quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Luiz Carlos Azedo: A última carga

- Correio Braziliense

O governo prepara uma espécie de última carga para aprovar a reforma da Previdência na Câmara, para a qual precisa mobilizar uma tropa de 308 deputados dispostos a endossar o relatório do deputado Arthur Maia (PPS-BA), relator do projeto. Ontem, o presidente Michel Temer subiu o tom do discurso a favor da reforma, durante encontro com o presidente da Bolívia, Evo Morales, no palácio do Itamaraty, em Brasília: “O ponto central da reforma é estabelecer a idade mínima de aposentadoria de 65 para homens e 62 para mulheres. Muitas vezes, divulgações equivocadas falam que a mudança é para amanhã. Mas 65 anos é para daqui a 20 anos. De vez em quando espalham: ‘olha, vão tomar a sua aposentadoria’. É um terrorismo inadequado”.

Há um ano a reforma está parada na Câmara, entre idas e vindas. O cenário é confuso porque o governo viu a base parlamentar encolher para 240 votos na rejeição da segunda denúncia do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra o presidente Temer, num universo de 513 deputados. Na semana passada, o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia, estava pessimista quanto à aprovação. Agora, depois das reuniões de Temer com os líderes da base, já acredita na possibilidade de votar a reforma na próxima semana. Uma das medidas tomadas foi fechar questão na bancada do PMDB, o que pode se reproduzir em outros partidos.

Maia acredita que daria tempo para aprovar a reforma até dezembro, mas o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), já descartou concluir o processo ainda este ano. “Eu não sei nem se a Câmara vai votar ou não vai votar. Então, eu não posso pautar uma matéria que não existe aqui, não chegou ao Senado”, completou. Por mais ligeiro que a reforma ande na Câmara, terá que passar por comissões e duas votações em plenário para ser aprovada pelos senadores.

Espadas e lanças
Para um governo que ficou um ano paralisado quanto à reforma, a operação em curso no Palácio do Planalto se assemelha a uma carga de cavalaria que pode ter se tornado obsoleta diante do exército de corporações poderosas que se articularam contra a reforma. Segundo o relatório de Gestão Fiscal de 2016 (SIGPREC-IPEM-IBGE), as discrepâncias entre os valores médios das aposentadorias são enormes: INSS (R$ 1.450), municípios (R$ 5.282), estados (R$ 5.896), Executivo federal civil (R$ 7.716), Executivo federal militar (R$ 9.616), Ministério Público Federal (R$ 19.128), Judiciário federal (R$ 22.336), Legislativo federal (R$ 28.882). Mexer com isso não é simples, essas corporações se concentram em Brasília e têm enorme poder de barganha na estrutura do Estado.

A propósito, a última grande carga de cavalaria do Exército Brasileiro foi realizada pela 4ª Brigada de Cavalaria no fim da Guerra do Paraguai (1865-1870), durante a “Campanha das Cordilheiras”, na batalha de Campo Grande (Nhú – Guazú como a chamam os paraguaios), em 16 de agosto de 1869. O Exército paraguaio deixou no campo de batalha cerca 2 mil mortos, 1,5 mil feridos, 100 extraviados, 23 canhões e seis bandeiras.

Na história militar moderna, porém, nada se compara à fama da cavalaria polonesa. Na madrugada de 1 º de setembro de 1939, o coronel Kazimierz Mastelarz, comandante do 18º Regimento da Brigada de Cavalaria Pomorska, avistou um batalhão de infantaria alemã exposto na floresta perto da aldeia polonesa de Krojanty. Ele rapidamente reuniu seus soldados para uma carga de sabre e caiu sobre o inimigo desprevenido. No entanto, a vitória teve uma curta duração. Antes de os poloneses poderem se reorganizar, uma coluna de tanques alemães e tropas motorizadas apareceu também de surpresa e desencadeou um ataque devastador. Cerca de 20 soldados, incluindo o próprio coronel, foram mortos antes que os poloneses pudessem se retirar. No dia seguinte, correspondentes de guerra italianos disseram que os poloneses carregaram contra os tanques alemães com suas espadas e lanças. Surgiu ali um dos grandes mitos da Segunda Guerra Mundial.

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