda estão se sentindo “viúvos” de um candidato que represente o centro e que tenha um viés reformista, segundo relato de um estrategista de renda variável após uma semana de contatos com investidores estrangeiros.

O temor deles é de que, apesar do seu avanço nos últimos dias como provável candidato do PSDB, o governador paulista, Geraldo Alckmin, não consiga se viabilizar como um candidato competitivo para chegar ao segundo turno. O desempenho de Alckmin nas eleições de 2006 é frequentemente citado nas conversas.

O sentimento do mercado é de que os nomes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do deputado Jair Bolsonaro (PSC) estão cada vez mais fortes entre os eleitores.

Em nota a clientes, os analistas do banco inglês Barclays alertaram que, em meio às negociações para o apoio dos tucanos à reforma da Previdência, uma ruptura entre o PSDB e o PMDB, do presidente Michel Temer, “pode diminuir as aspirações de Alckmin”. E esse não o único risco alertado pelos analistas do Barclays. “Se Lula for impedido de se candidatar, em razão das investigações envolvendo seu nome, a corrida presidencial ficaria mais apertada entre Bolsonaro e Marina Silva”, escreveram.

Ao comentar o ciclo eleitoral, os analistas da agência de rating S&P Global disseram que os resultados das eleições podem ser adversos ao sentimento dos investidores, especialmente se os vencedores não apoiarem a promoção de reformas importantes. “No caso do Brasil, tais reformas são cruciais para atacar os seus desafios fiscais e dívida crescente”, afirmaram.

Se no Brasil o mercado está cheio de “viúvas” para a corrida presidencial, no Chile, México e África do Sul os noivos estão longe de agradar.

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